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RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE EM PACIENTES COM DOENÇA FALCIFORME: UMA ANÁLISE TRANSVERSAL
Rodrigo De Martin Almeida, Amanda do Carmo Gusmão, Jordana Alícia Silveira Lopes, Augusto Cézar Apolinário dos Santos, Daniela de Oliveira Werneck Rodrigues

Última alteração: 2021-07-07

Resumo


Introdução: A Doença Falciforme (DF) é a síndrome hematológica e genética de maior prevalência no Brasil. Sua patogênese é complexa e envolve fenômenos vaso-oclusivos, hemólise, disfunção endotelial e inflamação, resultando em lesões multissistêmicas que comprometem significativamente o bem-estar desses pacientes1,2. Acredita-se que anteriormente à descrição científica da DF, indivíduos falcêmicos eram considerados impuros e amaldiçoados pelos pajés das tribos africanas pelo fato de não haver explicações plausíveis para manifestações clínicas tão exacerbadas e debilitantes3. A espiritualidade/religiosidade (E/R) apresenta um papel de grande relevância, garantindo acolhimento e refúgio ao sofrimento físico e mental desses pacientes1,2. Objetivos: Analisar o impacto da E/R na qualidade de vida em pacientes com DF. Metodologia: Foi realizado um estudo transversal quantitativo com 126 crianças nascidas entre março/1998 e abril/2007. Os critérios de inclusão foram: diagnóstico de DF por meio da triagem neonatal, cadastro ativo na Fundação Hemominas (FH) de Juiz de Fora e assinatura do Termo de Assentimento e Consentimento Livre e Esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da FH, sob CAAE 02790812.0.2002.5118 e parecer 419.415/2013. Utilizou-se questionário estruturado para entrevista e as variáveis analisadas foram: tipo de DF, sexo, cuidador principal, religião declarada e situação socioeconômica. A análise estatística foi realizada no programa SPSS 14.0. Foram excluídas 11 crianças por desligamento ou óbito. Discussão e Resultados: Das 115 crianças estudadas, 50,4% eram do sexo masculino e apresentavam os genótipos: SS (Anemia Falciforme) (60%), SC (33,6%) e SB-Talassemia (6,4%). A renda familiar foi de até 2 salários mínimos em 72,9% dos casos e a escolaridade da mãe, principal cuidadora, atingia o ensino fundamental completo em 62,7%. Quanto à religião das famílias, 80,2% eram católicas, 16,8% evangélicas, 3% espíritas e nenhuma declarou-se ateia. Todas as famílias entrevistadas referiram melhora clínica com a prática religiosa (p < 0,05), o que demonstrou que a busca pela E/R independe do grau de escolaridade e renda dos familiares. As práticas adotadas normalmente incluíram orações individuais e em grupo, leitura de textos religiosos e frequência a cultos1. Estudos relatam ainda que, nos portadores de DF, a E/R estão associadas ao controle da dor, alívio da ansiedade, aumento da esperança, conforto, apoio social e mudança no estilo de vida2. Considerações: Observou-se que a E/R buscada pelas famílias no enfrentamento da DF foi significativa, visto que, de acordo com a percepção dos familiares, sua prática proporciona melhor convívio com a própria doença, maior capacidade de lidar com os efeitos deletérios da DF e de superação das adversidades, otimizando a qualidade de vida e a saúde mental desses pacientes. Ressalta-se ainda que nenhuma família declarou-se ateia ou de religiões de matriz africana, o que possivelmente reflete a população estudada (Zona da Mata Mineira), mas não a realidade brasileira, uma vez que algumas regiões do Brasil têm as matrizes africanas muito presentes e enraizadas. Embora o vínculo entre E/R e DF tenha se mostrado benéfico, ainda há escassez de estudos mais amplos acerca do tema.


Palavras-chave


Doença falciforme; Espiritualidade; Religião