Última alteração: 2022-06-21
Resumo
A internet é concebida como um espaço público, de liberdade e contra poder, de acordo com Castells (2013) também é um espaço de construção identitária, de interação de fluxos e reivindicação de valores e interesses. Dentro das plataformas há distinção de linguagem e formatos, promovendo alcance e impacto distintos. Jenkins (2008) traz a relação de três conceitos que são: convergência dos meios de comunicação, cultura participativa e inteligência coletiva.
No mundo da convergência das mídias, tudo o que é circulado tem importância e é contado em diferentes vieses, a ideia do receptor passivo torna-se retrógrado, visto que todos acabam produzindo um sentido e interagindo. O consumo de informações é coletivo e seus consumidores fazem conexões e interpretações, este fator envolve o comportamento social como indivíduo e dentro da sociedade, incluindo seu grupo, posicionamento, status e papel social.
Integrando-nos a estes conceitos, nos atemos no poder de persuasão através da construção e circulação de uma mensagem dentro das redes, que interpelam debates e atingem meios externos no domínio da vida política “[...] onde estão as práticas, as habilitações, os valores, a cultura e as ações da política que eventual e parcialmente se tornam objeto da narração mediática.” (GOMES, 2004, P. 02).
Dentro das mudanças que se sucederam na comunicação política e em seu real propósito num espetáculo que visa atender espectadores que buscam disputas e entretenimento em vez de propostas e soluções consistentes, a despolitização se tornou praxe durante o pleito eleitoral e até mesmo na educação da sociedade, por trás da cortina de fumaça os propósitos são os mesmos: a construção de um inimigo dentro da sociedade desconsiderando os verdadeiros antagonismos sociais.
A sensação de “terra de ninguém” que as redes sociais trazem é danosa, discursos de ódio biopolítico são direcionados às pessoas e comunidades. Os processos de desinformação implodiram nos meios de comunicação digital, vimos como a autorreprodução de notícias falsas, tendenciosas e descontextualizadas podem interferir politicamente, em 2018 “O engajamento das fake news sobre presidenciáveis brasileiros foi até três vezes maior do que o engajamento em conteúdos de veículos de comunicação tradicionais [...]” (FERREIRA, 2018, P. 20) e, até mesmo na saúde de uma população, visto o cenário de pandemia de covid-19, onde os indivíduos se fragmentaram em suas convicções entre ciência ou religião.
Diante de uma crise de legitimidade política, falta de esperança da população nos seus representantes políticos e da despolitização que já apareciam nos números de abstenções nas urnas, o que delimitará e transformará o cenário eleitoral das eleições de 2022? Para além de Bolsonaro e Donald Trump, não faltam líderes autoritários que se debruçam em teorias conspiratórias e infodemia [1], entretanto, “A democracia, em última análise, reside na capacidade de contrariar o poder do legado, riqueza e influência pessoal através do poder da multidão, o poder dos números [...]” (CASTELLS, 1999, P.483)
Com as consequências dos últimos 4 anos e beirando as eleições presidenciais de 2022, temos uma disputa acirrada entre os candidatos Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) e, nos últimos meses percebemos uma grande movimentação de atores sociais de grande engajamento convocando os jovens para tirarem o título de eleitor e participem das políticas públicas que moldarão seus futuros. Por ora a campanha foi certeira, com um aumento de 47,2% de títulos tirados em relação ao mesmo período em 2018 dentre jovens de 16 e 18 anos[2]. Artistas como Anitta, Djonga, Ludmilla, Pabblo Vittar, Leonardo Di Caprio entre outros, convocam publicamente o voto contra Bolsonaro. Neste contexto, a proposta desta pesquisa é analisar o discurso convocatório político presente na rede social Twitter dos artistas de maior engajamento, bem como a linguagem utilizada e sua efetividade nas eleições. Será delimitada uma linha temporal desde o período de campanha eleitoral até o fim das eleições. O resultado esperado é a constatação (ou não) do poder e impacto dos atores e influenciadores digitais e da linguagem jovial cibernética na política brasileira.
[1] Termo cunhado pela ONU para designar os discursos que negam a ciência.
[2] Dados oficiais do TSE. Disponível em: https://www.tse.jus.br/imprensa/noticias-tse/2022/Maio/tse-comemora-marca-historica-de-jovens-eleitores-nas-eleicoes-2022 Acesso em: 13 jun. 2022.
Palavras-chave: Redes sociais; Eleições 2022; Comunicação política; Atores sociais.
Referências
CASTELLS, M. O poder da comunicação. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1999.
CASTELLS, M. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
FERREIRA, R.P. Rede de mentiras: a propagação de fake News na pré-campanha presidencial brasileira. Observatorio (OBS*), v. 12, n. 5, 2018.
GOMES, W. Sobre a transformação política na era da comunicação de massa.