Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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DIFERENÇAS NA IDENTIDADE PROFISSIONAL DOS JORNALISTAS POLICIAIS DE BRASÍLIA E DE GOIÂNIA
Patrícia Medeiros de Lima, Djenane Arraes Moreira, Alfredo José Lopes Costa, Laura Patrício Macedo

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Resumo: O presente artigo tem como objetivo tratar a construção de identidade profissional dos jornalistas policiais de Brasília e de Goiânia. A proposta é discutir a perspectiva profissional no âmbito do jornalismo policial.

Palavras-chave: Jornalista policial; Mundo Social; Sociologia da profissão.

O presente artigo se dedica à análise da construção de identidade profissional dos jornalistas policiais de Brasília (DF) e de Goiânia (GO) no contexto do estatuto que permeia a atividade. O objetivo é compreender os procedimentos de construção da identidade desses atores e como eles se posicionam no meio jornalístico. Para tal fim, foram investigadas as negociações dos profissionais em questão a respeito da identidade com os pares, com as fontes, com o público e as relações pessoais no mundo social dos jornalistas. A proposta da análise ainda permeia as diferenças entre Brasília e Goiânia, evidenciando os olhares, posicionamentos estatutários no universo da identidade profissional dos jornalistas analisados.

De acordo com o pesquisador mexicano Franco Ferrarrotti (1982, p. 127), as pessoas querem compreender a sua vida cotidiana, suas dificuldades, suas contradições, as tensões e os produtos que lhes impõe. Em consequência, exigem uma ciência das medições que traduza as estruturas sociais em comportamentos individuais ou microssociais. Nesse sentido, observamos como o grupo analisado, constituído por jornalistas policiais, se posiciona em relação ao meio ao qual pertence, e como são percebidos em seu próprio mundo microssocial.

Os procedimentos metodológicos foram estruturados para explicar o conjunto de técnicas utilizadas a partir do objetivo do trabalho em relação a identidade do jornalista policial no universo pesquisado. Foi utilizado o método exploratório Carlos Gil (1999), tem por objetivo proporcionar maior familiaridade com o objeto pesquisado. Esse método deu suporte para esta pesquisa, pois foi feito primeiramente um levantamento bibliográfico sobre o tema, entrevistas com pessoas que tiveram e têm experiências práticas com o problema pesquisado e, trouxe por fim, uma análise que estimulou a compreensão do tema aqui tratado. O que justifica a escolha do método.

O levantamento do corpus da pesquisa de campo foi realizado por meio de uma busca no primeiro momento de veículos jornalísticos que trabalham com a editoria policial e, posteriormente, foi feito o contato com jornalistas. Para tal etapa, optamos pela técnica metodológica snowball, conhecida como “Bola de Neve”. Essa é uma forma de amostra não-probabilística utilizada em pesquisas sociais em que os participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes que, por sua vez, indicam novos participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objetivo proposto (GOODMAN, 1961).

Com isso, foram contatados os jornalistas que previamente foram encontrados após pesquisa em jornais e na internet. Convidado para participar do desenvolvimento do trabalho, o jornalista que aceitou participar foi solicitado a indicar outro para colaborar com a pesquisa. Esse procedimento viabilizou o estudo diante de um cenário de amostragem reduzido nas duas cidades. Segundo Leo Goodman (1961), a técnica “Bola de Neve” é uma viabilidade coerente tendo em vista que não é possível determinar a probabilidade de seleção de cada participante na amostra.

Durante a pesquisa, os entrevistados expressaram visões de mundo associadas à maneira como eles se definem, se posicionam e convivem com o trabalho, pares, fontes e público. A partir disso, observamos uma articulação para gestão das interações como também de relações pessoais. Percebemos que o jornalista policial, apesar do reconhecimento do seu ofício, trabalha sob uma pressão de julgamentos negativos da sociedade, dos pares, das fontes e até de si próprio.

O cenário dos dois universos pesquisados se mostrou semelhante em alguns aspectos, como o posicionamento com os pares, fontes e público. Por outro lado, foram identificados pontos destoantes no que dizem respeito ao entusiasmo de pertencimento dos entrevistados em relação ao campo do jornalismo policial. Os jornalistas de Goiânia relataram a atividade como algo estável e prazeroso, enquanto no universo brasiliense, a maior parte dos entrevistados usa o jornalismo policial como uma passagem para outras editorias. Goiânia apresentou jornalistas mais jovens, com o desejo promover transformações na editoria. Também foi a cidade das duas únicas mulheres desta pesquisa. Elas nos deram indicativos de que existem tensões quanto ao gênero na prática do jornalismo policial.

Consideremos que seria importante haver uma continuidade de pesquisas neste âmbito da sociologia profissional de jornalistas policiais em outras cidades, a fim de entender como esses profissionais compreendem suas vidas, seus posicionamentos e por fim como negociam seu estatuto no contexto do mundo social.

Referências

FERRARROTTI, F. Acerca de la autonomia del método biográfico. In: DOVIGNAUD, J.

Sociologia del conocimento. México: Fondo de Cultura Económica, 1982.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.

GOODMAN, L. Snowball Sampling. In: Annals of Mathematical Statiscs, 32:148-170, 1961.