Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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CRISE(S) DO PROJETO URBANO: ESCALAS, ESTRATÉGIAS, TERRITÓRIOS
Carlos Feferman

Última alteração: 2020-08-19

Resumo


Em La Ville Poreuse (A Cidade Porosa) Bernardo Secchi e Paola Vigano desenham uma questão-limite para o urbanismo contemporâneo. De um lado, a superação do modelo de planejamento moderno (a “‘grande sintaxe’ analítica e representacional” dos anos 30), de outro, o esgotamento do modelo de “pequenos melhoramentos incrementais” e  “de projetos pontuais”. Em meio a essas limitações dos instrumentos históricos, como agir? A questão da ação transformadora do espaço urbano se vê tensionada de múltiplas formas: pela cidade fragmentada, pelas exigências do mercado, pela crise de representação e pela capacidade dos instrumentos de projeto. O projeto urbano, como um conjunto de estratégias que permeiam as décadas recentes, buscou equilibrar-se entre essas múltiplas exigências.

 

A noção de projeto urbano se refere a um amplo leque de ações e instrumentos de transformação urbana.  Historicamente, situa-se entre a grande escala do plano moderno e as pequenas ações do desenho urbano.  Contrapõe-se ao plano moderno, dependente do solo neutro e do espraiamento urbano. Distingue-se, também, do desenho pontual e retificador, ligado aos centros históricos, ainda que opere um retorno ao tecido consolidado. Conforma-se, assim, como ação a partir da escala intermediária.

 

O projeto urbano desenhou-se, ainda, como um campo aberto e experimental, transformando instrumentos do urbanismo e do desenho urbano e enfrentando novos problemas: territoriais, arquitetônicos, culturais, interdisciplinares e institucionais. Yannis Tsiomis observa que novas culturas urbanas necessitam de démarches adaptadas de projeto. Através do projeto urbano, viu-se testada a capacidade urbanística e escalar do objeto arquitetônico, como em Koolhaas e MVRDV entre muitos outros. Investigou-se novos territórios, rompendo a oposição simples entre centro e periferia, como nos estudos dos vazios da era pós-industrial de Nuno Portas. Buscou-se reinterpretar os sistemas estruturantes da cidade, como nas variantes da quadra urbana propostas por Portzamparc, ou no sistema de camadas sobrepostas visto em Tschumi. A essas abordagens internas ao campo do urbanismo somam-se esforços de construção interdisciplinar, de novos desenhos institucionais e de inserção em uma rede globalizada informacional e financeira.

 

A variedade de estratégias, posturas políticas, situações territoriais e programáticas que compreendem as múltiplas manifestações do projeto urbano apontaram tanto sua diversidade quanto sua futura fragmentação, subdivisão – crise.  A Crise do projeto urbano, em grande parte associada à apropriação de seus instrumentos pelo mercado, se dá também em múltiplas frentes: na apropriação pelo mercado de suas instâncias coletivas, principalmente sob o conceito de cidades globais; no esgarçamento de sua capacidade operativa, frente à aceleração do processos de fragmentação urbana; na rigidez do processo decisório com a persistência da estrutura essencialmente de cima para baixo; e nos limites da capacidade do objeto arquitetônico em transformar o ambiente urbano.

 

Esses fenômenos sinalizam não simplesmente um fim de linha, mas um momento de transformação dos instrumentos de projeto urbano em novas estratégias: multiescalares, micro-escalares, táticas, fragmentárias, participativas. Nesse contexto, a Sessão tem por objetivo investigar as rupturas e continuidades do arcabouço teórico do projeto urbano. Busca estabelecer tanto a crítica quanto identificar continuidades nas estruturas de ação e pensamento urbanos.


Palavras-chave


Projeto Urbano, Urbanismo Contemporâneo, História do Urbanismo

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