Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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O GÊNERO FEMININO NA LINGUAGEM JORNALÍSTICA
Aline da Silva Schons

Última alteração: 2019-06-13

Resumo


Mestranda  pela  Universidade  de  Brasília  –  UnB.  Orientadora:  Liliane  Maria  Macedo  Machado

Resumo: A proposta deste estudo é compreender as relações entre o jornalismo e as questões de gênero por meio da linguagem jornalística de três grandes jornais: Folha, Estadão e o Globo. A pergunta ‘o jornalismo é indiferente às questões de gênero?’ guiará todas as reflexões.

Palavras-chave: gênero; jornalismo; linguagem.

Introdução

Regras e práticas jornalísticas pouco inclusivas em termos de gênero persistem. Como não lembrar do famoso perfil de Marcela Temer como ‘Bela, recatada e do lar’? Como esquecer da aversão da grande imprensa à palavra presidenta? Educadores e educadoras como Paulo Freire defendem o uso de uma forma mais inclusiva de linguagem como parte das mudanças necessárias para uma sociedade mais igualitária. “Mudar a linguagem faz parte do processo de mudar o mundo. A relação entre linguagem-pensamento-mundo é uma relação dialética, processual e contraditória” (FREIRE, 2011, p. 68). E o jornalismo faz parte dessa relação. Ele afeta e é afetado pela história. Romancini (2010) ressalta: “não são apenas os historiadores que recorrem aos jornais para elaborar suas narrativas [...], mas os jornalistas têm, por vezes, papel importante e ao mesmo tempo polêmico na elaboração da ‘história imediata’”. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é compreender se o jornalismo é indiferente a questões de gênero, e, se sim, por quê?

Para tanto, serão analisadas todas as edições dos jornais Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo e O Globo publicadas no Dia Internacional da Mulher, a partir de 1975 até 2017, totalizando 27 edições. A data inicial foi escolhida por representar o ano em que o movimento feminista se intensifica, de acordo com a Organização das Nações Unidas – ONU (TELES, 1993), e porque entende-se que os estudos de gênero e todas as conquistas femininas estão diretamente relacionadas às pressões exercidas por esse movimento. A apreciação será desenvolvida com o auxílio da análise de conteúdo e da análise de discurso, por acreditar-se que as duas técnicas atingiriam de forma mais completa os objetivos pretendidos.

Referencial teórico

Para desenvolvimento desta pesquisa, é essencial que se conheça a história do movimento feminista, especialmente no Brasil, e a importância da adoção do conceito de gênero e suas nuances. Segundo Scott (1989), o conceito de gênero envolve não apenas as construções sociais do que se entende como feminino/masculino e a negação do determinismo biológico, encampa também relações de poder, que compreendem os símbolos, os conceitos normativos, o político e a identidade subjetiva, ligada ao sexo. Já Butler (2003) questiona o dualismo sexo (biológico)/gênero (cultural). O movimento feminista é tão heterogêneo quanto a diversidade compreendida pela categoria mulheres. Nessa mesma linha, o entendimento de gênero também se multiplica e foge de um consenso.

Entende-se ainda, tal qual Foucault (2002), que os discursos, entre eles os jornalísticos, fazem parte e se legitimam ou são excluídos a partir de relações de poder. E que o ideal de ‘objetividade’ adotado amplamente pelo jornalismo pode ser ainda a maior barreira à uma linguagem jornalística mais representativa e igualitária (BARROS FILHO, 1995).

Resultados esperados

A análise do histórico dessas publicações permitirá avaliar como a linguagem se modificou (ou não) ao longo do tempo, podendo evidenciar também relações entre as pressões dos movimentos feministas, as conquistas femininas e variações na linguagem. O retrospecto também permitirá avaliar como o movimento feminista é retratado por esses veículos e, principalmente, propor soluções e sugestões de modificações da linguagem jornalística a fim de torná-la mais inclusiva.

Referências

BARROS FILHO, Clóvis. Ética na comunicação: da informação ao receptor. São Paulo: Moderno, 1995.

BUTLER, J. P. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: aula inaugural no College de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970, 5. ed. São Paulo: Loyola, 1999.

FREIRE, P. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 2011.

MEDINA, C. Ciência e jornalismo: da herança positivista ao diálogo dos afetos. São Paulo: Summus, 2008.

ROMANCINI, R. História e jornalismo: reflexões sobre campos de pesquisa. In: LAGO, C.; BENETTI, M. (Orgs.). Metodologia de pesquisa em jornalismo. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2010. p. 23-47.

SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil para análise histórica. Traduzido por: DABAT, C. R.; ÁVILA, M. B. New York, Columbia University Press, 1989. Disponível em <http://www.observem.com/upload/935db796164ce35091c80e10df659a66.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2017.

TELES, M. A. A. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1993.