Em atividade desde 1983, o jornal Tempo Novo constitui uma iniciativa de jornalismo local focada no município de Serra, Região Metropolitana da Grande Vitória (RMGV), onde ocorreram processos de transição industrial tardia que culminaram em uma série de impactos sociais acompanhados do acentuado crescimento populacional, verificado na região a partir da década de 1960 (VILASCHI e FELIPE, 2011; SILVA, 2016). O estudo atual tem como objeto as condições de produção e a atuação do Tempo Novo, arranjo alternativo de trabalho em jornalismo local independente aos conglomerados de mídia, sediado no município de Serra. O objetivo da pesquisa é analisar as condições de produção no trabalho dos jornalistas do Tempo Novo a partir do percurso metodológico do estudo de caso (YIN, 2005; DUARTE, 2005), por meio da triangulação de métodos de coleta de evidências em duas etapas, que combinam procedimentos de pesquisa documental, investigações a campo e entrevistas semiestruturadas com os jornalistas e diretores da iniciativa. Com intuito de compreender as transformações no jornalismo, apresentamos revisão bibliográfica dos conceitos de paradigmas jornalísticos (CHARRON; BONVILLE, 2017) e da noção de Arranjos Alternativos de Trabalho em Jornalismo (FIGARO; NONATO; KINOSHITA, 2017; FIGARO, 2018a; 2018b; COSTA, 2020; FIGARO; NONATO, 2021). Acerca da função social desempenhada pelos jornalistas, sugerimos um diálogo com a teoria do jornalismo como forma de conhecimento cristalizado no singular (GENRO FILHO, 1987) e a proposição de Reginato (2020), para quem a função central do jornalismo consiste em informar de maneira qualificada para fortalecer a democracia. Identificamos dificuldades de sustentabilidade desde a origem do jornal Tempo Novo até a sua reformulação em portal online; a iniciativa manteve o foco local durante sua trajetória, mas passou por transformações de formato e rotinas de trabalho, para seguir com a produção adaptando-se às reestruturações no trabalho dos jornalistas e no sistema produtivo.