Última alteração: 2019-06-16
Resumo
Mestranda na Programa de Pós-graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (Posjor/UFSC) na linha de pesquisa “Tecnologias, Linguagens e Inovação no Jornalismo”. Orientador: Prof. Dr. Rogério Christofoletti.
RESUMO
A pesquisa parte da Teoria dos Campos Sociais para analisar as formas de organização e financiamento das novas experiências de jornalismo, iniciativas criadas no contexto da internet e com atuação independente dos grupos que ocupam a posição dominante no campo.
Palavras-chave: Jornalismo alternativo; Mídia independente; Organização e financiamento; Campo jornalístico; Teoria dos Campos Sociais.
Observa-se nos últimos anos o crescimento no jornalismo brasileiro de experiências que questionam a legitimidade do modelo de negócio adotado pela prática dominante no campo, o jornalismo liberal. Trata-se, de modo geral, de iniciativas nativas da internet que se desenvolvem com modelos alternativos de organização – coletivos, associações sem fins lucrativos, pequenas empresas – e atuam de forma independente dos grandes grupos de comunicação no país. Tomando o diverso conjunto de iniciativas que se enquadram nesse contexto como novas experiências de jornalismo e a prática dominante no campo como jornalismo convencional27, a pesquisa se dedica às tensões do campo jornalístico subjacentes aos dois modelos.
Embora a busca por fazer um jornalismo diferente se faça presente em maior ou menor grau ao longo da história, ela parece se acentuar no contexto contemporâneo diante da crise da atividade que se caracteriza pela dificuldade em sustentar o modelo de negócios desenvolvido desde a industrialização e, por outro lado, pelo fato de este modelo ter a sua legitimidade questionada. Nesse sentido, parece surgir de forma mais intensa no atual momento a questão de como fazer um jornalismo diferente. Deste amplo questionamento, delimitamos como pergunta da pesquisa: em termos de organização e financiamento, o que propõem as novas experiências de jornalismo em relação às iniciativas convencionais no Brasil?
Desta forma, a pesquisa tem como objetivo geral identificar as diferenças e semelhanças entre as formas de organização e financiamento das novas experiências de jornalismo no Brasil em relação às iniciativas convencionais. A análise foi desdobrada em duas etapas que consistiram em: (a) um levantamento de informações sobre os modelos adotados em uma amostra de 30 iniciativas criadas entre 2013 e 2015 no Brasil, e (b) um estudo de caso aprofundado das iniciativas Cidades para Pessoas28 e Revista Vaidapé29. A metodologia empregada foi o estudo de caso múltiplo com múltiplas unidades de análise (YIN, 2003), com os seguintes procedimentos: survey online para caracterização da amostra qualitativa e observação participante para caracterização dos estudos de caso. A análise dos resultados se ampara no referencial teórico da Teoria dos Campos Sociais de Pierre Bourdieu, com ênfase na discussão do autor a respeito dos conflitos que caracterizam os campos de produção cultural (BOURDIEU, 2015a; 2015b).
De modo geral, os resultados verificam certa fragilidade das novas experiências que, em sua maioria, ainda não apresentam modelos consolidados de organização e financiamento. De outra parte, fica evidenciada a intensidade do conflito que se trava no campo jornalístico brasileiro neste momento: o fato de não se ter as condições ideais para operação é superado pelo que parece ser uma urgência pela criação de espaços alternativos ao jornalismo convencional. Os estudos de caso reforçam as tendências identificadas na amostra e, de forma pontual, chamam a atenção para o fato de que mesmo adotando estruturas distintas da convencional é possível reproduzir aspectos característicos desta – por exemplo, a verticalidade e os padrões heteronormativos nos modos de produção (SILVA, 2014).
Referências
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. 2 ed. rev. Porto Alegre: Zouk, 2015a.
________. A produção da crença: contribuição para uma economia dos bens simbólicos. 3 ed.Porto Alegre: Zouk, 2015b.
SILVA, Márcia Veiga da. Masculino, o gênero do jornalismo: modos de produção. Florianópolis: Insular, 2014.