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O USO DA AURICULOTERAPIA PARA O TRATAMENTO DE ANSIEDADE E ESTRESSE EM ACADÊMICOS
Última alteração: 2021-07-10
Resumo
Introdução: A Organização Mundial de Saúde (OMS) indica que a ansiedade é a segunda condição mental, depois da depressão, com maior incidência na maioria dos países analisados. No que se refere aos acadêmicos, esses tendem a manifestar algum transtorno mental durante a graduação1. Estima-se que 15% a 25% dos universitários terão algum desses transtornos, sendo que 15% a 29% desses indivíduos podem apresentar problemas relacionados a vida acadêmica2. Segundo um relatório de 2017 da OMS, o Brasil está no topo, com 9,3% da população com o transtorno de ansiedade. Em estudantes de nível superior o sentimento ansioso está cada vez mais presente, ocasionada por demandas e responsabilidades que este novo período exige. Ela é caracterizada por uma sensação de medo, desconforto ou tensão, por antecipar um perigo ou algo desconhecido3. A ansiedade faz parte da vida do ser humano e pode ser considerada benéfica ou prejudicial, a depender da intensidade a qual é sentida. Este novo período enfrentado gera uma transição e adaptação com a nova rotina, situações novas como saída da casa dos pais, necessidade de relacionar com pessoas desconhecidas, ritmo de estudos, entre outros, são fatores que desencadeiam problemas na saúde mental, podendo gerar o aparecimento de sintomas de estresse e ansiedade provenientes das novas responsabilidades exigidas4. Em um estudo realizado com estudantes de Medicina, concluiu-se que, em um grupo de 53 alunos, 47% apresentavam sintomas de ansiedade, no primeiro momento. No segundo momento, com apenas 35 participantes, dos 18 alunos que desistiram do curso, 72% apresentavam ansiedade, enquanto o grupo que permaneceu apresentou um índice de 34%5. Outro estudo mostra que 50% dos estudantes têm a prevalência de sintomas de estresse e 41,2% se encontram em uma fase de resistência. Nessa fase, o organismo busca reestabelecer o equilíbrio do corpo através da utilização de uma energia reserva, gerando nos universitários cansaço, sensação de desgaste físico, problemas de memórias, entre outros2. Diante desse cenário, buscamos compreender melhor o uso da auriculoterapia no tratamento da ansiedade em universitários, uma vez que a técnica é simples, de fácil aplicação, rápida execução e baixo custo. Trata-se de prática excelente para o Sistema Único de Saúde (SUS), pela praticidade, por não oferecer efeitos colaterais, não ser invasiva, podendo tratar pacientes de todas as idades. Além disso, serve para prevenção de doenças e agravos6. A auriculoterapia ou acupuntura auricular é uma técnica milenar desenvolvida pela Medicina Tradicional Chinesa (MTC) que busca tratar e prevenir doenças físicas, mentais e emocionais. O tratamento ocorre através de excitação de pontos auriculares que geram estímulos nas terminações nervosas que são transmitidos ao Sistema Nervoso Central (SNC), promovendo então, a liberação de inúmeros neurotransmissores, a ativação e/ou inibição da atividade do sistema límbico, do controle da nocicepção e da inflamação6. Essa técnica é reconhecida pela OMS, aprovada pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPICS) do Ministério da Saúde (MS) e possui benefícios comprovados, porém, a sua utilização ainda é escassa e pouco ensinada pelas universidades nas graduações da área de saúde6. Objetivos: Investigar a eficácia da auriculoterapia para o tratamento da ansiedade e estresse em acadêmicos. Metodologia: Estudos publicados em português, entre os anos de 2010 e 2020, cuja referência é a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e cujos descritores utilizados foram Auriculoterapia e Ansiedade, conjuntamente ao booleano AND. Como critério de inclusão foram considerados trabalhos completos e para o critério de exclusão os trabalhos repetidos. Na pesquisa – realizada de março a junho do ano de 2021 – retornaram 16 resultados, sendo um duplicado. Dos 15 trabalhos, seis eram artigos originais, seis revisões de literatura, um projeto de intervenção, uma carta ao editor e um trabalho não convencional. Desenvolvimento: A ansiedade é uma alteração na saúde mental resultante de um conjunto de sentimentos. Diante desse estado, neurotransmissores são liberados no organismo, sendo responsáveis pela comunicação entre um neurônio e outro. Noradrenalina, serotonina e dopamina são produzidos em várias regiões do cérebro e estão relacionadas com funções como atenção, comportamento de despertar, ciclos de sono, vigília, aprendizagem, memória, ansiedade, estresse, dentre outros que podem ser potencializados com a introdução em um ambiente para graduação7. Já o estresse, consiste em um estado em que a homeostase corporal se encontra em ameaça por fatores internos ou externos que geram retornos adaptativos, dentre eles, há consequências no sistema nervoso e límbico afetando assim, diferentes partes do corpo. A intensidade do estresse pode gerar sequelas como diminuição da imunidade e prejuízo na qualidade de vida8. Um aspecto bastante evidenciado é a prevalência da sintomatologia da ansiedade e do estresse relacionada ao sexo feminino. Algumas características justificam essa predominância a partir da sobrecarga profissional – onde não há auxílio de outrem – e duplas jornadas, fazendo com que dessa forma os sintomas de ansiedade e estresse sejam favorecidos em mulheres1. A inserção em uma universidade torna-se um marco na vida do indivíduo, tendo em vista a necessidade de uma decisão tomada em um ambiente novo e