Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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Por narrativas não modernas da arquitetura [moderna]
Gustavo Rocha-Peixoto, Ana Paula Polizzo, Dely Bentes, Luis Muller, Marcelo Augusto Felicetti, João Masao Kamita

Última alteração: 2020-08-19

Resumo


Fragmento 224: ...esse episódio da imaginação que chamamos realidade. (PESSOA, 2003, p.225) Fragmento 272: A história nega as coisas certas. Há períodos de ordem em que tudo é vil e períodos de desordem em que tudo é alto. As decadências são férteis em virilidade mental; as épocas de força em fraqueza de espírito. Tudo se mistura e se cruza, e não há verdade senão no supô-la.” (PESSOA, 2003, p.265). [Fragmento] Tese XIV: A história é objeto de uma construção cujo lugar é constituído não por um tempo vazio e homogêneo, mas por um tempo preenchido pelo Agora (Jetztzeit). (BENJAMIN, 2013, p.18) Fragmento 188: Pensar é destruir. O próprio processo do pensamento o indica para o mesmo pensamento, porque pensar é decompor. (PESSOA, 2003, p.197)

Outros fragmentos: limiaridade, circunstância, limites, fronteiras. Transições, deslocamentos, movimento. Demarcações – (ir)reais, imaginárias, provisórias. Crises, transes, instabilidades. Cacos, fatos, fractostratus. Nuvens, brumas, plêiades, nebulosas, constelações, pluralidades. Margens, montagens, redes. Dados. Pensamentos, imagens, linguagens. História, meta-história contra-história. Crítica. Narrativas, ficções, (des)construções, excertos, discursos.  (Des)encontros, travessias – desconfortáveis, aflitivas, marginais, não oficiais. Ruídos; grunhidos, abafados, mal-estar, males: estares? Extrato léxico texto-tema “Limiaridade: processos e práticas em Arquitetura e Urbanismo” – VI ENANPARQ. Proposição: constelação discursiva de/com fragmentos histórico-arquitetônicos desassosegados – indigestos, deslocalizados, (des)naturalizados do fazer (pensamento/experiências) historiográfico; intempestividades narrativas em/por arquiteturas brasileiras/latino-americanas. Provocação: paráfrases, anacronismos, diacronismos, entretecimentos, intraintertextualidades críticas. [Inter]Se[ç]ssão: Por narrativas não modernas da arquitetura [moderna]. Foco: discussões de-sobre-com objetos, temas, leituras, fraturas – incômodos arquitetônicos sem paradigmas, nomes ou lugar – desqualificados, desencaixados, inconformes, excluídos – outrossim, estalactites eruditas mitificadas, heroísmos simplificadores aprisionados em/para narrativas hegemônicas, sínteses evolutivas oficializantes, temporalidades lineares, supressão de lacunas, continuidades;  constituição/construção de verdades científicas. [In]Ten[ç]são: conversa com/através de “cacos da história”, possível(eis) “anti-história”, vórtices de quinquilharias, quimeras, estranhezas, evanescências, ficções, fábulas, fricções – fragmentos arquitetônicos plurais. Clímax: “[abrir] caminho para a emergência da complexidade inerente à própria experiência [arquitetônica contemporânea] moderna.” (TAFURI, apud, MORALES, 1995, p.67).

