A evolução da cidade do Rio de Janeiro foi pontuada por influências e impactos que se refletem em sua história oficial. A transferência da capital para Brasília e a construção do metrô, na década de 70, no bairro do Catete, são casos de esvaziamento econômico e intervenção urbana que marcaram de forma significativa a memória coletiva todo o bairro. A atual configuração da Rua do Catete, a via arterial que atravessa muitos bairros centrais do RJ, é o resultado da combinação de trechos preservados com edifícios construídos nos terrenos remanescentes das demolições, e persistência de vazios urbanos. Diante isso, o objetivo deste trabalho é analisar as mudanças de cenário na Rua do Catete a partir da coleção de narrativas memoriais de seus usuários. Através de imersão em campo, por derivas onde o pesquisador se insere integralmente (ambulante e questionador), e por meio de ‘relatos desenhados’, o viés etnográfico dessa pesquisa permitiu compreender o afastamento cotidiano dos marcos traçados pelos grandes eventos locais e a aproximação de cenários cheios de diversidade e outras estórias. O uso do desenho etnográfico como ferramenta interpretativa possibilitou perceber o espaço através dos detalhes que se materializam pelo tempo de desenho, pelas narrativas ofertadas e pelo valor da memória traçada como ‘representação’ espacial, possibilitando perceber outros ‘territórios’, além daqueles demarcados pela história.