Portal de Conferências da UnB, V Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2022)

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MIDIATIZAÇÃO: da cronologia à genealogia; do mapeamento à cartografia de um conceito
Lucio Pereira Mello

Última alteração: 2022-06-17

Resumo


Como mapear e pensar o surgimento de um conceito? Como perceber suas origens,irrupções e suas diferentes acepções? Quais os deslocamentos que podemos perceber queocorrem durante o decorrer de um tempo mas também a medida que ele se desloca entrediferentes escolas de pensamento, locais, instituições, nações, culturas e continentes? Comestas perguntas, e tendo como referência pesquisa de doutorado em andamento, nosdeparamos diante da necessidade de efetuar um estudo sistemático sobre o conceito demidiatização. Em meio aos primeiros levantamentos bibliográficos já realizados e ainda nãosistematizados, a pergunta sobre um método para entender a origem das irrupções, usos,deslocamentos e apropriações de um conceito mostraram ser um desafio um tanto quantocomplexo quando se pretende realizar a tarefa de forma crítica.

O primeiro desafio é a dimensão temporal, que nos convida à tentação de reduzir oprocesso de consolidação de um termo científico a uma linha evolutiva, positiva, cumulativa,como se fosse uma função linear cartesiana y = ax+b, na qual y seria as variações eintensidades de uso do conceito e x a variante tempo. Apesar de ser um infográfico síntesesempre útil - muito eficiente e convincente por ser simples e fácil de desenhar, de visualizar -esta linearidade não parece ser como de fato as coisas acontecem no campo da pesquisaacadêmica. Há momentos em que os termos aumentam a sua presença em palavras chaves deperiódicos acadêmicos, tornando-se mais populares. Há vezes em que se tornam maisrarefeitos, esparsos. Há ainda mudanças de significados e de valoração por parte dos autoresno debate do campo científico (BOURDIEU), deslocamentos, usos particulares,entendimentos próprios, abordagens específicas. Neste sentido a temporalidade deve levar emconta também as suas durações, na acepção bergsoniana do tempo como duração, e também as suas diferenças, na acepção deleuziana.

Outro desafio é sobre a dimensão espacial. Durante a pesquisa o primeiro impulso aomapear o surgimento do termo foi realizar um mapeamento em mapa mundi,geoespacializando os autores, papers, editoras, palestras, conferências, centros de pesquisa einstituições de pesquisa que tenham a midiatização como uma das suas ações/ linhas depesquisa centrais. Um esforço válido, sem dúvida, a medida que cria mentalmente umaassociação das pesquisas à lugares, permitindo identificá-los em razão de suas proximidades,distâncias, mas também em função de suas presença física e materializada seja em forma deautores, de eventos, de livros ou revistas, seja em construções físicas (instituições, centros depesquisas, departamentos, etc). A questão, assim como na dimensão temporal, é o aspectoquantitativo de tal mapeamento. Os limites de tal abordagem que naturaliza os mapas étorná-los como verdade de uma realidade mais dinâmica e fluida, em que autores sofreminfluências de outras escolas e outras culturas, às vezes pensando de formas inconciliáveiscom colegas dentro de um mesmo departamento de pesquisa. Outras vezes incorrendo no erroda geografia política de pintar todo um país de uma cor, como se toda uma área como se ageneralização fosse estática, como se só um entendimento de midiatização se espraiasse portodo um contínuo territorial. Por conta deste problema, a ideia é pensar pelo viés dacartografia de aproximações e contradições, relações e tensões que Deleuze, de diagramas esempre considerando a lição de Milton Santos que define o espaço como “um conjuntoindissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações,não considerados isoladamente, mas como um quadro único no qual a história se dá”.(SANTOS, p.63).

A nossa aposta é que o levantamento crítico tendo a noção de genealogia e acartografia servirão para problematizar um levantamento bibliográfico, uma cronologia e umamapeamento quantitativo - que embora seja válido pode ser expandido - para uma noçãomais qualitativa das irrupções e das convivências solidária e contraditórias do conceito emnossa contemporaneidade. Mais que isso, a discussão aqui presente pretende oferecer ummétodo de levantamento bibliográfico crítico para a pesquisa de doutorado em curso com ointuito de pensar a midiatização como um dispositivo central para formatação da noção deespaço e tempo atuais, avaliando o papel das mediações pelos dispositivos da chamadatecnologias da informação e comunicação.


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