Última alteração: 2021-07-10
Resumo
Eixo Temático: Espiritualidade. Palavras-Chave: (Espiritualidade; Neurologia; Sociologia; Prazer-Desprazer; Psicanálise). Introdução: O propósito desta revisão é realizar uma reflexão de cunho epistemológico do sofrimento, utilizando-se de olhares da medicina, psicanálise, sociologia e Cristianismo. Assim trazendo uma análise crítica com uma união de diferentes tipos de conhecimento. Entre os autores analisados estão Freud, Theodore Dalrymple e João Paulo II. Este último, em sua carta apostólica, contempla toda uma historicidade do conceito, trazendo um visão espiritual e histórica do sofrer, assim sendo usado sem intenção teológica, mas permitindo trazer à tona pontos de intersecção entre a psicanálise, medicina e espiritualidade. Portanto, a união destes vários conhecimentos parece convergir em um entendimento do sofrimento humano. O trabalho inicia-se pela análise psicanalítica e neurológica do sofrimento e seu oposto, estabelecendo uma relação com a subjetividade e a busca do prazer, progredindo para uma análise sociológica e finalizando-se com uma perspectiva histórica e espiritual. Objetivos: O propósito desta revisão é estudar as diferentes perspectivas a respeito do sofrimento, de maneira epistemológica, integrando perspectivas históricas, medicinais, psicanalíticas e a relação das peculiaridades modernas em relação ao sofrimento, com finalidade de trazer um significado mais completo ao tema. Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura assistemática que foi elaborada a partir de etapas: A primeira etapa consiste nas palavras principais para busca: psicanálise, sofrimento, neurologia, cultura do prazer. Então a busca na literatura, análise crítica dos achados, considerações dos autores e por fim apresentação da revisão. O banco de dados utilizado para a pesquisa consistiu no PubMed e Google Acadêmico. Dois livros foram utilizados e uma carta apostólica. Desenvolvimento: O sofrimento humano pode ser compreendido como um dos grandes mistérios da humanidade, sendo, em tempos, uma fonte de rejuvenescimento, reconciliação, ressignificação, e em outros a razão de dúvida e ausência de significado.¹ Por muito foi matéria da fé, e depois da filosofia e da medicina.¹ A concepção de sofrimento e seus associados, o prazer, desprazer, dor tiveram seus estudos expandidos e concepções alteradas desde o movimento pioneiro Freudiano em determinar a relação prazer/desprazer.³ A medicina descreve o sofrimento como uma quebra da integridade do eu, ou um estado de angústia grave, com a possível consequência da desintegração.⁸ Esta ameaça em si, já constitui o suficiente para manter o sofrimento apesar de não ter se concretado.⁸ A medicina através da neurologia e psicanálise buscam respostas orgânicas, anatômicas e subjetivas, voltadas a toda mecânica consciente e inconsciente para uma resposta do funcionamento deste mecanismo. Mas, não se pode entender que a medicina abrange o sofrimento humano em sua totalidade e universalidade, o sofrimento vai muito além desses conhecimentos, atingindo diversas dimensões que estão além da medicina.¹ O significado do sofrimento apresenta muitas respostas que podem ser vistas como partes de uma mesma verdade. Ele pode ser interpretado como, desde um pontual infortúnio que causa desprazer, até um sentimento de desamparo, dor, abandono e, em um campo espiritual, chega aos princípios da edificação Cristã. A medicina é capaz de elaborar algumas respostas para a gênese de sua essência. Para isso, a neurologia moderna observa na psicanálise e no trabalho de Freud caminhos para se verificar as teorias propostas. A psicanálise em sua busca para compreender o comportamento, motivação e construção do ser humano, buscou em sua teoria de pulsão uma resposta para esta incógnita.³ Nesta teoria o homem encontra-se em um conflito interno constante entre o sofrimento e uma busca pelo alívio. Assim, o prazer surgiu então como um princípio que justificasse a pulsão do homem, este princípio sustenta-se em um estado de excitação, (sendo este o desprazer) que busca o equilíbrio, assim usando do prazer para atingir um estado de baixa excitação, as pulsões portanto tem o fim de suprimir este estado de alta excitação. Assim, as pulsões funcionam relacionadas a energia, como no bebe que busca saciar seu incômodo (sofrimento), gerado pela fome, em usar de seu instinto para satisfazer-se no aleitamento, mas deve existir uma energia mínima necessária para desencadear a busca por essa satisfação, ainda mais em um estágio da vida tão vulnerável.