Portal de Conferências da UnB, VI SEMINÁRIO HISPANO-BRASILEIRO DE PESQUISA EM INFORMAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E SOCIEDADE

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A MEDIAÇÃO DE LEITURA COMO RECURSO BIBLIOTERÁPICO NA TERCEIRA IDADE: VIVÊNCIAS EM LARES ESPECIALIZADOS DE ARACAJU
Isis Carolina Garcia Bispo, Melânia Lima Santos, Valéria Aparecida Bari

Última alteração: 2017-10-05

Resumo


Resumo: A leitura possui uma ação terapêutica quanto aos cuidados dedicados aos idosos, pois ela permite a interação com novos conhecimentos, narrativas, lidando com as emoções, reavivando memórias e criando oportunidades de diálogos e troca de ideias entre círculos leitores. Além disso, no contexto dos idosos, a leitura ajuda a manter a mente em funcionamento, uma vez que com a velhice alguns desempenhos fisiológicos e cognitivos do corpo, como a memória ficam enfraquecidos por causa da idade. Assim, com base nesse contexto, este trabalho tem como objetivo vivenciar a mediação de leitura para idosos como recurso biblioterápico. Essa ação planejada pretende, além da vivência proposta, observar a realidade deste público, as suas necessidades informacionais e interesses, a fim de propor projetos de intervenção mais duradouros de aplicação da biblioterapia, que contribuam com a mobilização da comunidade universitária para a integração e transformação sociais. Para isso, como método utilizou-se no desenvolvimento uma pesquisa de campo, com abordagem qualitativa, sendo que o ambiente de observação social escolhido foi o Asilo Rio Branco, localizado na cidade de Aracaju/SE. Aliás, neste primeiro momento, constatou-se que a mediação de leitura, com finalidade biblioterápica, tem viabilidade e ótimas possibilidades de aplicação no ambiente dos lares especializados, proporcionando bem-estar entre os idosos, melhorando a sociabilidade e, até mesmo, promovendo o contato de gerações entre universitários e idosos.

Palavras-chave: Biblioterapia. Idoso. Instituição geriátrica. Terapia da leitura.

1 INTRODUÇÃO

Esta comunicação científica, de cunho descritivo, pretende sistematizar observações de campo para entender a aplicabilidade de práticas de mediação de leitura voltadas à terceira idade, a partir do recurso biblioterápico, com ênfase na intervenção em ambientes sociais organizados para seu abrigo, como os lares especializados.
A Biblioterapia, muito embora exercitada desde a Antiguidade, teve sua prática pesquisada e sistematizada por profissionais da saúde e da Ciência da Informação no século XX. Por meio de levantamentos de sua teorização, a professora Clarice Fortkamp Caldin (2001), em seu texto “A leitura como função terapêutica: biblioterapia” enfatizou a produção da estudiosa norte-americana Caroline Shrodes, a formuladora do conceito como o aplicamos na atualidade, no qual a biblioterapia é um processo “[...] dinâmico de interação entre a personalidade do leitor e a literatura imaginativa, que pode atrair as emoções do leitor e liberá-las para o uso consciente e produtivo” (SHRODES apud CALDIN, 2001, p. 2, grifo do autor).
O processo de leitura tem um papel importantíssimo na vida das pessoas. É através dela que os seres humanos podem manter suas relações uns com os outros, interagir com o mundo, fazer associações, absorver as histórias e delas obter conhecimento. Na terceira idade, é possível que a alienação dos ambientes produtivos e também de vivências familiares criem a sensação de que não é mais possível aprender ou contribuir para a construção do conhecimento e da cultura. Porém, a maturidade guarda em si o precioso recurso da experiência vivida, um conhecimento tácito do qual a sociedade se encontra sempre necessitada.
Nas últimas décadas temas ligados ao envelhecimento ganharam destaque nas produções acadêmicas, sobretudo prospectando a sociedade contemporânea brasileira. Segundo a professora Guita Grin Debert (2004), a preocupação com o envelhecimento está relacionada ao fato de que os idosos correspondem a uma parcela da população cada vez mais representativa no campo das preocupações sociais. Essa conjuntura deve-se ao seu crescimento numérico e a vários outros fatores estruturantes como, por exemplo: as demandas relativas ao espaço social, o tempo, o corpo e a saúde, o que demanda em uma ressignificação do conceito de envelhecimento adequado.
Nesse caso, para Debert (2004), a gestão da velhice durante anos foi relegada a esfera privada ou familiar, de foro individual ou das associações filantrópicas, sendo que na contemporaneidade ela se transforma em uma questão pública, prevendo um modo específico de gestão. De tal modo, a tendência contemporânea está aliada a uma revisão dos estereótipos associados à velhice, como a decadência física e a dependência, dando espaço para concretização do argumento de que essa fase da vida é o momento propício para novas conquistas, pautado pela busca do prazer e pela satisfação pessoal.
Pensando na superação desses estereótipos, o lazer voltado para pessoas idosas, está relacionado ao que Debert (2004) conceituou como reprivatização da velhice. Logo, considerando os distintos tipos de diversão, a leitura é uma forma de entretenimento que traz inúmeros benefícios, mantém a mente funcionando bem, o sujeito pode assimilar informações e, por conseguinte, renovar os aspectos opinativos, as memórias, as emoções, e sentir que está novamente hábil para expressar-se (SILVA, 2002).
Um livro pode servir de companhia para aqueles que se sentem sozinhos. A interação com novos conhecimentos por meio da leitura abre oportunidades para reflexões, reaviva as memórias, apoia a troca de ideias entre as pessoas, por meio do diálogo e, até mesmo, possui uma função terapêutica. Por essa razão, a Biblioterapia já é reconhecida, na área médica e também da Ciência da Informação, como um recurso de promoção do bem estar e da saúde. Porém, a falta de incentivo à leitura, voltada para a terceira idade, principalmente nos ambientes das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) , popularmente conhecidos como asilos, é algo que tem sido pouco visualizado pela comunidade acadêmica.

