Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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O URBANISMO SOCIAL E A CONSTRUÇÃO DA CIDADE POPULAR: LIMIAR ENTRE AS PRÁTICAS EMANCIPATÓRIAS E AS POLÍTICAS URBANAS TRANSFORMADORAS
Patrícia Rodrigues Samora, Alberto León Gutierrez Tamayo, Jonathas Magalhães Pereira da Silva, Vera Tangari, Renata de Faria Rocha Furigo, Juan Diego Lopera Perez, Liliana Maria Sanchez Mazo, Gabriele Astier de Villatte Wheatley Okretic, Beatriz Helena Bueno Brandão, Laura Machado de Mello Bueno

Última alteração: 2020-08-19

Resumo


O termo “Urbanismo Social” como intervenção urbana surgiu em 2003 no programa de governo de Sergio Fajardo para concorrer à prefeitura de Medellín, Colômbia. Os projetos arquitetônicos e urbanísticos voltados aos assentamentos precários impactaram tanto o espaço urbano como a sociedade de Medellín e tornaram-se mundialmente conhecidos, mesmo sob tensões, disputas e contradições territoriais (MONTOYA, 2014). Alejandro Echeverri, chamado por Fajardo para dirigir a Empresa de Desenvolvimento Urbano (2004- 2007), afirmou que o principal resultado do “Urbanismo Social” foi ampliar o mapa mental da cidade em seus cidadãos (ECHEVERRI, 2017). O termo reconhece as periferias como parte da cidade, contudo, é contraditório ao se apoiar no marketing urbano e fomentar a atração turística em detrimento da ação social transformadora (BRAND, 2010; VELASQUEZ, 2013).

Na década de 1990 as favelas e loteamentos irregulares brasileiros também eram ausentes na maioria dos mapas oficiais. Foi um “avanço” ou “deslocamento da correlação de forças” o reconhecimento desta situação urbanística e social extremamente desigual, demandando. respostas como políticas públicas inclusivas. O reconhecimento desta situação acarreta diferentes posturas e interpretações sobre os processos que originam as desigualdades. O “urbanismo social” passa a ser objeto de disputas de diferentes visões de mundo ao ser apropriado por interesses diversos: econômico, social, político, cultural (BOURDIEU, 1996) e de direitos (MONTOYA, 2014). A fação governamental em Medellín deixou marcas inequívocas no espaço urbano, transformando de fato sua qualidade urbanística, sem ampliar o acesso à cidade (nos termos de Lefebvre), já que seus moradores nem sempre tornam-se cidadãos (SANTOS, 1998) mais engajados politicamente ou com maior autonomia (SOUZA, 2001).

Em todas as cidades latino-americanas, o processo que torna o solo urbano e integrado ao mercado fundiário é excludente. Um grande contingente populacional tem acesso às porções de terra menos aptas à ocupação urbana. É neste território complexo que se desvela a construção da “cidade popular”: autoconstruída, do espaço individual até as precárias infraestruturas primeiramente instaladas. O diálogo entre o poder público e os moradores nem sempre é pacífico, mas antes conflituoso, variando entre a tolerância e oportunismo de funcionários públicos, até ações mais violentas de remoção e expulsão. Esta zona cinzenta, de territórios quase urbanos (de fato, mas não de direito) é fértil para o desenvolvimento de grupos e organizações de base reivindicatórios, que ampliam o “capital político” de seus participantes (HOLSTON, 2009). Então, o que nasce como uma disputa pelo direito ao lugar ou a necessidades vitais como moradia e saneamento, torna-se um caminho emancipatório e de transformação individual (FURIGO et al, 2020). Assim como a Reforma Urbana no Brasil, tais reivindicações são base para a formulação de políticas públicas de urbanização e legalização destes territórios (CALDEIRA, 2016; ANTONUCCI et al., 2017).

A partir do tema da “limiaridade”, a presente sessão discutirá o paradoxo entre as ações de base e as governamentais; as contradições entre o processo de construção e defesa da cidade popular e os projetos urbanos para áreas precárias. Enquanto as primeiras empoderam e emancipam seus participantes, as ações governamentais, mesmo impulsionadas por lutas urbanas prévias, acabam não raro dificultando a permanência de muitos pobres nestas localizações, que se valorizam. Os deslocados constroem novas periferias, num contínuo que mantém na pobreza parcelas consideráveis da população urbana. Os alcances, tensões, contradições e limites das políticas públicas habitacionais tradicionais, no que tange à moradia digna, o espaço público e o acesso à cidadania, são temas desta sessão. E as ações, lutas e propostas de inclusão, resistência, defesa do território e dos direitos, especialmente aquelas protagonizadas pela população e suas organizações, muitas vezes criativas e radicais, mas também atacadas e criminalizadas, serão objeto de debate.

A sessão é fruto de uma parceria entre os grupos de pesquisa: “Políticas Territoriais e a Água no Meio Urbano”, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas – Brasil, e “Medio Ambiente y Sociedad”, da Universidade de Antioquia – Colômbia. Inclui a participação de docentes e pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Centro Universitário INTA, das Faculdades Integradas Maria Imaculada e da prefeitura de Medellín – Colômbia.


Palavras-chave


Ativismo urbano; Projetos Urbanos; Políticas Públicas Urbanas

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