Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

Tamanho da fonte: 
ARQUITETURA, MEMÓRIA, ETNOGRAFIA: AMPLIANDO HORIZONTES
Cybelle Salvador Miranda, Dinah Reiko Tutyia

Última alteração: 2020-08-19

Resumo


A Arquitetura enquanto ciência transdisciplinar demanda a ampliação de horizontes e adaptação de métodos advindos das ciências humanas para que os anseios dos usuários sejam conhecidos e traduzidos, em especial quando nos reportamos às arquiteturas do passado. Lidar com o papel do patrimônio edificado, dos lugares da memória, das paisagens que revelam muitas vezes fragmentos dispersos e descontextualizados é um desafio constante para o profissional da Arquitetura. As complexidades da gestão patrimonial em um país multicultural revelam-se nas demandas mais prementes da vida cotidiana, as quais fazem da preservação do passado e da memória itens ‘de luxo’ para a ampla maioria da população. O trato com a Arquitetura antiga é guiado pelos conceitos de elites emergentes que desprezam as heranças anteriores que precisam a todo custo ser suplantadas e revela os impasses desta missão ‘heroica’ a que se propõem os segmentos da sociedade empenhados na salvaguarda do que se considera como patrimônio, cuja definição está em constante mudança.  Diante desta premissa, urge pensar a duração como um fenômeno dialético em que a preservação e o apagamento são faces da dinâmica das cidades, dinâmica esta que, na contemporaneidade, torna-se mais aguda à medida que nos defrontamos com a cultura digital que impacta na produção do ambiente construído. Diante dos desafios postos para a definição e redefinição dos bens patrimoniais em sua relação com a sociedade, o papel do pesquisador é estratégico, ampliando o horizonte interpretativo e projetivo do profissional e funcionando como produtor de dados confiáveis para subsidiar ações efetivas dos poderes públicos bem como das organizações não governamentais.Desde 2009, quando foi criado o Laboratório de Memória e Patrimônio Cultural (LAMEMO), no organograma da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPA, foram sendo desenvolvidas pesquisas em três linhas: Memória e Patrimônio Cultural, Estética da Arquitetura e Arquitetura Assistencial e Saúde. Em 2010, estas pesquisas ganharam maior densidade com a criação do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU-UFPA), sendo os temas das dissertações contribuições relevantes para pensar a memória, a construção do conceito de patrimônio e a atribuição de valores, tendo a etnografia como método em constante adaptação para auxiliar nas respostas às problemáticas locais. Delas temos alguns representantes nesta sessão, que propõem diálogos entre memória, centros históricos, etnografia, tradição construtiva e os edifícios da saúde relegados ao esquecimento.O texto “Cidade Velha, Belém do Pará: a experiência do outro na paisagem patrimonial” traz considerações acerca de critérios de intervenção em estruturas urbanas consolidadas no Centro Histórico de Belém, a partir da atribuição de valor, realizada por um grupo de alunos, aos imóveis localizados em uma rua do bairro da Cidade Velha, em Belém do Pará. Na comunicação “Pioneirismo e particularidades na proteção do patrimônio cultural edificado de Curitiba” as autoras discorrem sobre as ações do poder público de Curitiba na proteção do patrimônio cultural edificado da cidade, realizadas no recorte de tempo das décadas de 1960 e 1970. Tais ações culminaram na Lei Municipal N° 14794/2016, que dispõe da proteção do patrimônio cultural do município, avaliada pelas autoras sob o prisma das recomendações internacionais preservacionistas.Em “Desvendando o passado para entender o presente: uma proposta etnográfica para o patrimônio arqueológico de Belém/PA” as pesquisadoras apresentam os dilemas da identificação de bens culturais e paisagens significativas para o coletivo humano, no âmbito da antropologia. A investigação toma como aporte metodológico a etnografia, assim como a “imagem da cidade” de Lynch (1985).O texto “Arquitetura da destruição e a imagem da taipa como memória transfigurada” propõe um ensaio sobre a documentação da taipa de mão na cidade de Belém, no momento em que as casas estavam em processo de demolição, discutindo as possibilidades de ressignificação da técnica em novos arranjos construtivos.Associadas ao tema da saúde, as comunicações “O Hospital de Bom Jesus do Calvário - origens e influências” e “Sanatório Domingos Freire: a memória da cura ou da morte?” trazem pesquisas centradas na arquitetura historicista hospitalar do século XIX, que foram apagadas da paisagem urbana das cidades do Rio de Janeiro e Belém, respectivamente. O primeiro trabalho, baseado na pesquisa documental, propõe reflexões sobre o Hospital de Bom Jesus do Calvário e Via Sacra, no que tange aspectos de sua origem, destino e influências estilísticas. O segundo trabalho, por sua vez, realiza um persurso etnográfico e documental, que objetiva compreender as memórias, ou a ausência de memória, envoltas no apagamento da materialidade arquitetônica do Sanatório Domingos Freire.A sessão propõe-se a ser um espaço para o reconhecimento entre os pesquisadores atuantes na linha de pesquisa, ampliando as possibilidades de entendimento dos métodos e conceitos adotados, buscando similaridades e divergências entre fenômenos similares como a questão da atribuição de valores nos lugares históricos de Belém e Curitiba, ou no apagamento dos hospitais do Calvário e Domingos Freire, em Belém e no Rio de Janeiro. Neste contexto de definição de métodos e perspectivas, a memória da técnica construtiva e sua possibilidade de ressignificação indica um novo modo de tratar a temática da permanência da arquitetura tradicional numa perspectiva dinâmica.

Palavras-chave


Arquitetura; memória; etnografia

Um cadastro no sistema é obrigatório para visualizar os documentos. Clique aqui para criar um cadastro.