Sem se pretender um museu das artes decorativas, o novo centro cultural do Liceu de Artes e Ofícios procura resgatar o legado dessa instituição que de uma escola de ofícios e artes aplicadas, passou por profundas modificações desde sua fundação, em 1873, pela Sociedade Propagadora da Instrução Popular. Nesses 144 anos o Liceu tem se adaptado as novas demandas da sociedade, o que fez a instituição mudar de direção algumas vezes, ampliando seu ramo de atuação para a indústria de precisão e para educação de nível médio técnico. Desde sua origem, o ensino de excelência sempre foi prerrogativa. A formação de artífices altamente capacitados passava pela formação em artes manuais provendo educação racional e instrução artística – profissional. Adquirindo ao longo dos anos recursos didáticos como uma biblioteca especializada em artes visuais e decorativas, um museu pedagógico, uma gipsoteca, todos atualizados com os seus congêneres europeus, além de envolvimento de seus professores em pesquisa de ponta e produção de tecnologia original, o ensino apoiado no uso de modelos e voltado para o mercado garantia a inserção desses profissionais num mercado capitalista que operava por encomenda e na configuração de certo gosto estético na medida em que dava suporte às formas materiais de uso cotidiano. A proposta desta comunicação será discutir como esse legado, ainda que severamente comprometido fisicamente, possibilita a discussão a respeito da compreensão da historicidade de acervos especializados e dos processos museológicos como produtores de conhecimentos e de socialização da memória e do patrimônio cultural.