Tamanho da fonte:
A MEDICINA AYURVEDA NO CONTEXTO DA PANDEMIA PELA COVID-19: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Última alteração: 2021-07-10
Resumo
Introdução: Como uma das práticas integrativas complementares à saúde (PICS), a Ayurveda é uma terapia milenar desenvolvida na Índia, fundamentada nos estudos do corpo (sharira), órgãos dos sentidos (indriya), da mente (sattva) e daquilo que você é de verdade, ou seja, da alma (atma). Nesse contexto, são utilizadas técnicas de pacificação (shamana) e de eliminação (shodana), tais como: nutrição, fitoterapia, massagem, meditação, yoga, dentre outras; sendo esses, métodos de prevenção, de diagnóstico e de cura. Dessa forma, no contexto da pandemia ocasionada pela Corona Virus Disease (COVID-19) - surto caracterizado pela cepa do vírus corona recentemente identificado -, os sintomas clínicos da doença são semelhantes aos de resfriados comuns, mas também podem apresentar um quadro de condição fatal; devido à insuficiência respiratória grave, no qual ainda não há uma terapia antiviral eficaz. Assim, a abordagem clínica se dá nas atividades intensificadoras do sistema imunológico e, para o tratamento dos casos clínicos graves, no uso de ventilação pulmonar mecânica e no uso de dexametasona (corticosteróide redutor do tempo de ventilação). Em razão do ineficiente processo de tratamento, uma vez que não há um medicamento específico e há apenas o tratamento dos sintomas, a medicina ayurveda mostra-se uma excelente alternativa para combater o SARS Cov-2, por intermédio de ervas tanto para a prevenção, pelo aumento da imunidade, quanto para o restabelecimento do sistema respiratório do paciente. Objetivos: Essa revisão literária tem a finalidade de avaliar a eficácia da medicina ayurvédica no tratamento de pacientes acometidos pelo SARS Cov-2, observando o tratamento utilizado em cada grupo (de controle e de intervenção), os seus resultados e os seus efeitos adversos. Metodologia: Trata-se de uma revisão sistemática de literatura realizada na base de dados MEDLINE/PUBMED (Medical Literature, Analysis, and Retrieval System Online), Sciencedirect e AYU (An International Quarterly Journal of Research in Ayurveda), utilizando os seguintes descritores: “(ayurveda)” AND “(covid-19)”. Dessa forma, foram incluídos textos completos, redigidos na língua inglesa, com desenho de estudo de ensaio clínico randomizado, no qual a intervenção realizada envolvia a medicina ayurvédica para o tratamento de pacientes com covid-19. Sendo assim, após a aplicação do filtro de texto completo disponível, foram encontrados 60 artigos redigidos na língua inglesa. Em seguida, foi realizada a leitura do resumo e da metodologia destes artigos encontrados e foram aplicados os seguintes critérios de seleção: desenho de estudo de ensaio clínico randomizado e abordagem da temática proposta para a revisão literária, resultando em uma amostra final de 4 artigos. Desenvolvimento: Cabe ressaltar a análise sobre a intervenção terapêutica baseada no ayurveda nestes estudos, uma vez que essa demonstrou em comum a redução mais rápida significativa (p<0,05) da carga viral nos grupos de intervenção em comparação aos grupos controle. Congruente a isso, o grupo experimental apresentou excedente melhora clínica e recuperação dos sintomas em contraste ao grupo controle. Nesse contexto, os grupos de intervenção variaram entre a faixa etária de 18 a 80 anos e utilizaram como critério de inclusão o teste RT-PCR para Covid-19 positivo e casos assintomáticos ou com presença de sintomas leves a moderados. Ademais, todos os estudos analisados foram desenvolvidos na Índia e não foi realizada a comparação de desfecho entre as diferentes cepas. Além disso, o tamanho da amostra variou de 60 pacientes a 200 pacientes, contabilizando a amostra total acumulada tem-se 255 pacientes no grupo intervenção e 220 no grupo controle. Assim sendo, para a análise do desfecho desses estudos, as variáveis do estudo foram comparadas longitudinalmente entre os grupos experimentais e os grupos controles. Nesse sentido, vale ressaltar que o tratamento utilizado variou entre os estudos, sendo eles: Vyaghryadi Kashaya¹ (medicamento ayurvédico utilizado para o tratamento de doenças respiratórias, sendo uma decocção de ervas), Samshamani vati¹ (medicamento ayurvédico para todos os tipos de febre e infecções virais, com propriedades antipiréticas e antiinflamatórias), pó fino de Shunthi¹ (medicamento ayurvédico para otimizar as funções do trato gastrointestinal), pasta de Rashna¹ (medicamento ayurvédico auxiliador na excreção do catarro e na descongestão e desinflamação do trato respiratório), Aayudh advance² (tratamento ayurvédico complementar para pacientes acometidos pela Covid-19 à base plantas), Sidda add³ (harmonização entre a dieta e o estilo de vida), Tinospora cordifolia⁴ (medicamento ayurvédico, à base de planta, eficaz para o aumento da imunidade e para combater microorganismos causadores de infecções), Swasari Ras⁴ (medicamento ayurvédico, à base de extratos naturais, eficiente para nutrir e fortalecer o sistema imune, aliviando a tosse e promovendo a excreção de catarros), Ashwagandha⁴ - Withania somnifera - (medicamento ayurvédico para aumentar da capacidade