Portal de Conferências da UnB, VI SEMINÁRIO HISPANO-BRASILEIRO DE PESQUISA EM INFORMAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E SOCIEDADE

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COMPETÊNCIA INFORMACIONAL NO ÂMBITO DA FORMAÇÃO SUPERIOR HUMANÍSTICA, CRÍTICA E REFLEXIVA: ESTUDO DE CASO NA FACULDADE UnB PLANALTINA
Fernanda Regina Nascimento, Rafael Barcelos Santos, Rita Lauane Alves Rodrigues

Última alteração: 2017-10-04

Resumo


Com a globalização e o avanço da tecnologia está cada vez mais fácil o acesso à informação, porém nem sempre os conteúdos são de qualidade ou idôneos. Nota-se o grande número de alunos com deficiências de aprendizado chegando no ensino superior e tendo dificuldades para concluir o curso escolhido, para se inserir em projetos de pesquisa e extensão, bem como para se colocar no mercado de trabalho e em programas de pós-graduação de excelência. Nesse sentido, torna-se imprescindível que os cidadãos tenham uma postura diferenciada no âmbito da dinâmica de geração, comunicação e uso das informações. Trata-se do desenvolvimento da capacidade do indivíduo de mobilizar e integrar os Conhecimentos, as Habilidades e as Atitudes que permitam o uso inteligente das informações disponíveis e, consequentemente, garanta a participação ativa nos espaços tecnológicos e informacionais.
É importante que o aluno desenvolva sua independência intelectual, que lhe possibilite a construção e busca contínua do conhecimento e o desenvolvimento de si próprio enquanto ser humano e agente social, comprometido ética e politicamente com a ciência, natureza e sociedade (PPPI FUP, 2012).
A Competência Informacional (CoInfo) apresentam-se como fator estratégico na formação dos discentes, desenvolvendo uma educação voltada para a prática de pesquisa para que se transformem em participantes na produção de conhecimentos científicos e tecnológicos inovadores e não meros espectadores apenas.
Em contrapartida, vale ressaltar, segundo Dudziak (2003, p.30) três concepções para a CoInfo: a concepção da informação (ênfase na tecnologia da informação); a concepção cognitiva (ênfase nos processos cognitivos) e a concepção da inteligência (ênfase no aprendizado). É possível estender para o ambiente universitário os diferentes níveis de complexidade da CoInfo analisados e identificados por Dudziak (2003, p.30).
Enquanto disciplina, a CoInfo adquire uma dimensão que está além do mero desenvolvimento de atributos para manipular as informações em situações particulares. Johnston e Webber (2006, p.113) preconizam a CoInfo como uma disciplina emergente e de relevância social, conduzindo os indivíduos “ao uso racional e ético da informação” (JOHNSTON; WEBBER, 2003, tradução nossa). Trata-se, assim, de uma atividade socializada.
Considerada como disciplina emergente, a CoInfo pode ser desenvolvida nos discentes, tendo como fundamento os indicadores, as normas e os padrões consolidados nacionalmente e internacionalmente. Nesse prisma, podem-se mencionar as habilidades propostas pela Association of College and Research Libraries (ACRL, 2000) no âmbito do ensino superior, bem como os padrões e os indicadores recomendados pela International Federationof Library Association (IFLA, 2007). No contexto brasileiro, destacam-se os padrões e indicadores elaborados por Belluzzo (2007).
O uso inteligente das informações está indissociado da atuação ativa dos sujeitos nos setores da sociedade da informação. A conceituação é baseada nas três dimensões do conceito de competência apresentado por Durand (2000), sendo: Conhecimentos (Saber) no domínio cognitivo; Habilidades (Saber fazer) no domínio psicomotor; e Atitudes (Querer fazer) no domínio afetivo. O desenvolvimento harmônico dessas três dimensões está vinculado com o aprendizado e, consequentemente, com o desempenho das pessoas e organizações.
Na perspectiva do Programa de Formação para a CoInfo e das necessidades dos discentes de graduação da FUP, acredita-se que o formato de disciplina é a alternativa mais viável para o desenvolvimento das ações concernentes à temática. Dentre as necessidades apresentadas, destaca-se o aprendizado sobre os aspectos básicos que compõem o trabalho de conclusão de curso ou o relatório científico final, tais como: o domínio da redação científica; a estrutura dos trabalhos acadêmicos; a elaboração de citações e referências; e a redação de resumos. Acrescentam-se, também, as questões associadas à localização das informações científicas e tecnológicas que contribuem para o embasamento teórico de determinado estudo.
Diante dessa conjuntura, a disciplina de Tópicos Especiais em Biblioteconomia e Ciência da Informação: Competência em Informação para a Iniciação Científica, ofertada na FUP, tem a finalidade de capacitar os discentes de graduação para a prática de pesquisa e uso da informação científica e tecnológica, tornando-os capazes de: buscar, localizar, avaliar e usar as informações disponíveis.
Portanto, o objetivo geral desse estudo foi verificar a melhoria da formação superior e diferencial do aluno de graduação para uma melhor colocação no mercado de trabalho, bem como em programas de pós-graduação de excelência, levando-se em consideração as interfaces da inter e da transdisciplinaridade para o conhecimento integrado (PPPI FUP, 2012).
Assim, os objetivos específicos procuraram identificar ações para potencializar os conteúdos das disciplinas, a fim de promover ao egresso uma formação emancipatória e crítica, além de analisar os impactos das iniciativas realizadas para a formação superior nas disciplinas “Estágio Obrigatório”, visando uma formação científica e social transformadora ao longo da graduação; e “Tópicos Especiais em Biblioteconomia e Ciência da Informação: Competência em Informação para a Iniciação Científica”, ofertada no campus UnB Planaltina/FUP (integrada ao Programa de Formação institucional coordenado pela Faculdade de Ciência da Informação e Biblioteca Central da UnB).
O intuito é contribuir para a melhoria e diferencial do capital humano integral desenvolvido na Universidade.

