Introdução: A espiritualidade é algo inerente ao ser humano, pautando-se na busca de experiências transcendentais e na atribuição de significados e valores. A religião é entendida como crenças e ritos que servem de instrumento para o contato com o transcendente, enquanto a religiosidade é a vivência da religião. O processo de enfrentamento à doença possui aspectos multifatoriais, sendo necessário um modelo multidimensional para melhor compreender o paciente. A aplicação de um modelo biopsicossocioespiritual engloba o indivíduo nas diversas áreas de sua vida, evidenciando a espiritualidade como um importante elemento utilizado para lidar com o processo de adoecimento. Nesse sentido, o campo da psiconeuroimunologia (PNI) desponta como a relação entre cérebro, comportamento social e sistema imunológico, com papel acentuador ou amenizador das respostas imunológicas¹. Objetivos: O objetivo do presente estudo é analisar as alterações bioquímicas e psicossociais observadas através das práticas de espiritualidade e explicadas pela PNI. Metodologia: Trata-se de um estudo de revisão sistemática da literatura realizada no banco de dados PubMed/Medline, utilizando duas buscas avançadas, primeiro com os descritores “Spirituality” e “Psychoneuroimmunology”, e por segundo com os descritores “Spirituality” e “Immune System”, ambas pesquisas usando o operador booleano “AND”. Inicialmente foram obtidas 51 produções e após aplicar critérios de inclusão (estudos disponíveis em formato completo, escritos em inglês ou português e que envolvessem a temática espiritualidade e alterações das vias psiconeuroimunológicas) e exclusão  (materiais indisponíveis e duplicados), chegou-se a uma amostra de 10 publicações que foram lidas integralmente e analisadas para atender ao objetivo proposto. Desenvolvimento: Observou-se que as intervenções de base espiritual reduziram medidas psicossociais, de espiritualidade e religiosidade (E/R), como ansiedade, depressão, estresse, angústia e fadiga¹. Além disso, promoveram melhora do humor, qualidade de vida e atenção plena² ³. As intervenções baseadas na atenção plena são as medidas mais comumente empregadas nos estudos revisados, destacando-se como importantes adjuvantes nos sintomas relacionados ao tratamento de doenças¹ ² ³. Essas intervenções também associaram-se significativamente à alterações de variáveis neuroendócrinas e imunológicas, como reduções de cortisol, epinefrina e norepinefrina, Interleucina 6 (IL-6), Fator de Necrose Tumoral (TNF-α) e células Natural Killer (NK), além de melhoria das células leucocitárias¹ ². Outras interleucinas também foram relacionadas, porém em menor proporção e significado nos estudos, como a IL-2, IL-10 e IL-12¹ ². Por fim, um estudo demonstrou a relação positiva de um nível mais alto de E/R e células CD4 e CD8, colocando-as, respectivamente, como “auxiliares” e “supressoras”, complementando a resposta imunológica ao estresse crônico³. Considerações: A espiritualidade, além de servir de instrumento de enfrentamento, atua como otimizadora das vias psiconeuroimunológicas promovendo melhor status imunológico, maior modulação das vias psiconeurológicas, melhor reatividade do organismo frente aos fatores estressores, melhor resposta a tratamentos, maior qualidade de vida, menos morbidade e menores índices de mortalidade.

Referências:

1. Moraes LJ, Miranda MB, Loures LF, Mainieri AG, Mármora CHC. A systematic review of psychoneuroimmunology-based interventions. Psychol Health Med. 2018 Jul;23(6):635-652. doi: 10.1080/13548506.2017.1417607.

2. Hulett JM, Armer JM. A Systematic Review of Spiritually Based Interventions and Psychoneuroimmunological Outcomes in Breast Cancer Survivorship. Integr Cancer Ther. 2016 Dec;15(4):405-423. doi: 10.1177/1534735416636222.

3. Boivin MJ, Aaron GP, Felt NG, Shamoun L. Preliminary study on the effects of treatment for breast cancer: immunological markers as they relate to quality of life and neuropsychological performance. BMC Womens Health. 2020 May 20;20(1):109. doi: 10.1186/s12905-020-00971-1.