2 METODOLOGIA

A Biblioterapia foi escolhida pensando na importância da inclusão dos residentes de ILPIs, em atividades que estimulem a descontração, o entretenimento e a socialização. Entretanto, quanto à formação do profissional habilitado para participar em programas de mediação de leitura para o público idoso, ainda é uma incógnita conceitual, no entanto, sabe-se que a graduação em Biblioteconomia e Documentação, que seria o curso voltado para esta área, não oferece aprofundamento conceitual sobre a leitura dirigida e as suas práticas.
Nesta perspectiva, a proposta da observação de campo e da vivência biblioterápica, neste estudo, foi idealizada como etapas de planejamento de um projeto de intervenção social, desenvolvido por representantes da universidade junto ao idoso que vive nos lares especializados de Aracaju, com foco na atuação de discentes e docentes da graduação em Biblioteconomia e Documentação, curso ofertado, no estado, exclusivamente pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Para a coleta de dados, foi elaborado um questionário semiestruturado, com perguntas abertas e fechadas, aplicado com os coordenadores/gestores do referido asilo, a fim de obter as informações necessárias sobre a situação dos idosos; sua disposição e os recursos necessários á implantação de práticas de mediação de leitura. A pesquisa de campo possui caráter qualitativo, porque a problemática foi observada no contexto situacional, em que se buscou interpretar fenômenos e comportamentos do público sênior e, finalmente, diante da análise dos dados coletados, propor ações de extensão que satisfaçam os requisitos necessários ao desenvolvimento de uma ação de cunho intervencionista a partir de critérios em nível superior.
Sabe-se que toda a pesquisa parte de uma inquietação, que conduz a questionamentos, buscando a solução. Para Gil (2010, p. 42), o conceito de pesquisa “é descobrir respostas para problemas mediante os procedimentos científicos, para obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social.” No caso deste artigo, o estudo se desenvolveu a partir de um problema, qual seja: a falta de incentivo à leitura de lazer nos lares especializados , em Aracaju.
Assim, o método desenvolvido neste artigo se desenvolveu de três formas: a primeira refere-se à revisão bibliográfica com a leitura de livros e artigos acerca da temática proposta, realizando, dessa forma, uma abordagem descritiva e qualitativa, com ênfase nas obras dos seguintes especialistas: Caldin (2001), Debert (2004), Garcia (2014), Meneses (2013), Ouaknin (1996), Pereira (1996), Santos e Silva (2010) e Silva (2002); no segundo momento, foi realizada uma pesquisa de campo, em que se buscou verificar e interpretar os fenômenos da ação vivenciada, numa abordagem exploratória, que consistiu na ambientação do espaço físico, com a apresentação da equipe técnica para o conhecimento da realidade da instituição, fazendo, primeiramente o reconhecimento de campo, entrevistando a gestora; e o terceiro momento ocorreu com a vivência, em que foi realizada a leitura de textos literários com alguns idosos.
Da análise da vivência, tem-se a considerar pontos importantes que justificam a ação e sua continuidade. A ação foi realizada no dia 14 de junho, no hall do Asilo Rio Branco, com os idosos. A atividade foi desenvolvida por uma equipe de (07) sete pessoas, entre eles estão alunos do curso de biblioteconomia e documentação da Universidade Federal de Sergipe, profissionais bibliotecários, sob a supervisão da professora Valéria Aparecida Bari, decana e docente do Departamento de Ciência da Informação (DCI/UFS).
A aplicação foi positiva e bem recebida, tanto por parte dos idosos como pela equipe formada por estudantes do curso de Biblioteconomia e Documentação, uma docente e duas bibliotecárias. Na atividade, dos 27 (vinte sete) idosos que residem no asilo apenas 12 (doze) compareceram, sendo estes separados em grupos que foram distribuídos em pequenos grupos (de três (3) até quatro (4) pessoas). Os voluntários ficaram livres para escolher os livros (literatura de cordel e poesias) já pré-selecionados, procedendo à leitura em tom suave e ritmo cadenciado.

