Portal de Conferências da UnB, VI SEMINÁRIO HISPANO-BRASILEIRO DE PESQUISA EM INFORMAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E SOCIEDADE

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OS GRUPOS ESCOLARES SERGIPANOS COMO SÍMBOLO DO PROGRESSO
Dercio Cardoso Reis, Sergio Manuel Coelho Fernando

Última alteração: 2017-10-08

Resumo


1. Informação, desenvolvimento e sociedade.

RESUMO

Este texto busca entender como a implantação dos Grupos escolares em Sergipe entendidos dentro de um projeto de política educacional que fizeram parte de todo um processo modernizador e civilizatório no início da República em Sergipe, fazendo parte de uma política do Estado sergipano no período entre 1911 a 1930. Vale ressaltar que foi na República que se consolidou a responsabilidade do Estado para com a educação. Esse processo de construção pode ser entendido como inaugurador de determinados costumes, que seriam absorvidos pelos alunos através da educação dentro desses grupos escolares. Como: civismo, higiene, hábitos saudáveis e principalmente acabar com os vícios tão prejudiciais para o desenvolvimento da sociedade. Tomo como base referencial os trabalhos de Crislane Barbosa Azevedo e Maria Inês Sucupira Stamatto.


Os grupos escolares foram considerados no período republicano como um dos símbolos moderno da sociedade e foram implantados por meios de iniciativas estaduais. No restante do país como em Sergipe serviram a ordem e o progresso.


O signo da república deveria ser diretamente relacionado com uma cidade modernizada, higiênica e bela, e as instituições de ensino primário materializadas nos grupos escolares representavam essa escola para a ordem e o progresso. (AZEVEDO; STAMATTO,2012, p.18)

AZEVEDO e STAMATTO na obra Escola da ordem e do progresso: grupos escolares em Sergipe e no Rio Grande do Norte consideram como um dos momentos marcantes que redefiniu a organização da educação no país a criação de liceus ou ateneus no Brasil Império para o ensino secundário “destinados à formação das elites locais, através da reunião de cadeiras avulsas nas capitais das províncias em um mesmo estabelecimento, sob uma única direção e inspeção” (AZEVEDO; STAMATTO,2012, p.26). Para essas autoras um novo movimento de reunião de aulas ocorreu na instalação da República no país no final do século XIX, mas agora o destaque era o ensino primário. Com as escolas isoladas passando a ser agrupadas, inicialmente nas capitais dos Estados, e depois nas sedes de municípios. O marco foi a reforma de instrução pública do Estado de São Paulo em 1893 e do Decreto nº 248 de 1894 que introduziu os grupos escolares como instituições educacionais no Brasil.

Grupos Escolares Sergipanos

Aracaju na primeira república segundo Crislane Barbosa Azevedo (2012) passou por diversos melhoramentos com a criação de serviços e instituições como: o cine-teatro Carlos Gomes (posteriormente Rio Branco); aterros e calçamentos; criação de estabelecimentos de ensino e de pesquisa; criação do Banco Estadual de Sergipe, e a substituição dos bondes de tração animal por carris elétricos. Também dentro do processo remodelador que passou o Estado sergipano, principalmente Aracaju nas primeiras três décadas do século ocorreram a implantação de diversos serviços: luz elétrica, rede telefônica, serviços de água e esgotos, construção de escolas e embelezamento e ajardinamentos de ruas e praças


Nesse processo remodelador, os grupos escolares exerceram importante papel, pois eles contribuíram tanto para o embelezamento da cidade e a divulgação de ideais cívicos quanto para o asseio da urbe, uma vez que por exemplo, a vacinação das crianças era exigência para a matrícula e permanência delas nos grupos, fato que plantava na população um hábito caro aos higienistas (AZEVEDO; STAMATTO,2012, p.24)

