Última alteração: 2019-06-16
Resumo
Universidade de Brasília (Mestranda em Comunicação). Orientadora: Claudia Guilmar Linhares Sanz
Resumo
A pesquisa pretende refletir sobre a fotografia de Francesca Woodman; sobre como, ao nos despertar para a busca de seus fantasmas, situa-nos no furacão das imagens da atualidade e nos convida a fechar os olhos, ao desafio da abertura do tempo e da narrativa nas imagens.
Palavras-chave: Fotografia; Tempo; Fantasmas; Francesca Woodman
Apresentação da proposta
A pesquisa tem como ponto de partida o trabalho da fotógrafa americana Francesca Woodman. Para que sobrevenham questionamentos e distensões, o olhar não procura nas imagens respostas definitivas, explicações ou mensagens, mas se destina a multiplicar sentidos, a provocar tensões entre imagem e pensamento, em uma troca permanente.
Criar imagens-fantasma fazia parte de um projeto de Woodman, que se interessava pelo modo de as pessoas se relacionarem com o espaço e a busca por imagens-fantasma lhe permitiu experimentar aparições, desaparições e misturas com o ambiente. Tal criação se prolonga e vai além da ideia inicial da fotógrafa, colocando-nos em um necessário desamparo neste momento em que a fotografia parece produzir cada vez mais visibilidades, menos mistérios e sombras, mais instantes imersos em um fluxo da sensação no qual o fotógrafo mal espera e aquele que vê pouco se demora. Em um contrafluxo à tanta visibilidade, os fantasmas de Francesca rebentam, como se insistissem para fecharmos um pouco os olhos.
Objetivos
Desenvolver sobre as maneiras com que a fotografia de Francesca nos desafia a alargar o olhar para o devir das formas, para a abertura do tempo e das narrativas nas imagens; criando desdobramentos a partir das fotografias em estudo, relacionando os elementos da encenação, da técnica com a tessitura do tempo e da memória e a construção de sentidos abertos, considerando a imagem como fundadora de tempos próprios, em transformação.
Procedimentos metodológicos
Para refletir, a partir das imagens de Woodman, sobre os sentidos de sua fotografia e de um modo de fotografar, a pesquisa seguirá o gesto filosófico da genealogia, que recusa a crença em “origens” e propõe desdobramentos a partir de forças e condições de existência. A origem é entendida como em Benjamin (1984, p. 67): “nada que ver com a gênese” ou com a essência, mas como “algo que emerge do vir-a-ser e da extinção”. A fotografia moderna assim desponta do fluxo como um “torvelinho”, emerge de dentro do redemoinho de tempos, agitada por tensões e embates; e a reflexão sobre a fotografia contemporânea será dada pelo mergulho em questões suscitadas pelas fotografias de Woodman, que permitam propor perguntas e pensamentos. A pesquisa também se faz em um gesto benjaminiano, por apostar no ensaio reflexivo para a construção do objeto e o desenvolvimento de suas potencialidades, com a proposição de constelações de imagens e conceitos.
Referencial teórico
A pesquisa investiga temporalidades da imagem e marcas das mudanças na experiência temporal; e assim discute o tempo e a fotografia com autores como Benjamin, Proust, Bergson, Deleuze, Didi-Huberman, Agamben, Lissovsky. É importante a noção de Nachleben (sobrevivência) de Warburg, que traz a ideia da metamorfose e da mudança das formas constituindo uma dinâmica de forças que pode transfigurar as formas e fazer-lhes viver espectralmente, assombrando épocas seguintes (WARBURG, 2015).
Andamento da pesquisa
Após revisão bibliográfica, a pesquisa, no momento, procura por temas e conceitos que conectem certas fotografias, despertando relações que possibilitem pensar e imaginar caminhos, o trajeto dos fantasmas, fissuras capazes de desfazer clichês, de questionar o olhar hegemônico e causal; em direção à imagem fantasma carregada de tensão e tempos. Tais temas não têm como objetivo propor classificações fechadas, mas seriam uma maneira de estender o olhar sobre as imagens, ao procurar ressonâncias e teorias que delas despontem, como os cristais de tempo rachados, as imagens-fantasma, as narrativas partidas, as machas da memória.
A pesquisa investiga um modo de se fotografar que, devido a mudanças históricas, já não acontece mais. Nas fotografias de Francesca desabrocham fantasmas, espalhando reminiscências, colocando em questão as temporalidades, o espaço e a narrativa como inevitáveis devires.
Referências
BENJAMIN, W. Origem do drama barroco alemão. São Paulo: Brasiliense, 1984.
DIDI-HUBERMAN, G. Diante do tempo: história da arte e anacronismo das imagens. Belo Horizonte: UFMG, 2015.
WARBURG, A. Histórias de fantasma para gente grande: escritos, esboços e conferências. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.