³ O mecanismo responsável por isso na neuropsicanálise corresponde ao “BBURB” (Bilateral, Bipolar, Universal Response Potentiating System), estimulando o indivíduo com uma mínima energia necessária para agir e florescer sua própria consciência.³ Acredita-se que ele interaja com os sistemas sensório motores, afetivos e a resposta autônoma do corpo, integrando também o sistema “Seeking”, ou procurador, este último é responsável por funcionar semelhante a líbido Freudiana, atuando como um estimulador da interação com o meio externo, como a líbido que busca um objeto.³ Assim esse sistema funciona de maneira pré representação, movendo todo o organismo e alterando seu comportamento para atingir o objetivo final de projeção ao mundo exterior, buscando a interação com o objeto, vinculação e por fim a realização.³ Freud, em Além do Princípio do Prazer, abre caminho para o estudo da compulsão da repetição, algo que estaria acima do prazer, pois não conseguia-se responder como o homem poderia reproduzir ações e situações que lhe causasse sofrimento, como nas vítimas de estresse pós traumático, após a Grande Guerra.³ Foi-se determinado então, que isso deriva do desejo do Ego de dominar a natureza.³ Uma motivação intrínseca que está independente de como o meio externo pode interferir com o prazer, aqui é uma luta pelo ser em sua independência e curiosidade, um verdadeiro impulso de autodeterminação, estabelecendo então uma correlação íntima entre sofrer e autodeterminação.³ Esta autodeterminação dá origem ao seu que chama de “agency”, que seria este impulso para dominar o ambiente e o próprio corpo, como uma vingança por ter sofrido, algo que foi testado em infantes que tinham maior observação por fotos suas antes mesmo de contextualizar-se diante de um espelho.³ Mecanismos puramente orgânicos, como dos neurotransmissores, sistema de recompensa e tamanho de regiões anatômicas provou-se secundário e não mais o ator principal de motivação para o comportamento humano, parecem estabelecer relação de auxílio e estímulo, mas apenas de maneira adjuvante ao desejo subjetivo, memória e cultura.³ Por isso, observa-se um importante componente subjetivo de interpretação do meio externo para com a atitude do ser. É este mesmo mecanismo que pode tornar um sabor doce em um sentimento de extremo desprazer ao associá-lo com um fator subjetivo que cause frustração.³ O prazer e o desprazer apresentam-se intimamente relacionados (caracterizado por Freud como um dinamica masoquista), na qual o prazer apresenta um aspecto hedonístico que envolve diferentes sistemas, e o desprazer compartilha das mesmas categorias de sistema.³ Aqui, no componente hedonístico encontra-se o fator da recompensa, intimamente relacionado com o completar da ação, com o consumo do que se desejava, o gostar de consumir; outro componente é o motivacional que é identificado como desejar, querer o objeto; e o último seria o relativo à memória, o aprender a recompensa que há naquela tarefa, naquele fazer, sendo um importante fator cultural e subjetivo.³ O desprazer compartilha destes pontos, no primeiro (recompensa) ele apresenta-se como o sofrer, permanecer naquela atividade não traz gratificação, mas apenas sofrer; no segundo (motivacional) tem-se o evitar, não se deseja o objeto, mas se evita a tarefa; e o terceiro (memória) apresenta-se como associação da tarefa com algo ruim, o objeto não é algo que imponha gratificação.³ Entendo esse caráter subjetivo e cultural, que abrange desde a memória até a interpretação pessoal da experiência, deve-se agora analisar a interpretação cultural moderna do prazer/desprazer. A representação do prazer na cultura popular pode ser compreendida como uma incessante busca do mesmo, vista como algo excitante, estimulante, desejável e popular.⁴ O prazer não deve ser mais tido como um fim, que tornava válido todo o trabalho penoso para o adquirir, mas como uma commodity de consumo intenso e diário, tornando-se um modo de vida popular, principalmente entre os jovens.⁴ Nesta população, exibido em seu consumo excessivo de álcool, o componente motivacional parece ter forte influência no espectro de colocar as preocupações de lado, mas ao mesmo tempo apresenta um forte efeito colateral, pois a intoxicação chega a pontos de perda da capacidade de retornar para casa sozinho, intensos sintomas pós intoxicação, perda da capacidade de se defender e limitação financeira ao se poupar exclusivamente para o consumo de álcool.