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STAR WARS: O DESPERTAR DA FORÇA E O MARAVILHOSO: O PONTO DE VIRADA COMO POSSIBILIDADE DE RECORTE METODOLÓGICO NA ANÁLISE FÍLMICA
Dayane Costa Oliveira da Silva

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Mestranda pelo programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás (PPCGOM/UFG), na linha de pesquisa Mídia e Cultura, orientada pelo Prof. Dr. Goiamérico Felício Carneiro dos Santos

RESUMO

Dentro da análise fílmica, nos propomos a investigar alguns aspectos narratológicos de sua base teórica, usando-os como possibilidade de recorte metodológico e demonstrando-os em uma análise prática do filme Star Wars: O Despertar da Força (2015).

PALAVRAS-CHAVE: Análise fílmica; Ponto de virada; Narrativa; Maravilhoso; Star Wars

Entre a fundamentação teórica, a coleta de dados e a interpretação, estruturas e métodos de pesquisa devem ser aplicadas para que possamos concretizar uma análise organizada, justificada e, acima de tudo, coerente. Tomando a metodologia como um “(...) conjunto de atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros” (LAKATOS e MARCONI, 2003, p. 82), devemos ter clareza de suas configurações. Um processo metodológico não existe em um vácuo; possui raízes conceituais que o sustentam e é importante que dialogue não apenas com o objeto de análise de forma isolada, mas com todo o arcabouço teórico levantado.

Enquanto objeto de pesquisa, o filme exige uma sistematização capaz de abraçar sua complexidade. Com bases teóricas na Linguística, particularmente a Narratologia e a Semiologia, a análise fílmica oferece ferramentas ao pesquisador interessado em analisar fenômenos a partir de produtos fílmicos. Por tratar-se de uma metodologia majoritariamente qualitativa, está sujeita a um processo de subjetividade, tendo em seu estudioso, o analista fílmico, um “espectador desejante”96 (VANOYE e GOLIOT-LÉTÉ, 2012, p. 18) cujo maior objetivo é destrinchar o filme, submetê-lo aos seus instrumentos e interpretá-lo.

A partir da disposição metodológica proposta por Vanoye e Goliot-Lété (2012), temos na análise fílmica duas fases principais: a desconstrução, que consiste em decompor o filme em seus elementos constitutivos, e a reconstrução, que abrange a interpretação dos elementos decompostos de acordo com critérios estabelecidos à priori. É necessário, portanto, que o analista, com parcimônia, separe imagem, áudio e narrativa e os observe como peças de um quebra-cabeça que deverá ser remontado com um propósito claro. Decompor e interpretar um filme em sua totalidade é uma tarefa quase impossível; centenas de cenas, sequências e planos tornam inviável uma análise precisa de longos excertos, exigindo o estabelecimento de recortes para a aplicação do método.

Neste artigo, trabalharemos com a possibilidade de estabelecer um recorte a partir de elementos estruturais de uma narrativa associados ao discurso fílmico. Tensionamentos teóricos do campo do cinema e dos estudos literários, observando elementos do discurso fílmico a partir com ênfase em sua constituição narrativa. Para tal, demonstramos uma breve análise fílmica de uma sequência selecionada do filme Star Wars: O Despertar da Força (2015), escolhido por seu impacto na cultura contemporânea, subversão de arquétipos e por possuir temas que dialogam tanto com o método, quanto com os conceitos teóricos explorados – intriga, ponto de virada e maravilhoso. No filme em questão, ficção científica é mesclada a elementos do conto de fada, apresentando elementos mágicos como transformadores tanto para as personagens quanto para a narrativa. A sequência analisada será escolhida a partir de um ponto de virada presente no clímax do filme – o duelo entre a heroína Rey (Daisy Ridley) e o vilão Kylo Ren (Adam Driver) – que utiliza a mágica para maior potencial dramático.

Os conceitos de narrativa cinematográfica de Metz (2014), intriga narrativa de Todorov (2013) e Ricoeur (2010), e ponto de virada de Field (2001) serão definidos sucintamente e colocados em perspectiva como possíveis recortes para a análise realizada. A intriga, enquanto proposição narrativa, é capaz de gerar ação e transformar e possui função semelhante ao ponto de virada fílmico, um elemento do roteiro que impulsiona a narrativa e estabelece a tensão no filme, mantendo o espectador engajado. Por fim, associaremos à intriga e ao ponto de virada, o conceito literário do maravilhoso, também definido por Todorov. O maravilhoso encontra-se presente em narrativas de natureza similar ao conto de fadas e à ficção científica, proporcionando intrigas narrativas a partir da mágica no universo diegético. Desta forma, pretendemos estabelecer um diálogo conciso entre fenômeno, método e elementos estruturais e teóricos que sustentam o discurso fílmico analisado.

Nosso objetivo consiste em apresentar uma possibilidade para o estabelecimento de um recorte metodológico dentro da análise fílmica que dialogue não só com o objeto de pesquisa, mas, com a base teórica que permeia fenômeno e método. Portanto, com este artigo, esperamos tatear questões referentes à análise fílmica e sua inerente complexidade enquanto metodologia de pesquisa qualitativa.

REFERÊNCIAS

Livros e periódicos:

FIELD, Syd. Manual do roteiro: os fundamentos do texto cinematográfico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

LAKATOS, Eva Maria. MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

METZ, Christian. A significação do cinema. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2014.

RICOEUR, Paul. Tempo e narrativa: a intriga e a narrativa histórica. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013.

VANOYE, Francis; GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica: 7. ed. Campinas: Papirus, 2012.

Filmografia:

STAR WARS: O Despertar da Força. Direção: J.J. Abrams, Produção: Kathleen Kennedy, J.J. Abrams e Bryan Burk. Roteiro: Lawrence Kasdan, J.J. Abrams e Michael Arndt. Elenco: Harrison Ford, Mark Hamill, Carrie Fisher, Adam Driver, Daisy Ridley, John Boyega. Criação original: George Lucas. Estados Unidos: Walt Disney Pictures/Lucasfilm Ltda./Bad Robot, 138 min., cor, 2015. Título original: Star Wars: The Force Awakens.