Portal de Conferências da UnB, V Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2022)

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MAUS, DE ART SPIEGELMAN: Discursos de ódio, Memória e Desinformação na Contemporaneidade
Silvio Tamura

Última alteração: 2022-06-20

Resumo


Aclamado pela crítica, o graphic novel Maus, de Art Spiegelman, ganhou notoriedade ao ser lançado no início da década de 1980, retratando os horrores do Holocausto. A partir de uma série de entrevistas com o pai, sr. Vladek Spiegelman, polonês sobrevivente dos campos de concentração, Art produz um romance gráfico, descrevendo a trajetória do progenitor, baseado em suas reminiscências. Tamanha repercussão, este comic book fora laureado com diversas condecorações, entre elas: Prêmio Los Angeles, Prêmio Harvey, Prêmio Max & Moritz e demais homenagens e indicações. A consagração maior viera com os Prêmios Eisner e Prêmio Pulitzer, considerados as mais altas honrarias internacionais. Traduzido para dezenas de idiomas, esta HQ fora lançada originalmente em inglês, com título Maus: A Survivor’s Tale (SPIEGELMAN, 2010), chegando ao Brasil, sob a denominação de Maus: História Completa (SPIEGELMAN, 2009). Nesta obra, os judeus são ilustrados como ratos; os alemães como gatos; e os americanos como cachorros. Gatos caçam ratos. Simbolicamente, alemães (nazistas) exterminam judeus. Cães são mais fortes e robustos que gatos e ratos. Metaforicamente, estadunidenses são mais poderosos e superiores aos alemães (nazis) e judeus. Igualmente, caninos (norte-americanos) intervêm em conflitos entre felinos (alemães nazistas) e camundongos (judeus). Esta narrativa utiliza-se de metáforas para representar os jogos de poder entre as nações envolvidas. Fato é que esta produção apresenta-se como um registro sobre um dos capítulos mais vergonhosos da história da humanidade: o Holocausto. Cerca de seis milhões de judeus foram assassinados durante a Segunda Guerra Mundial pelas milícias nazistas, por ordem de Adolf Hitler. Conforme registrado em Maus, a xenofobia de Hitler contra a comunidade judaica era extremamente visível. Numa das frases, Hitler dizia: “Sem dúvida, os judeus são uma raça, mas não são seres humanos.” (SPIEGELMAN, 2009, p. 11). Embora o Holocausto tenha chegado ao fim em 1945, ainda hoje, após mais de setenta anos, muitos defendem os ocorridos deste conflito. Alguns por desconhecimento; outros por desinformação. Uma célebre frase diz: “Um povo sem memória é um povo sem história”. Por seguinte, pelo fato de não haver memória nem história, as gerações posteriores correm o risco de cometerem os mesmos erros do passado. Recentemente, vários colégios dos Estados Unidos censuraram Maus, retirando-o do currículo escolar. Tal fato causou polêmica, divulgado amplamente pela imprensa mundial. Excluir Maus dos conteúdos programáticos é, certamente, contribuir com o apagamento de um período extremamente importante para o conhecimento das gerações futuras. Corre-se o risco de se formar indivíduos desinformados sobre os acontecimentos passados. Muitos destes poderão vir a se candidatar a cargos políticos ou ingressar em carreiras públicas, decidindo o destino de milhões de cidadãos. Atualmente, em redes sociais, sites, blogs, páginas pessoais entre outros meios digitais, observa-se o aumento do número de sujeitos que apregoam concepções xenofóbicas, racistas e preconceituosas contra determinadas raças, etnias e grupos sociais, assemelhando-se à ideológia do Holocausto. Neste mês, em 7 de Junho, celebra-se o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa. Da mesma forma que os veículos jornalísticos defendem e reivindicam liberdade, independência e autonomia para a difusão de notícias, artigos e opiniões, o mercado editorial, juntamente com os escritores, romancistas, contistas e cartunistas também fazem jus a tais prerrogativas. Este trabalho de pós-graduação tem por objetivo tecer algumas considerações acerca das motivações que levaram a proibição do romance gráfico Maus, de Art Spiegelman, e suas possíveis consequências em relação à memória, história e disseminação de desinformações, bem como a provável formação política de gerações que não terão conhecimento a respeito da intolerância, repugnância e demais atrocidades cometidas no Holocausto. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico, tendo como alguns dos referenciais teóricos: Jean-Jacques Rousseau, Jacques Le Goff, Marc Bloch, Zygmunt Bauman, Gilbert Durant, Maria Helena Martins, Décio Pignatari, Lucia Santaella, Pierre Levy, José Luiz Fiorin, Michel de Certeau, entre outros.



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