CONSIDERAÇÕES

A biblioterapia, portanto, se define como um recurso terapêutico que serve de apoio a outros tratamentos, principalmente os de ordem psicológica, pois ela como já se disse em todo este estudo, tem a função de restabelecer o bem-estar do indivíduo, aliviando-o das tensões diárias, oferecendo-lhe a cura. Acredita-se que para a efetiva aplicabilidade terapêutica se faz necessário um planejamento e paciência daqueles que pretendem desenvolver serviço, pois a leitura com livros traz para a pessoa a renovação do espírito, confortando-o, dando-lhe prazer, em troca todo o sofrimento, as enfermidades e os problemas são aliviados e muitas vezes, curados.
Assim, esse trabalho demonstrou após a coleta dos dados, do questionário e a realização da leitura com os idosos, que eles possuem diferentes necessidades e alguns problemas de saúde, mas com a aplicação percebeu-se certa satisfação e contentamento. Desse modo, o Grupo de Pesquisa em Leitura, Escrita e Narrativa (PLENA), liderado pela professora Dra. Valeria Aparecida Bari, do qual fazemos parte abraçou a ideia e, pretende desenvolver a partir um projeto de extensão, tendo o objetivo de implantar a leitura para a terceira idade, tornando-o um trabalho pioneiro em Sergipe, que poderá ser ampliado a outros grupos e comunidades.
REFERÊNCIAS

CALDIN, Clarice Fortkamp. A leitura como função terapêutica: biblioterapia. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf, Florianópolis, SC, v. 6, n. 12, p. 32-44, 2001. Disponível em: . Acesso em: 25 abr 2017.


Debert, Guita Grin. Introdução: as formas de gestão da velhice e a reprivatização do envelhecimento. In: ______. A reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização do envelhecimento. 1. ed. 1. reimpr. São Paulo: Edusp; FAPESP, 2004. p. 11-36.


GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.


SILVA, Ana Lúcia Gomes da. Histórias de leitura na terceira idade: memórias individuais e coletivas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, 2., 2002, Natal, RN. Anais... Natal, RN: SBHE, 2002. Disponível em: . Acesso em: 18 jul. 2017.

Palavras-chave


Biblioterapia. Idoso. Instituição geriátrica. Terapia da leitura.