Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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LUGAR, CORPO E EXPERIÊNCIA NA ARQUITETURA CONTEMPORÂNEA
Fernando Diniz Moreira

Última alteração: 2020-08-28

Resumo


A produção arquitetônica contemporânea tem, em grande parte, privilegiado uma imagem que procura persuadir imediatamente o usuário, pouco contribuindo para a apreciação da arquitetura como um fato cultural (PALLASMAA, 1998). Além dos aspectos funcionais e técnicos, a arquitetura também deve atender aos aspectos existenciais e humanos. (PALLASMAA, 2011, p.11, 25). Este entendimento do espaço da arquitetura enfatiza a importância dos aspectos intangíveis do espaço, aqueles impalpáveis, que exercem uma função fundamental na maneira como o homem se sente e se relaciona com os espaços em que se vive.

As pesquisas aqui apresentadas partiram de uma abordagem fenomenológica, particularmente informada por autores que tem trabalhando mais recentemente com as questões acima na arquitetura, como Juhani Pallasmaa, Alberto Pérez-Gómez, Mohammed-Reza Shirazi e David Leatherbarrow. A fenomenologia na arquitetura tem se renovado como uma forma de compreender a arquitetura e suas relações, assim como nortear a prática de alguns arquitetos, como Steven Holl, Peter Zumthor, Williams & Tsien entre outros. Estes arquitetos têm buscado criar espaços a partir da experiência corporal, de modo a tomar as decisões arquitetônicas, formais, materiais e de qualidades de luz, levando em conta seu potencial de promover experiências multissensoriais e enraizadas em culturais e existenciais. Essa compreensão do espaço da arquitetura, portanto, enfatiza a importância dos aspectos intangíveis do espaço, que desempenham um papel fundamental na maneira como o homem se sente e se relaciona com os espaços. Se o homem é essencialmente um ser espacial, como alegam Heidegger e Merleau-Ponty, a experiência corporal se apresenta como uma maneira de conhecer e atribuir significados ou valores às coisas do mundo.

Os trabalhos aqui apresentados partem da premissa de que a arquitetura só pode ser vivenciada, sentida e compreendida por meio da experiência corporal, visto que existem aspectos materiais de um edifício impossíveis de serem compreendidos apenas por meio de fotografias, plantas e demais desenhos técnicos. A motivação para este simpósio adveio da necessidade de reunir pesquisadores que estejam buscando fortalecer, no ensino e na crítica de arquitetura, interpretações que superem explicações deterministas, superficiais ou críticas de arquitetura. Busca-se contribuir para uma interpretação que adentre mais a fundo na experiência arquitetônica ao atentar aos aspectos intangíveis da arquitetura e sugerir uma maneira de compreender os significados e lidar com os espaços, a luz e os materiais na arquitetura, utilizando-se da experiência como fonte de conhecimento. Como a arquitetura pode atender aos aspectos existenciais e humanos, explorando a experimentação pelo corpo explorando outros sentidos, além da visão? Como a arquitetura pode reforçar nossa sensação de realidade e identidade pessoal, de fazermos partes deste mundo? Como fazer edifícios significativos se suas partes já existem antes mesmo de seu projeto ser pensado? Como arquitetura pode acomodar e integrar diferenças? Como resolver o conflito entre tecnologia e lugar?

Este simpósio é composto por quatro trabalhos. Fabiola Zonno e Ethel Pinheiro oferecem uma discussão sobre o conceito de atmosferas, constante em autores como Gernot Böhme, Juhani Pallasmaa e Alberto Pérez-Gómez  com o intuito de reforçar a valorização do “vivido”, no sentido tanto fenomenológico da experiência corporificada, como da produção do espaço social, na medida em que conceito de “atmosfera”, parece ser capaz de reunir as dimensões estética e ética e, assim, contribuir para os campos da teoria e da crítica das obras artísticas e arquitetônicas, como as de Olafur Eliasson e Peter Zumthor. Fernando Diniz Moreira oferece uma reflexão crítica sobre o conceito de topografia como exposto por David Leatherbarrow utilizando como objeto de estudo a forma como a dupla de dupla de arquitetos Williams & Tsien exploram o potencial interpretativo do sítio em três de seus museus em cidades e contextos diversos. Por sua vez, Rafael Brandão Melo analisa como a manipulação da topografia, dos materiais e da luz é capaz de gerar um suporte espacial e simbólico para a experiência religiosa na arquitetura contemporânea por meio da experienciação fenomenológica de duas capelas do arquiteto chileno Cristián Undurraga. Por fim, Tania Calovi Pereira aborda a desmaterialização do objeto arquitetônico pela maneira como a luz é manipulada sobre o vidro, por meio de um olhar mais atento sobre duas obras de Jean Nouvel. Ela traça paralelos entre o a arquitetura de Mies van der Rohe e as estratégias de enquadramento e luz desenvolvidas pelo arquiteto francês.


Palavras-chave


arquitetura contemporânea; fenomenologia; experiência; corpo; cidade; materiais

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