Última alteração: 2022-06-21
Resumo
Atualmente, observa-se um constante desenvolvimento das tecnologias digitais, principalmente da internet. Através dela foi possível propor e organizar ações, bem como ampliar os canais de participação e democracia, constituindo-se, desta forma, a democracia digital. Ressalta-se que o termo é permeado por distintos entendimentos que estão associados às diferentes formas e procedimentos, e no modelo de ocupação e participação dos atores sociais nas instâncias democráticas digitais.
Esses diferentes entendimentos são sistematizados por Dahlberg (2011) em quatro posições que serão fundamentais para a compreensão dos objetos de estudo e para a discussão proposta: a) liberal-individualista; b) democracia deliberativa; c) contra públicos; e d) democracia digital autônoma marxista.
Entre os atores sociais que podem compor essas posições e, além disso, criar um espaço digital mais democrático, tem-se os movimentos sociais (CASTELLS, 2013). Dentro da categoria de movimentos sociais que atuam no ambiente digital, podem ser citados, mais especificamente, os movimentos feministas que possuem relevância na sociedade, uma vez que “as políticas de gênero não ultrapassam os movimentos sociais, ao contrário mostram a importância da atuação desse movimento no que tange ao protagonismo dos sujeitos sociais” (PEDRO; GUEDES, 2010, p.8). Ou seja, foram e ainda são fundamentais para a construção e manutenção da cidadania e da estrutura democrática.
No contexto brasileiro, chama-se atenção para dois: o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e o Movimento Mulher 360°. Segundo seu site oficial, o Movimento de Mulheres Camponesas pertence à classe trabalhadora e luta pela causa feminista e transformação da sociedade, tendo como pauta as demandas das mulheres do campo. Além disso, é um movimento de grande amplitude, organizado em diversos estados brasileiros, e com uma atuação de mais de 37 anos. Já o Movimento Mulher 360°, que se configura de forma distinta do MMC, é um movimento empresarial, composto por grandes empresas que atuam no mercado brasileiro, que tem como objetivo garantir o direito das mulheres, bem como o empoderamento feminino nesses espaços de trabalho.
A escolha de dois movimentos distintos em seu caráter estrutural se deu pois, parte-se do princípio que as lutas pelos direitos das mulheres podem ser constituídas de forma heterogênea e corresponderem às diferentes realidades, afinal, diferentes mulheres lutam, em algum grau, por direitos distintos, e por consequência, podem se pautar em modelos de democracia digital diferentes entre si.
Nesse sentido, este artigo propõe compreender como os movimentos sociais podem compor e promover a democracia digital. Especificamente, espera-se analisar a comunicação institucional de dois movimentos: o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC) e o Movimento Mulher 360°; e, a partir das quatro posições da democracia digital, enquadrar e comparar a atuação de cada movimento de acordo com seu propósito social.
Para tanto, será realizada Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011) dos elementos da comunicação institucional dos movimentos presentes nos sites oficiais, levando em consideração as observações propostas de Fragoso; Recuero; Amaral (2013). As categorias serão criadas a partir de uma leitura flutuante do conteúdo coletado, bem como a elaboração dos códigos, relacionando os elementos dos sites que indiquem formas de compreensão de cada movimento em relação à democracia digital com as características presentes em cada posição desenvolvida por Dahlberg (2011).
Ao pensar que as posições podem estar sobrepostas, serão consideradas também as possíveis intersecções entre as posições, cuja complexidade será demonstrada em dois infográficos, um para cada movimento, com trechos da comunicação institucional que podem ser associadas às diferentes características das posições, as quais serão diferenciadas por cores.
Acredita-se que com este artigo será possível compreender a importância dos movimentos sociais que lutam pelos direitos das mulheres para a articulação da democracia digital, bem como sua complexa forma de construir e compreender democracia neste ambiente a partir de suas matrizes ideológicas e público-alvo.
Palavras-chave: Democracia; Internet; Movimentos Sociais; Feminismo.
Referências:
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Tradução: Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, 2011.
CASTELLS, M. Redes de Indignação e Esperança. Movimentos sociais na era da Internet. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
DAHLBERG, l. Re-constructing digital democracy: an outline of four positions. New Media & Society, v. 13, n. 6, p. 855–872, 2011.
FRAGOSO, S.; RECUERO, R.; AMARAL, A. Métodos de pesquisa para internet. Porto Alegre: Sulina, 2013.
PEDRO, C. B.; GUEDES, O. S. As conquistas do movimento feminista como expressão do protagonismo social das mulheres. Anais do I Simpósio sobre Estudos de Gênero e Políticas Públicas, p. 1-10, 2010.