desconhecido, que compromete um período extenso dela. O desempenho acadêmico está aliado à capacidade de reprodução do que foi aprendido através de constantes avaliações e isso coloca o discente em contato com diversos estressores gerando insegurança, possíveis dúvidas sobre a carreira escolhida, dentre outros9. Os estudos abrangem públicos distintos, sendo a técnica realizada para a ansiedade presente em gestantes, adultos e idosos. Com acadêmicos foram identificados dois trabalhos: um artigo original e um relato de caso, o que indica a escassez de trabalhos quanto a eficácia da técnica, mesmo com a presença de altos níveis de ansiedade nesse público. Com quatro estudantes acompanhados durante oito sessões, a utilização da auriculoterapia apresentou resultados de melhora em todos os acadêmicos7. A terapia indicou melhora de 20,97% nos sintomas de ansiedade em estudantes11. As Práticas Integrativas e Complementares (PICS) são estimuladas pela OMS e consistem na busca da promoção de métodos naturais – terapias não farmacológicas – para prevenir enfermidades e recuperar a saúde através de técnicas modernas, eficazes e seguras. Evidenciando a assistência humanizada, tais metodologias se destacam pela garantia da qualidade e efetividade, além da perspectiva integral e diferenciada para o processo saúde-doença6. Apesar de ter sido desenvolvida pela medicina chinesa, atualmente a auriculoterapia é caracterizada por duas vertentes: o da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e o método francês. A MTC corresponde ao diagnóstico da doença que é feito a partir da inspeção da orelha com a justificativa de que mudanças psicológicas ou patológicas no corpo podem refletir no pavilhão auricular criando, assim, as áreas a serem estimuladas. Por sua vez, o método Francês consiste na investigação sistêmica, onde o pavilhão auricular é associado e esquematizado como um feto invertido, representando as partes do corpo e a localização dos pontos, idealizando um mapa somatotópico8. A auriculoterapia, como uma PIC (Prática Integrativa e Complementar), apresentou resultados favoráveis para a minimização dos agravos e diminuição dos casos de ansiedade e estresse. Assim, a técnica é uma alternativa para o alívio de tais condições, pois compreende a estimulação, de forma neurofisiológica, das terminações nervosas da aurícula. Esses estímulos específicos são transmitidos pelos nervos espinhais e cranianos (sistema nervoso periférico – SNP) para sistema nervoso central (SNC), dessa forma, são liberados neurotransmissores que atuam a partir de mecanismos endógenos. Os pontos da auriculoterapia podem ser estimulados de diversas formas: a mais utilizada são as sementes (mostarda ou colza), mas também são usadas agulhas de acupuntura (facial ou sistêmica), pellets magnéticos, agulhas semipermanentes, eletrofototerapia (laser ou estimulação elétrica nervosa transcutânea, TENS) e até mesmo os próprios dedos. Esses pontos devem ser estimulados de três a quatro vezes ao dia ou até o local de aplicação apresentar sensibilidade e as trocas dos pontos geralmente são realizadas semanalmente, a partir da reavaliação das situações. Os principais neurotransmissores envolvidos na ansiedade e estresse são o GABA (Gama-Aminobutírico) e os receptores de serotonina, dessa forma os pontos mais utilizados na prática são o Shenmen, rim e tronco cerebral. O ponto Shenmen apresenta-se com propriedade sedativa; o ponto do rim tem como função o aumento de energia, sendo assim, revigorante; já o ponto do tronco cerebral possui função calmante. Além disso, outros pontos também são frequentemente utilizados para a ansiedade como o do coração, subcórtex e fígado. Já para o estresse, podem ser acrescentados também pontos como Yang do fígado 1 e 210. Ademais dos benefícios físicos e psicológicos, a auriculoterapia apresenta outras vantagens: custo-benefício, segurança, técnica minimamente invasiva e demanda pouco tempo para aplicação. Por conseguinte, o método de tratamento auricular evidencia efetividade em diferentes situações clínicas que podem ser difusoras da ansiedade e do estresse, como o uso abusivo de álcool e outras drogas, demência, insônia e dor9. No entanto, observa-se falta de uniformidade sobre a quantidade de sessões a serem adotadas em uma terapêutica. Além disso, a técnica de auriculoterapia é apresentada com ausência de efeitos adversos (EA) ou poucos relatos, dentre eles dor de cabeça, dor e sangramento no local da aplicação; quando ocorrem demonstram-se boa tolerância. Consideração: Pode-se concluir que a auriculoterapia possui evidências positivas para o tratamento da ansiedade e do estresse devido a sua eficácia ao atingir o Sistema Nervoso Central (SNC). No entanto, o número de sessões necessárias não é definido, visto a ausência de padronização nesse quesito, e apesar de os protocolos serem diferentes, alguns pontos são utilizados com maior frequência e similaridade, apresentando benefícios em diferentes situações clínicas. Faz-se necessário mais estudos para evidenciar de forma concisa todos os benefícios da técnica, especificamente em estudantes. Acredita-se que uma opção para uma maior adesão à auriculoterapia e/ou outras práticas alternativas seja desconstruir pensamentos de que essas terapias complementares não são eficazes. A auriculoterapia é, portanto, uma técnica que se interlaça com os conceitos de uma assistência humanizada e integral por buscar uma maneira natural – não farmacológica – de tratar comorbidades e para além, promover a prevenção ao adoecimento.
Palavras-chave
Auriculoterapia; Ansiedade; Estudantes