METOLOGIA
O foco da pesquisa foi o uso de momentos dentro da graduação, no preparo dos alunos, principalmente os de estágio obrigatório (na preparação dos relatórios finais), para a formação e consolidação das competências e habilidades de pesquisa bibliográfica, no sentido da formação superior do graduando em todos os cursos da UnB. Para tanto, foram utilizados os indicadores da disciplina de CoInfo (de 2014 a 2017).
No que diz respeito à abordagem, a pesquisa está classificada como qualitativa Gil (1987). Este estudo pretende conhecer a motivação dos alunos para a pesquisa antes e depois de cursar a disciplina, bem como o entendimento da relevância desse conteúdo para sua vida profissional.
O estudo terá como universo os alunos matriculados na disciplina CoInfo, de diferentes cursos e semestres de graduação da UnB, na Faculdade UnB Planaltina.
É importante compreender que existe um pano de fundo onde questões cognitivas, comportamentais, sociais e culturais de cada indivíduo e dentro de seus cursos devem ser consideradas para a avaliação de impacto das iniciativas realizadas na disciplina.
Quanto aos objetivos, a pesquisa será descritiva, pois Martins (2002), afirma que tal tipo de pesquisa tem como intuito a descrição das características de determinada população ou fenômeno, assim como busca estabelecer relações entre variáveis e fatos. Segundo Triviños (1987), esse tipo de pesquisa procura detalhar os fatos e fenômenos de determinada realidade.
Quanto aos procedimentos, serão utilizadas pesquisas bibliográficas, que como Fonseca (2002, p.32) afirma “é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros e artigos científicos”, observação e aplicação de questionários de satisfação.

RESULTADOS

De acordo com os resultados coletados através de questionários de satisfação aplicados ao final de cada semestre (de 2014 a 2017), pode-se observar o crescimento das turmas e a diversificação dos cursos atendidos, conforme gráfico 1.
Desse modo, a educação para a CoInfo proporciona a formação de discentes protagonistas nas ações de geração, comunicação e uso das informações.

GRÁFICO 1 – Abrangência e evolução da disciplina na Faculdade UnB Planaltina (FUP).

Fonte: Elaborado pelos autores, 2017.

