Portal de Conferências da UnB, V Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2022)

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O TRABALHO DO JORNALISTA QUE ATUA NO INSTITUTO FEDERAL: carreira e identidade profissional
Ana Maria Teles

Última alteração: 2022-06-20

Resumo


O tema central da nossa pesquisa é a atuação dos jornalistas em instituições públicas de ensino. O objetivo geral é identificar como é construída a carreira do jornalista que atua nos Institutos Federais, instituições que ofertam ensino médio técnico integrado, subsequente, superior e cursos de pós-graduação, quando não raros cursos profissionalizantes no formato de formação continuada, que possuem duração menor. Criados em 2008, os IFs têm a missão de levar ensino médio técnico e superior a todas  as regiões do país, principalmente àquelas desprovidas de instituições com essa finalidade. Apesar de terem pouco mais de dez anos de existência, alguns campi já tinham história, pois os Institutos, além de novas unidades, também agregaram Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets) e Escolas Agrotécnicas. Existem, no Brasil, 38 IFs, os quais empregam 298 jornalistas concursados, segundo levantamento que fizemos em julho de 2021, no Portal da Transparência.

Para tal pesquisa, a metodologia adotada consiste na aplicação de questionários online para obter dados de perfil destes profissionais, a jornalistas que trabalham nestas instituições. O questionário foi produzido na plataforma Google Docs e enviado por e-mail a representantes dos 38 Institutos Federais do Brasil, sendo baseado no produzido por Mick e Lima (2013) para a pesquisa do Perfil do Jornalista Brasileiro, repetindo algumas perguntas de forma idêntica e adequando outras à realidade do serviço público, somando à outras questões fechadas e abertas que foram acrescidas. Outra ferramenta metodológica é a realização de entrevista, que nos permite complementar o tema de forma qualitativa.

O conceito de carreira profissional aqui adotado é o elaborado pelos interacionistas da Escola de Chicago e que continua nas pesquisas brasileiras na área de Sociologia das Profissões (PEREIRA, 2011, 2013, 2015, 2018) que dissocia papel, status e pessoa. Para Hughes (1937 apud  BENDASSOLLI, 2009, p. 409-410) "uma carreira é uma perspectiva dinâmica pela qual a pessoa concebe sua vida como um conjunto e interpreta o significado de suas diversas  características, das ações e das coisas que lhe ocorrem".

A carreira é um fenômeno social, institucional e individual sendo mais do que um relato de trajetórias por permitir entender os motivos que levaram o indivíduo àquela experiência laboral, a relação com os projetos de vida, com as organizações, com o coletivo profissional e com o mercado de trabalho. As mudanças de carreira, os planos de trajetória e novas posições nas organizações são formas de negociação de status dentro do espaço de trabalho, portanto essas alterações se relacionam com evoluções da identidade profissional, o que pode levar à antecipação dessas trajetórias (PEREIRA, 2018).

No contexto de produção desta pesquisa, podemos partir do conceito de pertencimento a um grupo profissional (sindicalizado ou não) e tentar identificar, nas entrevistas que serão realizadas, se o jornalista do IF entende a sua carreira como uma vocação ou como uma ocupação ou então um roteiro pessoal para a realização dos próprios desejos.

O caminho percorrido ao longo da vida, que pode ou não ser planejado, previsto e equilibra intenções e contingências, é o conceito de carreira, para Hannerz (2004 apud AGNEZ, 2014). As carreiras passam por uma vinculação coletiva, pois o grupo define limites, normas e estatutos. As organizações onde os indivíduos desenrolam suas carreiras também são relevantes para se discutir o papel ocupacional e a mobilidade social diante das variadas cargas de prestígio e poder, que reforçam o status, associadas a cada ocupação e os ritos de passagem de cada lugar  (BENDASSOLLI, 2009).

Entre reflexões e resultados que podem ser apresentados, destaca-se que a identificação com a categoria profissional parece estar ligada ao fato de ter o diploma em Jornalismo e realizar as mesmas atividades básicas convencionadas para o campo principal, independente do local em que estas atividades serão realizadas. Isso está relacionado a como acontece a rotina produtiva, que já é varíavel.

O jornalista constrói sua identidade profissional demonstrando técnicas do campo jornalístico e, com isso, vai se afirmando para si e seus colegas de instituição. Pratica atividades características dos jornalistas que atuam em veículos de mídia, mas reconhece que a natureza do trabalho é diferente. Acredita fazer comunicação pública por pautar seu trabalho no interesse da sociedade e se vê como um representante dela.

A presente pesquisa pretende trazer informações sobre qual o perfil do jornalista que atua no Instituto Federal brasileiro e como esse profissional construiu sua carreira. Em um cenário de passaralhos e enxugamento nas redações do país, o profissional que está no serviço público tem, em sua grande maioria, a garantia de um emprego proporcionada pela estabilidade.

O serviço público, mais em algumas áreas do que em outras, traz também uma marca de precarização em termos de estrutura física e composição de equipes e de disponibilidade de equipamentos. Por outro lado, o respeito à carga horária de trabalho e, consequentemente, maior tempo para se dedicar a outras atividades, é algo que aumenta a satisfação dos servidores.

O olhar voltado ao público, o representante da sociedade, o comunicador público são características que se mostram presentes nesse papel desempenhado por esse jornalista. A atuação em uma assessoria de comunicação, em um ambiente de comunicação organizacional e em um contexto de comunicação pública, de prestação de contas à sociedade tem marcadores de maior autonomia no trabalho e esse envolvimento, a atuação em órgão público nos remete à accountability e a querer explorar a maneira que esse jornalista desenvolve essas práticas, se elas realmente acontecem ou se estão em um plano ideal.


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