Portal de Conferências da UnB, V Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2022)

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QUANDO O RISCO VALE A PENA: narrativas sobre o risco vinculado à infância
Alexandro Uguccioni Romão

Última alteração: 2022-07-13

Resumo


A ideia de que o risco ao invés de evitado deve ser assumido para melhor desenvolver a criança é o mote da narrativa no vídeo intitulado “Quando o risco vale a pena[1]” produzido pelo Instituto Alana[2]. O filme discute a importância de assumir riscos para o desenvolvimento infantil. No vídeo a prática de promoção do risco são consideradas “propícias para que as crianças aprendam a lidar com seus medos, superar seus limites e sentir-se capazes de interagir em segurança com o ambiente e com o mundo”. O filme se desenvolve com cenas de crianças brincando e realizando atividades ao ar livre sobrepostas por discursos sobre a importância de correr riscos para que a criança se desenvolva melhor em um mundo incerto e desafiante. Nesse enredo sobre risco e desenvolvimento infantil, o vídeo gira em torno de chaves sobre medo, segurança, competência, avaliação de risco, proteção, desafios e incertezas do mundo.

O risco tem ganhado destaque nos estudos das ciências sociais e no debate sobre a condução da infância. Taylor-Gooby e Zinn, (2006), expõem duas razões para o risco atrair as atenções de cientistas sociais. A primeira pela complexificação das tecnologias e instituições relacionadas ao governo das vidas e a segunda pelas tecnologias e instituições não serem capazes de eliminar o risco e a incerteza. Risco é um tema que tem sido abordado interdisciplinarmente. Por escolha epistemológica, usa-se nesse trabalho a perspectiva do risco na governamentalidade que se baseia no trabalho de Michel Foucault (1991). Sobre essa perspectiva do risco, Taylor-Gooby e Zinn (2006, p. 44-45) afirmam que: “O risco não resulta diretamente de fatos objetivos, mas representa uma maneira específica pela qual aspectos da realidade podem ser conceituados e tornados controláveis”. Nessa perspectiva, as tecnologias do risco são elementos utilizados nas estratégias de governamentalidade em que a tomada de decisão “objetiva” se faz dentro de um programa normativo ligado as relações de poder.

Esse trabalho realiza um exercício de pensar, pela perspectiva do risco na governamentalidade, algumas narrativas e práticas sobre a infância e seu desenvolvimento. Dessa forma, o nosso objetivo é refletir sobre como algumas narrativas acerca do risco possam ter assumido outro sentido nas práticas de condução das crianças. Para isso, na intenção de pensar sobre os sentidos relacionados entre risco e desenvolvimento infantil circunscrita no presente, entende-se a necessidade de realizar um procedimento genealógico sobre a vinculação do risco e infância pinçando exemplos históricos. As práticas circunscritas na modernidade podem visibilizar pontos importantes sobre os sentidos da infância em um contraponto ao que os olhos podem ver nas narrativas e discursos do presente. Por essa linha de raciocínio, olha-se para a racionalidade moderna a fim de analisar o sentido de risco em sua relação com a infância na atualidade. Assim, problematiza-se práticas de desenvolvimento infantil que se vinculam em dimensões singulares com o sentido do risco no presente.


[1] Disponível em: https://youtu.be/DCULd07RzpQ Acessado em 19 nov. 2021.

[2] O Alana é uma organização de impacto socioambiental que promove o direito e o desenvolvimento integral da criança e ​fomenta​ novas formas de viver bem, como por exemplo, a criança aprender a correr - e avaliar - riscos para tornar-se um adulto resiliente e capaz de explorar o mundo em vez de temê-lo.  Disponível em: https://alana.org.br Acessado em 19 nov. 2021.

 


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