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UTOPIAS URBANAS E AS VIAS DE EMANCIPAÇÃO SOCIAL
Última alteração: 2020-08-18
Resumo
A proposta de mesa intitulada “As utopias urbanas e as vias de emancipação social” destaca a importância do pensamento utópico na historiografia e nas teorias sociais urbanas, com o objetivo de evidenciar em que medida tais proposições apontam possibilidades de vias de transformação e experimentações na construção de outras formas de vida em comum. Para tanto, trazemos um mosaico de formulações teóricas e espaciais, cujo fio condutor é a aposta segundo a qual uma sociedade emancipada será uma sociedade urbana. A primeira delas reside na categoria de “romantismo revolucionário”, como trabalhado pela tradição marxista francesa e, em especial, pelas leituras de Michael Löwy e Robert Sayre. Para os autores, “o romantismo como visão do mundo constitui-se enquanto forma específica de crítica da ‘modernidade’” (LÖWY; SAYRE, 2015, p.43). Logo, o romantismo como “visão de mundo” se define por uma totalidade coerente que se organiza em torno de um eixo, no qual seu elemento central é a contradição ou oposição entre dois sistemas de valores “[...] os do romântico e os da realidade social dita ‘moderna’” (LÖWY; SAYRE, 2015, p.43). O termo “modernidade”, crucial para a análise do romantismo, é adotado por Löwy e Sayre a partir da concepção de Max Weber, o qual dá um sentido mais amplo ao fenômeno correntemente sintetizado em dois fatores fundamentais “a civilização moderna engendrada pela Revolução Industrial e a generalização da economia de mercado”. Os autores românticos revolucionários (LÖWY; SAYRE, 2015, p.253) do século XX, como o filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940), o filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre (1901-1991), o movimento da Internacional Situacionista (1957-1972), abordados na presente sessão, reagem a um certo número de características da modernidade que são por eles identificadas como intoleráveis. São elas: o desencantamento, a quantificação e a mecanização do mundo, assim como o espírito de cálculo, a racionalidade instrumental, a dominação burocrática e a dissolução dos vínculos sociais orgânicos, características que, segundo Weber, são inseparáveis do aparecimento do ‘espírito do capitalismo’. Nessa chave de leitura, o pensamento de Henri Lefebvre sobre a cidade, atualiza as propostas de Marx, ao revelar a centralidade da produção do espaço para a manutenção do sistema capitalista, que se estende à (re)produção da vida enquanto totalidade.No sentido dessa crítica à modernidade, elo de articulação das propostas aqui apresentadas, a apresentação do Prof. Dr. Carlos Roberto Monteiro de Andrade, sob o título “A utopia da cidade jardim: uma alternativa para a era pós-pandemia?”, discute a proposta utópica da garden city, idealizada por Ebenezer Howard (1850-1928), como resposta à degradação da vida urbana na Londres industrial daquele período, já colocada por Friedrich Engels (1820-1895) na “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra” (1845) e retomada por Henri Lefebvre na obra "O pensamento marxista e a cidade" (1972). A questão colocada é a atualidade da utopia Howardiana para se repensar as cidades contemporâneas.Seguiremos para a proposta “Afinidades eletivas entre Henri Lefebvre e a Internacional Situacionista a partir do Romantismo Revolucionário Utópico, de tendência do romantismo marxista”, do Prof. Dr. Rodrigo Nogueira Lima, que propõe analisar a presença da crítica do romantismo revolucionário utópico, de tendência do romantismo marxista na obra de Henri Lefebvre. Perspectiva que aproximou a crítica urbana compartilhada por Henri Lefebvre e pela Internacional Situacionista.Depois passaremos a proposta “O direito à cidade como momento do projeto utópico em Henri Lefebvre”, da Profª. Drª. Ana Fani Alessandri Carlos, propõe analisar o “direito à cidade” no seu sentido original cunhado por Lefebvre, o qual pertence ao projeto do possível-impossível. Interpretação que o posiciona como forma superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao habitat e à habitação; direito à obra (atividade participante) e o direito à apropriação (bem distinto do de propriedade) que se imbricam dentro do direito à cidade, revelando plenamente o seu uso. A análise destaca a importância da “utopia concreta” no pensamento do autor e no processo do devir da sociedade urbana.Em outro sentido, partindo do reconhecimento do projeto utópico de sociedade materializado na arquitetura e no urbanismo modernos, a proposta “Brasília, ou a volta da modernidade barroca”, do Prof. Dr. Marc Berdet, busca situar a cidade de Brasília na historiografia do pensamento urbanístico, enquanto uma manifestação barroca do modernismo, tipicamente brasileira. Nesse sentido, evidenciará, por um lado, as leituras críticas à incorporação parcial da proposta estético-política da arquitetura moderna nos termos europeus e, por outro, a própria crítica à modernidade na arquitetura e no urbanismo, central para Lefebvre e para os pós-modernos, na arquitetura. Situará Brasília enquanto fruto de um projeto ético barroco da arquitetura como resposta tipicamente moderna frente à tragédia capitalista do abismo estabelecido entre o mundo do trabalho e o mundo encantado da mercadoria, colocado por Marx, e retomado por Benjamin no Das Passagen-Werk.Na sequência, a proposta intitulada “A cidade e as vias do possível: aproximações entre Henri Lefebvre e Walter Benjamin”, da pesquisadora Tatiana Reis, busca identificar como a compreensão dos processos de (re)produção econômica (e social) que levaram aos apagamentos sociais pode servir de horizonte para a construção de outros possíveis a partir da filosofia da história proposta por Walter Benjamin e do pensamento urbano utópico de Henri Lefebvre. Nesse sentido, apresenta as aproximações identificadas no pensamento de ambos, assim como reflete acerca das possíveis condições necessárias à mobilização social para a construção de uma sociedade renovada.Por fim, seguiremos com a proposta “Utopias concretas em tempos de crises”, do Prof. Dr. Paolo Colosso, que busca analisar o tempo presente e encontrar neste elementos com os quais seja possível formular utopias concretas, construídas desde agora como experimentação de outros mundos possíveis. Do ponto de vista do potencial transformador, está no fenômeno urbano as condições sociais necessárias aos regimes de abundância coletiva em termos materiais, formas radicalmente democráticas de decisão e, ainda, experiências outras de júbilo e gozo. E por esse mesmo diagnóstico do tempo presente, ao que tudo indica, as formas de luta também tem um repertório urbano, cujos potenciais ainda não foram explorados.
Palavras-chave
Utopia Urbana; Henri Lefebvre; Walter Benjamin
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