Última alteração: 2021-07-07
Resumo
Introdução: O cenário pandêmico trouxe novos contextos para a educação médica, exigindo adaptações e novos olhares para a formação em saúde. Uma das adequações reside na implantação do ensino no formato a distância, em caráter emergencial, adotado por quase todas as escolas médicas, implicando em déficits na comunicação e no suporte ao estudante, na suspensão e no ajustamento remoto de aulas práticas, potencializando os sintomas de transtornos mentais comuns. Diante desse enquadramento, o cuidado espiritual se faz indispensável no enfrentamento de inquietudes e aflições, e na promoção de sustentação e tenacidade diante das intempéries do panorama pandêmico. Objetivos: Relatar o atravessamento de estudantes de medicina de uma escola médica particular no ensino remoto emergencial. Descrição: Os impactos da pandemia têm se estendido por um tempo maior que o esperado. O silêncio imobilizador e a falta de suporte da faculdade, experimentado pelo grupo de seis estudantes do curso de medicina, contribui para um contexto inédito de indefinição, que provoca o traspassamento e vivência de novas sensações e angústias. A adaptação do ensino médico presencial para o ensino a distância evidenciou lacunas no que tange à atenção psicossocial destinada a tais estudantes. A mecanização do ensino médico brasileiro é herança de uma educação bancária e mercantil, que pouco se alinha aos modelos internacionais de formação. Com a ausência de políticas e estratégias institucionais, percebe-se a mobilização estudantil no desenho de ações, fortemente alicerçadas pela extensão universitária, na promoção de saúde a partir do auxílio dos benefícios da espiritualidade, expressos em momentos de contraturno, em rodas de conversa on-line que contavam com momentos devocionais, de estudos edificantes e partilhas. Metodologia: Foram realizadas rodas de conversa em contraturno à grade curricular. Os momentos foram facilitados e mediados por estudantes, gerando horizontalidade na prática e a participação multilateral dos agentes envolvidos. Buscou-se a promoção de momentos de relaxamento, escuta acolhedora e ativa, além de inter-relacionamento com práticas religiosas individuais, leituras e reflexões coletivas a partir do debate dialógico. Resultados: Em um cenário tão adverso e inesperado, a aproximação aos conceitos e às práticas da espiritualidade apresentaram-se essenciais tanto para o enfrentamento da negligência institucional, quanto para as incertezas perante o ensino remoto circunstancial. Deste modo, surge a espiritualidade, que dimensiona e redimensiona o sentido da vida com um dinamismo interno, auxiliando na compreensão dos sofrimentos e na construção de significados e propósitos. Os momentos de encontro síncrono, facilitados pelos estudantes envolvidos em atividades de extensão e familiarizados com a temática, suscitaram o surgimento de uma rede de apoio de cuidado espiritual, além do fortalecimento de ações de iniciativa estudantil para a promoção de saúde mental e bem-estar.