Argumento I: Em vez de nos voltarmos para o passado considerando-o como espécie de terreno fecundo, rico de minas abandonadas a redescobrir progressivamente pela detecção nelas de antecipações dos problemas modernos, ou como labirinto um pouco hermético mas ótimo como pretexto para animadas excursões que permitirão proceder a uma pesca mais ou menos milagrosa, deveremos habituar-nos a considerar a história como uma constante contestação do presente, ou se quiser, como uma ameaça para os mitos tranquilizadores em que as inquietações e dúvidas dos arquitetos modernos se apaziguam. Uma contestação do presente [quiçá uma constelação]: mas também uma contestação dos valores adquiridos pelas ‘tradição do novo.’ Na realidade, já não é possível fazer história assumindo o papel defensor do movimento moderno. (...) Mas é precisamente por esse motivo que, eliminada a via das profecias incontroláveis, da coerência como fim em si mesma dos conservadores do movimento moderno, o nosso renovado apelo à história pode, talvez, ajudar, a retomar o fio de um discurso demasiado complexo para ser artificialmente simplificado, como é o da arquitetura moderna. (...) A crítica, afastando de si a tentação de se apresentar como comentário explicativo, tradução literária, análise desinteressada, ou depositária de perspectivas proféticas, assume a função de papel de tornesol mediante a verificação da validade histórica da arquitetura. (...) É inútil e culpável aceitar contorções inquietas e os requintados jogos de equilíbrio da arquitetura atual [1960/70] como se nos encontrássemos perante uma situação ‘normal’. É inútil e ainda mais culpável tomar em consideração, e além do mais com linguagens herméticas e abstratas, os absurdos que se sucedem nas páginas das revistas e na produção das ‘academias’ de arquitetura, ignorando o caráter trágico desses testemunhos de ansiedade e mal-estar. Dado que essa ansiedade e mal-estar só são parcialmente justificáveis através da análise da arquitetura em sentido específico, mas se ligam ao mal-estar do intelectual, bobo, impotente e consciente, face a dinâmica do desenvolvimento capitalista, a crítica tem o dever de aumentar esse mal-estar. (…) Contestando a arquitetura atual [1960/70], reconduzindo-a ao seio de uma historicidade que aumente em vez de reduzir sua problematicidade, pondo continuamente em crise os objetivos aparentemente avançados com que a investigação e o debate correm risco de se apaziguar, o crítico deve, portanto, apresentar – com o rigor a que as experiências históricas em que opera o obrigam – o quadro exato de uma situação absurda e, todavia, real, estimulando dúvidas cada vez mais conscientes, dissensões cada vez mais construtivas, sentimentos de mal-estar cada vez mais generalizados. (TAFURI, 1976, pp.282-285) (grifo nosso)

Argumento II: Na história não existem ‘soluções.’ Mas pode sempre diagnosticar-se que a única via possível é a exacerbação das antíteses, o embate frontal das posições, a acentuação das contradições. E isto não devido a um sadomasoquismo, mas na hipótese de uma mutação radical que nos faça considerar a angustiante situação presente [1968-1976], bem como as tarefas provisórias que com esta [sessão] tentamos clarificar para nós mesmos. (TAFURI, 1976, p.286) (grifo nosso)

Não nos parece necessário discorrer sobre a apropriação argumentativa tafuriana frente à proposição constelar inter[intra]discursiva – diga-se benjaminiana – aqui proposta. Sublinhamos, contudo, “nosso” anacronismo propositado e o deslocamento espacial de suas reflexões – compreendidas precisamente na crise do projeto moderno/instauração da pós-modernidade – e mais propriamente relacionadas aos contextos europeu/norte-americano.  Não obstante, as acreditamos pertinentes e adequadas à problematização crítica historiográfica das realidades latino-americanas desta modernidade plural e estendida, muitas vezes reduzidas/simplificadas em seus teores heterodoxos. Afinal, a “situação presente” da qual se refere Tafuri não nos assombraria algures ainda numa espécie fantasma de futuro pretérito?

Assim, o trabalho 1 aborda o processo de reconhecimento/legitimação internacional da arquitetura latino-americana realizado pelas exposições e seus discursos curatoriais, problematizando a própria ideia-unidade-construção “América Latina” enquanto narrativa hegemônica; o trabalho 2 toca no cerne das narrativas oficiosas, suas fontes, objetos de (des)interesse e o incômodo excludente e classificatório das matrizes historiográficas legitimadoras de um padrão-parâmetro A-rquitetônico [modernista]; o trabalho 3 traz a tona o vício historiográfico cristalizador de leituras unificadoras sobre a obra extensa e ainda pouco conhecida de A.Williams, por essência em “suspensão espaço-temporal”, numa condição crítica dificultosa-desejosa de (des)”encaixe” de extremos: mito ou margem/mito à margem; o trabalho 4 trata outra “obra-personagem” idiossincrática de grande dimensão - S.Bernardes e os discursos que enunciam/constroem uma bipolaridade - mítica vitoriosa/genialidade vitimada-silenciada - frente à complexidade (in)classificatória em matrizes historiográficas tradicionais; o trabalho 5 sumariza em caráter provocativo - não conclusivo/unificador - “angústias” historiográficas (contemporâneas) fragmentadas, fragmentárias, intercambiáveis, que vasculham órbitas teórico-conceituais para significados moventes, não-deterministas, buscando  a desconstrução da “visão a partir de um lugar fixo”, quer seja: eurocentrismo, América Latina, A[a]rquitetura, Estado-nação, etc. 


Palavras-chave


história-historiografia da arquitetura, narrativas

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