O símbolo maior da busca de modernização pelo estado sergipano foi em 1911, a Reforma da Instrução Pública e a implantação dos grupos escolares. Essa iniciativa foi expandida para outras cidades do Estado, a partir de 1918, e com um foco maior a partir da década de 1920.
Em Sergipe os grupos escolares começaram a surgir no cenário urbano aracajuano por meio do Decreto nº 536, de 12 de agosto de 1911, do presidente do Estado José Rodrigues da Costa Dória, inaugurando dois grupos: Grupo Escolar Modelo e Grupo Escolar Central (em 1914 passou a ser Grupo Escolar General Siqueira) na capital sergipana. Após a implantação desses dois grupos escolares, novas construções somente a partir de 1917, e o seu crescimento quantitativo a partir da década de 1920. Grupo Escolar Modelo e Grupo Escolar Central Funcionaram, inicialmente em anexo à Escola Normal.
O regulamento do ensino primário sergipano em 1911 que inaugurou a modalidade de ensino primário em grupos escolares. Detalha os procedimentos de organização e funcionamento desses grupos, os exames e disciplinas escolares, a profissionalização docente e a fiscalização do ensino com os trabalhos dos delegados do ensino e dos inspetores escolares. O processo de implantação dessa nova regulamentação teve a participação importante do técnico paulista Carlos Silveira diretor do grupo Escolar da Avenida Paulista.
A implantação dos grupos escolares em Sergipe observou mudanças no ensino primário que atingiram não somente as crianças, mas também a sociedade sergipana no início do século XX. Crislane Barbosa Azevedo na sua obra Grupos escolares em Sergipe (1911-1930): Cultura escolar, civilização e escolarização da infância, salienta que nesse período, a sociedade passou a identificar a escola como lugar que possuía atividades específicas e não vista mais como antes como o local da casa do professor. Apesar dos grupos escolares não terem resolvidos os problemas basilares da educação, eles representaram um momento novo da universalização da escola no início do século XX.
O cotidiano dos grupos escolares eram mostrado nos principais jornais sergipanos como nas: solenidade de inauguração, resultado de exames escolares “ao simbolizar os feitos governamentais republicanos, os grupos escolares deveriam ser vistos. Pra tanto, as cerimônias de inauguração, assim como a organização espacial dos grupos, eram grandiosas e registradas pela imprensa “(AZEVEDO; STAMATTO,2012, p.49). Sendo assim, desde a construção do prédio, até a vida dos grupos escolares ganhavam destaque na imprensa sergipana, principalmente as inaugurações de seus edifícios. Era preciso fazer se ver os grupos escolares pela sociedade.
Com relação aos espaços edificados para os grupos escolares (AZEVEDO; STAMATTO: 2012) salientam que as plantas desses grupos escolares era contratada a arquitetos e engenheiros e que a construção deveria ser edificada próximas aos demais prédios representantes do poder político, econômico e religioso da cidade


E de preferência, com a praça principal a sua frente ou ao lado. O prédio da escola fazia parte, quando construído nesse período, do conjunto de imóveis a ser vistos pela população local, especialmente daquele grupo social que podia frequentar os lugares de maior prestígio da municipalidade. (AZEVEDO; STAMATTO,2012, p.28)

O planejamento arquitetônico pode ser considerado como um elemento curricular, uma vez, que seus efeitos estavam voltada para a organização disciplinar e a espacialização de sujeitos e práticas. Outro fator importante era a localização do edifício-escola, essa arquitetura escolar pública estava associada a inovação e modernidade e deveria, principalmente difundir a ação governamental pela democratização da educação. Sua construção estava associada a simbologia da cidade moderna e da legitimação da República. “Os prédios escolares fizeram parte da produção da leitura da modernidade e do progresso feita pelas elites locais e se transformaram em um dos alvos prediletos para a difusão do ideário republicano” (AZEVEDO; STAMATTO,2012, p.32).
Com relação a localização dos grupos escolares na capital sergipana, segundo os inspetores escolares e delegados de ensino estavam em consonância com as regras exigidas pela pedagogia moderna. Os tipos de problemas apresentados pelos delegados de ensino, não estavam ligados a falta de recursos ou cuidados dos envolvidos com o ensino, e sim ao desgaste natural do uso (AZEVEDO: 2009).
Uma administração importante sergipana para os grupos escolares foi a do governo Graccho Cardoso (1922-1926) que trouxe uma administração modernizadora para o Estado. Entre algumas de suas iniciativas foi a organização dos serviços sanitários e edição de um Código Sanitário, criação do Instituto parreiras Horta para pesquisa e práticas médicas e do Instituto de Química. Segundo (AZEVEDO: 2009) com relação a educação ele demostrou preocupação com os vários níveis de ensino, em especial com o ensino profissionalizante. “Iniciou a construção de novos grupos escolares no Estado, contando Sergipe, no início da sua administração, com cinco grupos e, ao final, com quatorze, sendo cinco deles em Aracaju” (AZEVEDO, 2009, p.106).
A implantação dos grupos escolares no interior do Estado seguiu a lógica do desenvolvimento econômico e do crescimento populacional das Cidades. O primeiro grupo Escolar implantado no interior foi o Grupo Escolar Coelho e Campos, na cidade de Capela em 1918. Depois desse grupo foi preciso cinco anos de espera para a inauguração de novos grupos no interior sergipano. “A justificativa para tanto por parte das autoridades competentes seria sempre a deficiência de recursos financeiros” (AZEVEDO, 2009, p.111).
Considerações finais


Os grupos escolares nasceram como instituições de ensino eminentemente urbanas, implementadas por meio de iniciativas estaduais e acabaram redefinindo o lugar ocupado pela escola no traçado urbano das cidades. Esses grupos trouxeram um movimento modernizador que foi iniciado no final do século XIX, portanto estas instituições objetivava por meio da educação conceber novos hábitos e comportamentos para a formação de um novo cidadão escolarizado, homogêneo e preocupado com a Higiene escolar. E buscavam principalmente promover os princípios da ordem e do progresso republicanos, procurando demarcar uma escola diferente e nova com relação ao Brasil Império.
Os grupos escolares souberam se integrar com o plano urbanístico das cidades, contribuindo para consolidação desse novo tipo de escola. A população sergipana assistia um diálogo entre arquitetura, modernidade e educação. Consideradas como escolas modernas e progressistas desempenharam o papel de conceber aos cidadão republicanos o caminho para o país continuar e legitimar a República e, principalmente conseguir atingir o renome de nação civilizada.

Palavras-chave


Grupos escolares; Progresso; República;