Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

Tamanho da fonte: 
COLABORAÇÕES EM REDE NO MUNDO “POR PROJETOS”: PERSPECTIVAS A PARTIR DA ACADEMIA, DO URBANISMO E DA GESTÃO URBANA
Leandro de Sousa Cruz, Elane Ribeiro Peixoto, Alan Spencer Mabin, Ana Fernandes, Denise Sales Vieira

Última alteração: 2020-08-19

Resumo


Discursos em diferentes campos apontam para uma organização das atividades sociais sendo conduzidas em função de projetos – até mesmo nossa experiência humana, no nível mais subjetivo, é por eles conduzida, o que se confirma na conhecida expressão “projeto de vida”. Não diríamos que esta seja uma condição inédita na trajetória de nossa espécie, todavia, a natureza atual da ideia de projeto é que nos parece peculiar. Esta condição foi analisada em minúcia por Luc Boltanski e Ève Chiapello, que caracterizaram um novo regime de justificação – a Cité por Projetos – que estaria incorporado à cultura geral no “Novo Espírito do Capitalismo”, onde a capacidade de criação e de inserção em projetos serve de referência para medir a leitimidade moral dos indivíduos. A primeira singularidade que marcamos é a relação que as atividades e os atores envolvidos neste mundo regido “por projetos” estabelecem entre si e entre os lugares onde atuam. A palavra instabilidade poderia traduzir, com alguma precisão, o que percebemos dessa relação, pois os projetos são aqui entendidos como oportunidades para o estabelecimento de vínculos entre pessoas, instituições e lugares com um objetivo comum.

Essas articulações instáveis, por característica, organizam-se em redes fluidas capazes de absorver novos atores e articulações, numa extensão ilimitada. A dinâmica das redes requer uma constante criação de projetos que justificam sua própria existência e manutenção e, por isso, o lugar, enquanto sedimentação de tempo, cultura e vida, perde profundidade. Embora esta lógica permeie atualmente a produção do conhecimento e de sua circulação, das artes, do trabalho e dos mais recônditos aspectos da vida coletiva e individual, ela não é única em nossa experiência de humanos do século XXI. A ela se opõem resistências geradas em seu próprio interior, na medida em que possibilitam pensar outra qualidade de projeto, no quel  o lugar é seu centro de atração. Ao se inverter a importância do lugar no mundo dos projetos, é possível, talvez, dar um passo decisivo na superação de sua fragilidade, atribuindo espessura e profundidade ao resultado que uma diversidade de atores, instituições, aportes de conhecimento e recursos podem possibilitar.

Com a organização desta Sessão Livre, busca-se expandir o debate apresentado por Boltanski e Chiapello – que, ademais, já vem respaldando outras autoras e autores – para problematizar a produção sobre a cidade e o território, buscando entender os limites e os horizontes  da ação coletiva. Inúmeros são os desafios colocados, a exemplo da constatação de fortes assimetrias que podem ser mantidas ou mesmo aprofundadas neste no mundo conduzido por projetos e seu regime de justificação. Não devem ser desconsideradas, no entanto, a possibilidade de identificar formas de colaboração em que o estímulo à competição, a busca por protagonismo e o empreendedorismo individual, elementos constrangedores da transformação social, ganhem menos relevância do que outras manifestações do trabalho em rede, que pressupõe o fortalecimento dos laços de solidariedade, por experiências de coprodução intelectual e pela criação de novos repertórios de ação coletiva.

O primeiro trabalho desta sessão dedica-se ao estudos sobre as colaborações acadêmicas entre três universidades estrangeiras – Harvard University, Columbia University e University College London – e instituições no Brasil, como parte de um processo mais amplo onde se tem, de um lado, a expansão da educação superior em um sistema transnacional e, de outro, a formação em Urbanismo e Planejamento, nas váras escalas territoriais, que impõe, atualmente, a necessidade de aquisição de  habilidades para uma atuação global. Evidencia-se um novo ethos da vida acadêmica, cujo ritmo é dado pelo tempo do mercado, impedindo maiores investimentos críticos e a construção de redes de solidariedade mais sólidas, sem perder de vista a possiibilidade de estabeler contracondutas neste mesmo cenário.

O segundo trabaho combina a experiência docente de seu autor na África do Sul, com uma visão ampla sobre a formação de redes em escala tranasnacional. Visa a questionar  o papel e os limites da universidade como agente promotor de desenvolvimento urbano, bem como promover uma reflexão sobre redes de cidades capitais – Pequim, Nova Déli, Paris, Pretória – e experiências recentes no campo do Planejamento Urbano. A sequência de cidades citadas testemunha a escala de conexões e reverbera nas trocas possibilitadas.

Em seguida, a terceira exposição trata da relação contemporânea cité-cidade-urbanismo por projetos que a autora se propõe a problematizar, através da conjugação de modos de fazer o espaço urbano envolvendo universo de direitos, existências e horizontes conflitivos e contraditórios e ações e empreendimentos diversos. Urbanismo de extração de recursos e urbanismo de criação e conservação de recursos são os motes através dos quais se busca desenvolver a questão.

O último trabalho da sessão oferece uma perspectiva mais aproximada de atuação na esfera local, sem perder de vista os elos multiescalares que se vão formando no curso da ação social. O curta “Um portão aberto para Ceilândia” apresenta os resultados de atividades de pesquisa interdisciplinar desenvolvida  por  pesquisadores da Universidade de Brasília, do Departamento de Antropologia e da Faculdade de Arquitetura, duas escolas públicas do Distrito Federal, uma em Ceilândia e outra no Plano Piloto. As atividades nas escolas levaram ao reconhecimento das redes que atravessam o cotidiano dos estudantes em diferentes escalas, do mais local à esfera metropolitana, abrindo espaço para seu reconhecimento e a capacidade de ação e comunicação com o global.

Palavras-chave


Formação em Arquitetura e Urbanismo; Urbanismo Contemporâneo; Gestão Urbana

Um cadastro no sistema é obrigatório para visualizar os documentos. Clique aqui para criar um cadastro.