Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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Relação teoria x prática PROJETUAL no ensino da conservação do patrimônio cultural
Flaviana Barreto Lira, Ana Elisabete Medeiros, Oscar Luís Ferreira, Natália Miranda Vieira-de-Araújo, José Clewton Nascimento, Eunádia Silva Cavalcante, Ana Paula Farah

Última alteração: 2020-08-19

Resumo


O conjunto de reflexões teóricas e filosóficas, aqui denominadoteoria da conservação, que fundamenta e deve orientar as ações projetuais e de gestão em bens de interesse cultural é amplo, complexoe commuitospontos não consensuais. Na atualidade,observa-se, inclusive, certa tendência a posições excessivamente polarizadas, que pouco corroboram o avanço e o refinamento da teoria e seu rebatimento nas ações da conservação. Nesse sentido, a discussão ora propostaperpassao debateacerca de alguns dosimpasses teóricos e metodológicos colocados na contemporaneidade em face de uma noção de patrimônio cada vez mais alargada e complexa e que demanda da teoria orientações claras para a tomadade decisões tanto nas ações de gestão quanto no exercício projetual.

Nesse sentido, esta sessão de comunicação se propõe a debater distintas abordagens metodológicas adotadas no ensino da conservação do patrimônio cultural, na graduação e na pós-graduação, em diferentes universidades brasileiras. O objetivo é identificar práticas exitosas, desafios não superados e temas emergentes referentes ao ensino do projetoe sobre o projeto.

Para realizar este debate de modo a contemplar parte dadiversidade de olhares e de abordagenspraticados no Brasil, o conjunto de comunicações quecompõe esta proposta de sessãotraz relatos docentes das regiões nordeste (UFPE e UFRN), sudeste (PUC Campinas) e centro-oeste (UnB), brevemente sintetizadas nos parágrafos seguintes.

A primeira comunicação, cuja autora é Ana Paula Farah, trata da experiência da disciplina de PROJETO F ministrada durante o 5º e o 6º semestres da graduação da FAU-PUC-Campinas. De acordo com a autora, a disciplina tem como desafio um projeto na escala arquitetônica, a partir de uma visão integrada com o entorno, por meio do qual os alunos irão refletir sobre o construir no construído, ou ainda, como projetar garantindo o equilíbrio entre o antigo e o novo. A partir da fundamentação teórica do campo do restauro, de acordo com Farah, são apresenta distintas posturas adotadas nos tratos dos bens culturais, especialmente aquelas identificadas na Itália dos anos de 1990, apontando-se, todavia, para o que hoje parece ser o caminho mais consensual,“a valorização da matéria e/ou a valorização do texto arquitetônico formulado caso a caso”.

Em seguida, Flaviana Lira e Oscar Ferreira apresentam a abordagem metodológica adotada na disciplina de PROAU, componente do 8º semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo da UnB. Aquia relação antigo versusnovo nas escalas arquitetônica e urbana também é o mote. A noção de valor e, vinculada a esta, a de significância cultural é debatida e operacionalizada por meio de um processo de valoração coletivo do bem que será objeto de intervenção realizado em sala de aula. Importa explicar que a disciplina propõe aos alunos uma compreensão integrada entre significância cultural, integridade e autenticidade, pois entender os valores atribuídos e como eles se conectam aos atributos patrimoniais orientam como se deve agir para se restituir as condições de integridade afetando o mínimo possível a autenticidade do bem. Assim, a “compreensão dos principais aspectos teóricos e metodológicos da teoria do restauro” e seu rebatimento na prática projetual, por meio de um conjunto de exercícios, tem possibilitado a construção de intervenções conscientes e críticas por parte dos alunos.

A terceira comunicação, de autoria de José Clewton Nascimento e Eunádia Cavalcante, apresenta uma experiência de integração entre disciplinas da graduação (Curso de Arquitetura e Urbanismo) e da pós-graduação (PPGAU/ UFRN) por meio dos componentes curriculares optativos. Os trabalhos são orientados pela compreensão e pela experiência do lugar a partir da sua observação e representação por meio de técnicas de desenho e de colagem, que podem conduzir a um argumento projetual. Discute-se de forma articulada a conformação da cidade colonial e do barroco brasileiro, relacionado tais aspectos históricos à temática da conservação de áreas de valor patrimonial. São dois os produtos esperados: um painel-síntese de produção coletiva a partir das vivências em campo, no qual “devem ser estabelecidos nexos entre as narrativas construídas por cada um”; e um painel-síntese “com as propostas (no nível de ideias), norteadas pelos nexos estabelecidos pela experiência da visita de campo”.

A comunicação de Natália Vieira-de-Araújo apresenta a proposta pedagógica de integração curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPE, com o foco no 4º ano, ou 7º e 8º semestres, no chamado “ano da Conservação”. A autora apresenta a estrutura curricular de forma detalhada, explicitando como, progressivamente, os alunos vão sendo dotados nas disciplinas de método, teoria e tecnologia dos referenciais necessários para se intervir em áreas de interesse cultural. A área de intervenção é a mesma para todas as disciplinas e as camadas de diferentes reflexões e conteúdos vão de juntando num processo didático integrador. No 7º semestre as reflexões se centram na escala urbana e no 8º semestre os alunos têm a oportunidade de entrar para a escala da arquitetura na área em que já vem trabalhando. De acordo com a autora, os projetos “realizados pelos alunos ao longo desses semestres demonstram a importância da reflexão teórica para as tomadas de decisões [...], na medida em que, percebe-se a incorporação dos conceitos trabalhados e a tentativa de aplicação prática destes nas propostas apresentadas”.

A última comunicação desta sessão, de autoria de Ana Elisabete Medeiros, é a única a se centrar exclusivamente na pós-graduação. “Pensar e Agir sobre o Patrimônio moderno” é uma disciplina ofertada no PPG-FAU/UnB, que “propõe conhecer, refletir e discutir, criticamente, antecedentes, conceitos, especificidades, desafios, dimensões e relações entre prática e teoria da preservação da arquitetura e urbanismo modernos”. Aqui o foco não é o fazerprojeto, mas o pensar projeto, e a discussão ocorre a partir de temas emergentes como a imaterialidade da matéria, a agenda verde, o morar moderno e outras abordagens como o “pensar fora da caixa”, aqui entendida como “uma crítica temporal da prática preservacionista, defendendo a ideia de que “pensar o tempo” tem sido uma atitude ausente das suas narrativas”.

A partir desse conjunto de comunicações, o que se pode observar é que o fio condutor da teoria da conservação perpassa e orienta todas as experiências de ensino que compõe esta comunicação. As particularidades teóricas e de método do projeto de conservação demandam a consolidação de uma base mínima junto aos discentes na graduação, a qual deve ser retomada e aprofundada no âmbito da pós. Por fim, outro aspecto comum às experiências no âmbito da graduação é que o desafio projetual está basicamente centrado na relação antigo versusnovo tanto na escala da arquitetura quanto na do urbanismo.


Palavras-chave


Ensino; Conservação: Patrimônio; Teoria e Prática projeta

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