O GRÁFICO 1, mostra o início da disciplina de CoInfo no 2º semestre de 2014 com um quantitativo reduzido de discentes. Dentre os motivos, destaca-se a gênese de uma disciplina nova e que ainda precisava ser conhecida pela comunidade acadêmica. No 1º/2015, a disciplina obteve um crescimento significativo na quantidade de discentes por cursos, sobressaindo o curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEDOC). O período é caracterizado pela oferta da disciplina em dois turnos: o diurno aberto para todos os cursos; e o noturno para alcançar as particularidades do curso de LEDOC, visto que possui uma grade horária bastante intensa, com uma fase na ambiência da universidade e, outra, nas comunidades rurais. No 2º/2015, houve uma diminuição considerável na quantidade de discentes matriculados. Dentre os motivos, pode-se mencionar a transferência da disciplina para a sexta-feira à tarde, como a única possibilidade de ofertá-la no período em questão. No 1º/2016, a disciplina volta a adquirir um quantitativo significativo de discentes, principalmente entre aqueles do curso de Gestão do Agronegócio. A estratégia utilizada foi ofertar a disciplina na segunda-feira à tarde para alcançar o máximo de discentes possíveis, visto que diversas pesquisas de campo são realizadas na sexta-feira. No 2º/2016, a disciplina adquire uma fase de equilíbrio, representada pela quantidade intermediária de discentes matriculados. Já, no 1⁰/2017, a quantidade de alunos do curso de gestão do agronegócio foi praticamente a mesma, o que aumentou foi a procura pela disciplina por alunos de outros cursos fora da FUP.
Vale ressaltar, a necessidade de novas estratégias de divulgação da disciplina para os discentes dos cursos de Gestão Ambiental e Ciências Naturais, visto que foi possível alcançar uma quantidade considerável de matrículas entre aqueles dos cursos de LEDOC e Gestão do Agronegócio. Conforme demonstrado, devido à intensidade da grade horária do curso de LEDOC, a disciplina somente foi ofertada no período 1º/2015, tornando necessário repensar a melhor forma de inseri-la na realidade desses discentes. Nesse sentido, salienta-se o relato de experiência do docente responsável pela disciplina, quando aponta a necessidade de contratação de mais bibliotecários e do envolvimento de mais professores para atender às demandas apresentadas. Os “outros” representam os discentes de cursos distintos da FUP matriculados na disciplina, ou seja, aqueles que integram os outros campi da UnB. Na concepção da disciplina, a matrícula dos discentes de outros cursos é relevante para o aprendizado, visto que os discentes da FUP podem compreender a realidade de outras áreas quanto às fontes principais de informação.
Além da percepção e retorno dos alunos, manifestaram-se também inúmeros docentes, os quais perceberam em suas disciplinas a melhoria na qualidade dos trabalhos entregues e apresentados. Isso demonstra que a CoInfo, enquanto disciplina, pode apresentar resultados no curto, médio e longo prazos.
A ideia é que a disciplina aprimore seu conteúdo geral e se expanda para CoInfo 2, com conteúdos mais aprofundados, a fim de atingir não só a graduação, mas também a pós-graduação, melhorando ainda mais a qualidade dos trabalhos e pesquisas desenvolvidos na Universidade, além de fomentar a institucionalização de metodologia(s) de uso da informação na formação superior.

CONCLUSÕES
Com esse trabalho verificou-se a grande aceitação da disciplina na graduação, principalmente a enorme colaboração apresentada para alunos matriculados no estágio obrigatório. A disciplina foi tão eficaz que seus resultados já eram nitidamente sentidos ao final de cada semestre. Porém, apesar do grande impacto detectado na melhoria tanto pessoal como profissional dos alunos, os desafios ainda são imensos no sentido da institucionalização e a construção de CoInfo 2. É necessário um maior envolvimento de bibliotecários, professores e direção, no sentido de melhor atender a demanda que só cresce.

REFERÊNCIAS

ASSOCIATION COLLEGE FOR RESEARCH LIBRARIES (ACRL).InformationLiteracy Competency Standards for higher education. 2000. Disponível em: . Acesso em:18 dez. 2016.
BELLUZZO, R. C. B. Construção de mapas: desenvolvendo competências em informação e comunicação. Bauru: Cá entre nós, 2007.
DURAND, T. L’alchimie de la compétence. Revue Française de Gestion, n. 127, p. 84-102, jan./fév. 2000.
DUDZIAK, E. A. Information Literacy: princípios, filosofia e prática. Ciência da Informação, Brasília, v.32, n.1, p.23-35, jan./abr., 2003. Disponível em: . Acesso em: 2 dez. 2016.
FACULDADE UnB PLANALTINA. Homepage. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2016.
FACULDADE UnB PLANALTINA. Projeto Político Pedagógico Institucional da Faculdade UnB Planaltina. Versão aprovada na 66ª reunião do Conselho da FUP 2012.
Disponível em: . Acesso em: 7 dez. 2016.
FEDERATION OF LIBRARY ASSOCIATION (IFLA).Diretrizes sobre desenvolvimento de habilidades em informação para a aprendizagem permanente. Disponível em: . Acesso em: 19 dez. 2016.
FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
GIL, Antonio. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1987.
JOHNSTON, B.; WEBBER, S. As we may think: Information Literacy as a discipline for the information age. Research Strategies, v.20, n.1, p.108-121, 2006. Disponívelem: . Acessoem: 19 dez. 2016.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

Palavras-chave


competência em informação, formação superior, estudo de caso