Última alteração: 2021-07-01
Resumo
Introdução: Atualmente, muito se tem falado sobre espiritualidade baseada em evidências no âmbito da saúde. A ciência tem demonstrado que a espiritualidade atua ativando áreas específicas do sistema límbico, auxiliando na redução de medo, ansiedade, tristeza e depressão.¹ Diante disso, surge o questionamento: a espiritualidade também possui relação com a dor? Objetivos: O presente trabalho tem o objetivo de determinar se há ou não relação entre espiritualidade e dor. Metodologia: Esta é uma revisão de literatura narrativa. A busca de artigos foi realizada nas bases de dados MEDLINE e LILACS, utilizando os seguintes descritores: espiritualidade AND dor. Por fim, foram encontrados 195 artigos publicados nos últimos 10 anos (de 2011 a 2021), dos quais 09 artigos atenderam aos critérios de inclusão (abordar religiosidade e dor como assuntos principais e buscar relação entre essas variáveis). Desenvolvimento: Desses estudos, 05 relacionaram espiritualidade à dor de doenças crônicas, enquanto 04 relacionaram-na à dor em outras situações. Um ensaio clínico realizado com 68 pacientes queimados, divididos aleatoriamente em grupo experimental (o qual foi submetido a três sessões de cuidado espiritual) e grupo controle, concluiu que houve uma redução substancial da intensidade da dor no grupo experimental, além de aumento na satisfação com o controle da dor. O estudo indicou que um cuidado religioso e espiritual pode ajudar na diminuição da intensidade da dor causada pela troca de curativo e resultar em maior satisfação com o controle da dor em pacientes queimados.² Um estudo caso-controle realizado com 24 mulheres com dor musculoesquelética fascial crônica e 24 mulheres saudáveis concluiu que indivíduos com alto escore de espiritualidade apresentaram menos dor miofascial, menos bruxismo e menos queixas, além de níveis mais baixos de ACTH e IgE (substâncias essas que apresentam-se aumentadas devido às reações de estresse provocadas pela dor). O trabalho demonstrou que a espiritualidade pode ser considerada uma ferramenta importante no tratamento desse tipo de dor.¹ Um outro estudo de caráter experimental randomizado contou com 147 voluntários e avaliou a mudança na percepção da dor pré e pós intervenção, utilizando o Teste Sensorial Quantitativo e o Teste Pressórico ao Frio (CPTest, sigla em inglês). A intervenção realizada foi uma sessão única de meditação mindfullness, com duração de 20 minutos, guiada por fone de ouvido. Concluiu-se que o grupo de meditação apresentou aumento da tolerância à dor no CPTest. Perante o exposto, os dados do trabalho foram consistentes com a hipótese de que a meditação aumenta a tolerância à dor.³ Considerações: Nesse sentido, de acordo com os estudos abordados, é possível afirmar que há, sim, relação entre espiritualidade e dor. Além disso, pode-se concluir que tal relação é negativa, visto que maior espiritualidade foi relacionada a menor dor (levando-se em consideração percepção, tolerância e satisfação com o controle da dor). Referências: [1] LAGO-RIZZARDI, C. D.; DE SIQUEIRA, J. T. T.; DE SIQUEIRA, S. R. D. T. Spirituality of Chronic Orofacial Pain Patients: Case-Control Study. Journal of Religion and Health, v. 53, n. 4, p. 1236–1248, 2014. [2] KEIVAN, N.; DARYABEIGI, R.; ALIMOHAMMADI, N. Effects of religious and spiritual care on burn patients’ pain intensity and satisfaction with pain control during dressing changes. Burns, v. 45, n. 7, p. 1605–1613, 1 nov. 2019. [3] SOLLGRUBER, A. et al. Spirituality in pain medicine: A randomized experiment of pain perception, heart rate and religious spiritual well-being by using a single session meditation methodology. PLoS ONE, v. 13, n. 9, 1 set. 2018.