⁴ O uso intoxicante de álcool como fim farmacológico para se obter a suposta sedação (prazer), sentido de felicidade e euforia, apesar de qualquer dano colateral e da amnésia que muitos experimentam, demonstra o descaso com a integridade própria em benefício a uma ideia de fuga do desconforto moderno.⁴ Preocupantemente, o consumo de álcool excessivo por jovens depressivos, ainda que não considerado como dependência, apresenta-se compatível, em nível neuropsicológicos, com etilistas crônicos com décadas de uso abusivo de álcool.⁶ O uso de substâncias por adolescentes e jovens, (visto como um desejo de que se deve experimentar de tudo)² afeta e dificulta a maturação do cérebro que apenas encerra-se na terceira década de vida.⁶ Não obstante, o uso de alimentos como fonte de prazer, semelhante ao consumo excessivo dos jovens, e eventual patologia associada, no caso a obesidade, teve como correlação um índice socioeconômico reduzido e de menor escolaridade, implicando um denominador cultural para essa busca de prazer no alimento. Como fator contribuinte para a situação cultural da significação do prazer e sofrimento, tem-se a sociedade de consumo, que surgiu como o novo padrão de comportamento desde 1970.⁷ Essa sociedade é definida como um triunfo dos desejos sobre as necessidades, e o outro aspecto é o expressivo individualismo.⁷ De maneira que, o consumismo da sociedade pode ser compreendido principalmente pelo seu intencionamento hedonístico, ou seja, atingir o prazer com fim em si mesmo.⁷ Assim, nasce o cidadão hedonista que cultua o consumismo e o tem como necessário para conceitos tal como a felicidade e a realização, gratificação máxima, e um passaporte para o paraíso.⁷ Nesse contexto, não parece haver perspectiva de utopia, ou compaixão, ou laços com a comunidade; O homem tornou-se apenas mais um commodity em um processo de atomização, ausência de significado e um constante sofrimento que estimula a busca incessante de prazer.⁹ Para Theodore Dalrymple, a nova cultura remodelou a visão subjetiva do prazer, algo que teve como grande influência o período romântico, esse teve como seus fundamentos o que seria o grande mal estar com a modernidade, a revolta do homem contra a nova era que chegava com a revolução industrial e o iluminismo, algo que vinha desde o período árcade e o desapontamento com tudo que veio junto a vida urbana.² A partir disso nasceu um culto a vida noturna e boêmia, o uso de drogas e eventual vício, tudo que auxiliasse a fuga do mundo moderno e os valores impostos pela nova realidade, pois o mundo adquiriu um aspecto cruel, sofrido e terrível aos olhos destes autores, o amor era agora inatingível, a vida era cruel e infeliz, a sociedade hipócrita e fetichista, assim, o homem estava em crise, em um pessimismo com o mundo que teria como conclusão o sentimentalismo.² A interpretação do mundo tornou-se romântica, e é possível observar esta constante romântica na história, havia sempre este mal estar com tudo, um sofrimento pulsante e moderno, que foi auxiliado pelas guerras mundiais e a dinamicidade da informação.² O próprio Wolfgang Goethe, autor influente romântico, percebeu que o Romantismo era uma doença.² Como consequência, sentimentalismo pode ser definido como uma reação exagerada de emoção, falsa e de caráter público, ele ergue-se, então, como um novo autoritarismo do exibicionismo sentimental, onde é necessário o tempo todo mostrar suas emoções de maneira exacerbada, como os jovens alcoólatras, todos que demonstrem introspecção e não atuem de maneira histriônica é portanto culpado.² Essa cultura dá um novo significado ao fator de recompensa do prazer, e o seu oposto, o sofrimento, através de vias culturais e perceptuais da nova realidade. Assim, obteve a superioridade moral quem se identificava como pertencente ao grupo do sofredor, não obstante, o movimento romântico também foi responsável pelo preconceito de que o vício em drogas e álcool é irreparável, imediatamente viciante, e parece não necessitar de qualquer intencionalidade em sua cronicidade, pois os autores românticos constantemente retratavam seu vício em ópio e álcool desta maneira, que ficou imortalizada no inconsciente popular e contribuiu para sua projeção a várias outras drogas modernas.