cognitiva, diminuir a concentração de glicose no sangue e combater os sintomas de ansiedade e de depressão) e Tulsi Ghanvati⁴ - Ocimum sanctum - (medicamento ayurvédico eficaz para o aumento da imunidade e utilizado para combater febre e resfriados). Desse modo, no estudo de S.M. Chitra, et al. 2021. foram realizados testes de função renal, hepática e contagem da proporção de neutrófilos nos grupos de intervenção para averiguar a segurança da implementação do tratamento ayurvédico, percebendo-se a ausência de efeitos adversos importantes; apesar da presença de componentes metálicos e minerais no tratamento proposto ao grupo experimental. Além disso, no estudo de Dutt, J et. al. 2021, não foi registrado nenhum efeito adverso no grupo de intervenção. Por fim, outros resultados significativos (p < 0,05) encontrados nos grupos que receberam o tratamento proposto foram: melhora clínica mais rápida¹, restrição na progressão da doença¹, redução nos valores séricos de IL-6¹ (demonstrando uma possível redução das chances de desenvolver a tempestade de citocinas, relacionada com o prognóstico da fase aguda da doença), tempo médio de hospitalização reduzido³, redução mais rápida da porcentagem de vidro fosco na tomografia dos pacientes³, redução significativa da concentração de TNF-α (importante marcador inflamatório)⁴ e redução na severidade da tosse, da dor de garganta, da febre e da irritabilidade.⁴ Considerações: Na pandemia pelo Sars-Cov-2 iniciada em 2020, a alta taxa de contágio viral e de mortalidade reiteram a importância de avaliar novas abordagens terapêuticas, com o fito de minimizar os impactos causados na saúde do paciente. Nesse sentido, a redução mais rápida da carga viral nos pacientes que receberam tratamento ayurvédico possibilita a utilização dessa abordagem terapêutica em países mais afetados pelo Covid-19 para mitigar a contaminação comunitária, como no Brasil, na Índia e nos Estados Unidos da América. Além disso, esse tratamento associado ao tratamento base para a Covid-19 poderia reduzir o período de hospitalização, a taxa de complicações pulmonares e o período de isolamento nos países mais afetados pela pandemia, tendo em vista a ausência de efeitos colaterais registrados. Entretanto, destaca-se a importância de realizar outros estudos com amostras mais representativas e ressalta-se a presença de viés de publicação nos estudos analisados. Por conseguinte, outra limitação dos ensaios randomizados analisados é a prevalência de pacientes assintomáticos, restringindo a avaliação do impacto do tratamento na melhora clínica. Ademais, cabe ressaltar a importância da medicina ayurvédica em outros contextos pandêmicos, já que essa prática é milenar. Nesse viés, durante a Peste Negra (Peste bubônica) - surto que acometeu a Europa no século XIV, a doença era causada pela bactéria Yersinia pestis e era produtora de sintomas como o inchaço dos gânglios linfáticos, febre, cefaléia, fadiga e dores musculares; assim sendo, com a ausência da medicina moderna, a ayurveda demonstrou grande eficácia no tratamento dos acometidos pela bacteriose por meio do uso da folha da Piper betle (trepadeira betel), cuja planta é indicada para o tratamento de inflamações, de dores de cabeça e de problemas respiratórios. Além disso, na conjuntura do contágio da Varíola - doença infecciosa causado pelo vírus Orthopoxvírus variolae cujo tratamento e a cura ainda são uma busca da ciência, enfermidade com sintomas semelhantes aos de um resfriado somado a presença de irritação na pele, a medicina ayurveda apresentou resultados favoráveis ao tratamento da doença pela utilização de sementes (pevides) de bananeira brava. Somado a isso, tem-se o cenário da Gripe Espanhola - vasta e mortal pandemia do vírus influenza no século XX -, a doença é caracterizada pela capacidade de atingir diversos sistemas do organismo, ou seja, poderia causar sintomas leve ou atingir os sistemas respiratório, nervoso, digestivo, renal ou circulatório; no entanto, a medicina ayurvédica se mostrou eficiente mais uma vez, por intermédio do uso terapêutico de Trubhuvan Kirti (mistura de pimenta-negra, de gengibre, de pimenta-longa, de manjericão, de trombeta e de aconite indiano) de acordo com caso clínico do paciente. Por fim, no âmbito da Gripe Suína - uma variação do vírus influenza, causada pela cepa viral H1N1 no ano de 2009 -, a enfermidade produz febre alta, mal-estar, cefaléia, espirros e tosse e, novamente, por meio da utilização do Trubhuvan Kirti e de plantas fortalecedoras do sistema imune, a medicina indiana milenar cooperou com a cura de indivíduos acometidos pelo vírus. Dado o exposto, é evidente a benéfica integração da prática do ayurveda à medicina moderna e ao controle de pandemias, reverberando um agente estabilizador e restabelecedor da saúde humana; devido a isso, o coronavírus pode ser vencido com estratégias de fortalecimento do sistema imunológico, como: ter uma alimentação adequada, local e sazonal - com alta concentração de nutrientes, como: legumes, verduras, cereais integrais, leguminosas, frutas e outros -, manter o corpo hidratado, cuidar da qualidade do sono, meditar e praticar atividade física.
Palavras-chave
COVID-19; Medicina Ayurvédica; Revisão Sistemática.