² O desejo sexual também é cultuado, a liberdade sexual tornou-se uma necessidade, como uma constante caçada pela viciante paixão, paradoxalmente também exigindo-se a dominação do corpo do outro.² Paralelamente, há um exercício da agressividade e violência ao lado deste sentimentalismo, pois a excessiva auto indulgência confere como efeito colateral a violência, este outro hábito do sentimentalismo é refletido na crescente violência com as crianças, professores e os crimes passionais, estes motivados principalmente pelo ciúme sexual.² Os sentimentalistas tem como hábito comparar-se à vítimas da escravidão e aos massacrados nos campos do Holocausto, essa atitude deve ser considerada como autopiedosa, entende-se que o sofrimento de quem o faz não é um meio para se obter alguma mudança adaptativa, ou uma busca para se retornar ao equilíbrio, mas simplesmente um fim em si mesmo, como uma muleta para a auto estima.² Conseguinte, o sofrimento adquire não mais um aspecto motivacional negativo, parece atrair um público que busca ganhos com ele. Essa atitude de busca de conforto em uma posição de vítima que merece ser afagada pela sociedade constitui a essência do sentimentalismo.² A atitude descrita, de pessoas supostamente saudáveis, e seu potencial extremismo, assemelha-se com pacientes com um comportamento divergente, ou perverso, tal como os pacientes com disfunção do córtex orbitofrontal. Estes pacientes são caracterizados com agnosia moral, apetite pelo risco, impulsividade, labilidade emocional, infantilismo, motivação hedonística, apraxia moral.⁵ Clinicamente, o infantilismo é observado como uma regressão a impulsividade inerente a crianças, hiperatividade, descuido, tagarelice e fantasias inocentes; A impulsividade tem como relação o caráter explosivo, comportamento conflituoso e rude; A labilidade age como uma frequente e rápida alternância entre pouco motivada e eufórica; O hedonismo apresenta-se como a impaciência e ausência de controle, o prazer desejado deve ser realizado imediatamente, tempo sendo um fator essencial; A agnosia moral deriva do pensamento acrítico, egoísmo, desconsideração pela situação prática e real, ausência de experiência com a moralidade, segurança pessoal e eventual frivolidade das decisões, constantemente impedindo os relacionamentos de longa duração e dando um caráter de busca sexual intensa e constante; Essas fantasias também falam a favor de atitudes sem qualquer autocensura, e intensa negligência por tabus, regras, leis, normas; A apraxia moral surge como a incapacidade de cumprir normas sociais, leis, assim sua manifestação consistirá no paciente com comportamento rotineiramente delinquente, irresponsável e vulgar.⁵ Esta comparação não tem como fundamento um caráter grosseiro a cultura moderna, mas a semelhança entre a mesma e algumas características consideradas como perversas na medicina. Já para o Cristianismo, em uma abordagem histórica de sua essência e indiscutível influência sobre o ocidente, reflete o sofrimento como uma força verdadeiramente sobrenatural e ao mesmo tempo humana, simbólica e redentora, podendo-se estender a dizer que A Sagrada Escritura é um livro sobre o sofrimento.¹ Os animais têm sua angústia encerrada na dor, porém, o humano atinge múltiplas dimensões em seu sofrimento, sendo mais complexo em sua essência, portanto, necessariamente humano.¹ Neste sentido o sofrimento bíblico é observado nas dimensões de sofrimento moral como o perigo de morte, morte dos outros, morte dos filhos; é também abordado a ótica da extinção, perseguição, depressão, abandono, remorso, ser vítima de injustiça, infidelidade, escravidão, ingratidão; Também são citados episódios de somatização do sofrimento em fígado, rins, vísceras e coração.¹ O sofrimento é abordado em sua dimensão indiscriminatória na história de Jó; aqui o sofrimento não se apresenta como algo que serve à justiça, ele não é derivado desta força, nela o homem perdeu tudo que tinha, todos os seus bens terrenos, teve a ruína de sua família, isso tudo apesar de ser bom e justo.¹ Ao final, tem seus três amigos constantemente tentando justificar o sofrimento ao buscar os erros de Jó, para aquilo que lhe ocorreu pudesse ser justificado, pois, é costume achar que o sofrimento é sinônimo de punição, mas Jó não indulgiu em autopiedade.¹ O Cristianismo então busca a sua significação do sofrimento na Paixão de Cristo. Isto é observado em dois momentos bíblicos, o primeiro é o episódio no Getsêmani e o segundo é o episódio em Gólgota. No jardim de Getsêmani, Cristo já convicto de seu destino, pede à Deus que, se possível, o livre deste cálice, porém se não for possível passar o cálice sem que dele beba, Cristo o fará.¹ Aqui, clama-se que se livre desse sofrimento, como o homem que suporta o mal também suplica que seja livrado do sofrimento que há de enfrentar, simbolizado pelo cálice.¹ Cristo, convicto de seu destino, suplicou que fosse poupado do cálice, mas não exitou em tomá-lo quando não havia outra maneira de realizar sua missão senão enfrentando o sofrimento que lhe aguardava.¹ No próximo episódio, em Gólgota, testemunha-se a conclusão do sofrimento de Cristo, representado quando pergunta a Deus por que o abandonaste, e através de todo o sofrimento e tormento que ele suportou, pode então expirar sua certeza de que tudo estava consumado.¹ O sofrimento aqui tendo um sentido de conclusão e completação da vida. Estes episódios foram apenas possíveis pelo imensurável amor de Cristo pelo mundo, estando assim disposto a submeter-se a toda a dor e humilhação que lhe esperava, foi o motivo de não tentar fugir ou justificar-se em seu julgamento, e de aceitar obedientemente aquilo que lhe ocorria, não de maneira passiva, mas de maneira constantemente ativa no amor que lhe permitia seguir em frente.¹ O motivo de tanto amor vinha da necessidade de salvar o homem, que tanto amava, do pecado e da morte, o que Cristo poderia somente realizar com sua crucificação, sofrimento redentor e morte.¹ Em seu caminho, que foi predestinado, Cristo aceitou do cálice que lhe aguardava, mas não porque em seu sofrimento havia alguma justiça, mas porque nele tomava lado ao sofredor, e principalmente, pois foi o único caminho para a salvação, e mais valia salvar o homem do que a si mesmo, assim deixou se ir até o fim.¹ Assim, estando cônscio da hostilidade que lhe aguardava, antes mesmo do episódio no Getsêmani, Cristo não abandonou o caminho que deveria percorrer, assim assumindo o manto do sofrimento.¹ Portanto, o sofrimento toma proporções que escapam ao controle humano, reduzindo então a uma difícil missão, mas necessária, de suportar o mal, apesar de estremecer-se, deve-se beber do cálice.¹ A ressurreição é colocada como sinal de vitória que Cristo obteve em seu sofrimento, assim, o sofrimento ao Cristianismo não tem caráter sintomático, mas de provação, na qual deve-se assumir os próprios sofrimentos de maneira ativa, e assim poderá caminhar junto com Cristo.¹ Por isso, o sofrimento apresenta-se como feliz para aquele que não crê na inutilidade de seu sofrimento.¹ É também dito, que este sofrimento não deve ser trilhado sozinho no mundo dos homens, não sendo permitido tratar aquele que sofre com indiferença.¹ Este aspecto da companhia é necessário para a espiritualidade Cristã, que não só coloca Deus ao lado do homem mas clama que o homem ande ao lado do homem. E por fim, ao equiparar Deus ao menor de todos, acusando que aquele que deixar de fazer algo aos “pequeninos” deixaria de estar fazendo a Deus, simboliza como também o sofrimento externo é fonte de busca para o amor, e autocrescimento. Considerações: A partir da análise do livro de Dalrymple, e sua correlação e análise dos textos de Moccia e João Paulo II, é possível não apenas caracterizar os diversos campos em que experimentamos o sofrimento mas também o que ele pode significar para diferentes percepções. Apesar de todo o império do prazer que se impõem junto a sociedade de consumo e com todos os avanços modernos, apesar do desenfreado consumo hedonístico, os sentimentos falsos da sociedade, e a imposição da projeção de sentimentos, a sociedade demonstra semelhanças com uma postura cada vez mais adoecida, e uma grande dificuldade de lidar com o sofrimento. Assim, a busca epistemológica do sofrimento humano demonstra que seus horizontes abrangem-se em diversas áreas, e como notado pela psicanálise de Freud, há um forte grau de subjetividade, confirmado pela neurologia. Por isso as mudanças culturais do homem nos últimos séculos e suas posições emocionais na atualidade, contribuem para um contraste histórico realizado por João Paulo II. Pelo exposto, o sofrimento toma proporções multidimensionais e de diversos conhecimentos, sendo extremamente subjetivo e com fortes influências culturais, devendo-se considerar o aspecto subjetivo no sofrer e como seu significado pode impactar no seu desenvolvimento.
Referência Bibliográfica:
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