Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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AMÉRICA LATINA EM DIÁLOGO: METODOLOGIA, QUESTÕES, DESAFIOS E RESULTADOS DE PESQUISAS RECENTES
Fabiana Fernandes Paiva dos Santos, Eduardo Verri Lopes, Michel Hoog Chaui do Vale, Suelen Camerin, Ingrid Quintana

Última alteração: 2020-08-18

Resumo


Desde a década de 1990 se assiste a um importante processo de revisão historiográfica da arquitetura e do urbanismo da região e no início do século XXI se verifica, internacionalmente, um crescente interesse sobre a produção do período heroico do movimento moderno na região, bem como por sua produção mais recente. No entanto, as reflexões sobre essa produção parecem ser ainda insuficientes: tanto aquelas que deram por certo uma “unidade” de experiências, definindo a própria América Latina como uma categoria quase natural; quanto as perspectivas estritamente comparativas (GORELIK, 2005).

A exposição Brazil Builds e o livro homônimo promovidos pela MoMA de Nova Iorque em 1943 foram um marco de divulgação da “arquitetura brasileira”. Estes eventos podem ser tomados como um primeiro momento de interesse internacional pela arquitetura produzida na América Latina, apesar de, tal entendimento, ter ficado por muito tempo relegado aos estudos que enfatizavam um quadro nacional singular (LIERNUR, 2010). A partir do “fenômeno” da arquitetura brasileira, as interpretações mais difundidas desde então ressaltariam o contraste e a incongruência entre a expressividade e qualidade da arquitetura na região diante das condições sociais e econômicas que a suportariam: precariedade das condições técnico-construtivas, industrialização incipiente, desordenado crescimento urbano, etc. (MARTINS, 2010).

É importante pontuar que, principalmente a partir do segundo pós-guerra, uma agenda própria da historiografia na região formulou propostas e discutiu os problemas advindos do processo de modernização na América Latina, ora pensadas como atualização às discussões dos países centrais, ora como possibilidade de um pensamento próprio. Essa agenda gerou novas e importantes formulações e alavancou a compreensão de um campo de forças regional traduzida em muitas e dissonantes vozes. Uma série de teóricos e pesquisadores em diversos campos do conhecimento buscariam discutir as ciências sociais, a história e a cultura da América Latina a partir de seus próprios termos e/ou condições históricas. Frente à dinâmica social e política da região e de suas cidades, que punha em xeque a autoridade modernista e o positivismo desenvolvimentista, um amplo processo de debate e de experimentação proporia uma inversão dos atores e dos cenários pressupostos para o desenvolvimento social. Assim, é possível considerar que a América Latina constitui um marco teórico, uma vez que forçaria a revisão de fundamentos e parâmetros até então vigentes, gerando novas hipóteses e paradigmas, não apenas no âmbito local, mas também internacionalmente. É exatamente esse processo que teria, entre outros fatores, intensificado o intercâmbio e o mútuo interesse entre os países da região colocando em movimento uma rede de profissionais e instituições que se organizaram a partir de então. Estiveram envolvidos nesse projeto: sociólogos, antropólogos, historiadores, planificadores e economistas, e ainda, uma infinidade de agentes de todos os campos do conhecimento, como os próprios arquitetos, engenheiros, médicos, intelectuais, educadores, músicos, artistas, críticos e historiadores (GORELIK, 2002, 2005).

A sessão proposta apresentará cinco comunicações sobre a produção recente de pesquisadores interessados na produção arquitetônica e historiográfica da América Latina. Pretende-se colocar em diálogo a metodologia, as questões, os desafios e os resultados, ainda que parciais, das pesquisas a serem apresentadas uma vez que, quando colocadas em conjunto, podem alavancar o adensamento de questões locais e a compreensão de um campo de forças regional. Se a crítica e a historiografia operam de forma ativa na geração da cultura arquitetônica, uma vez que recolocam e ressignificam o seu objeto de análise em sua própria trama, influenciando diretamente o campo profissional (MARTINS, 2010) é importante discutir os parâmetros e fundamentos construídos a partir dessa produção ao longo do século XX e que voltam ao centro do debate, no âmbito internacional, no começo do século XXI.

Aproximações historiográficas sobre a arquitetura paraguaia, analisa as relações que se estabelecem, no decorrer do século XX, entre a arquitetura moderna do Paraguai e o contexto político e econômico, e ainda, diante das disputas geopolíticas com seus vizinhos, Brasil e Argentina. Cria-se assim uma base para a compreensão da sua produção contemporânea, cujo discurso se constrói a partir de sua posição periférica e do contexto socioeconômico local.

A estranha arquitetura da América Latina: três casas de Solano Benítez, Angelo Bucci e Smiljan Radić procura debater os resultados preliminares de um esforço que busca expandir a chave interpretativa, desenvolvida na dissertação de mestrado da autora para analisar a produção do escritório paraguaio Gabinete de Arquitectura, para outros exemplares arquitetônicos de arquitetos da América Latina da mesma geração. O trabalho pretende ainda discutir a continuidade dessa prática arquitetônica mais recente em relação a projetos desenvolvidos entre os anos 1930 a 1960, da qual seria tributária.

Em busca da América Latina e suas arquiteturas: as exposições do MoMA | 1955 e 2015 apresenta os resultados da dissertação de mestrado que procurou, a partir dos objetos da pesquisa, discutir a ideia de América Latina como uma construção cultural e investigar os diferentes mecanismos e contextos pelos quais essa unidade continental é criada através da arquitetura produzida em cada um dos países incluídos nas mostras, na formulação de identidades nacionais e regionais historicamente construídas.

Darcy Ribeiro, América Latina e um projeto escolar do desenvolvimentismo busca debater a atuação política e circulação do intelectual brasileiro Darcy Ribeiro na América Latina e, ainda, o seu projeto educacional e pedagógico a qual estava associada a construção de um programa arquitetônico coerente. O trabalho procura reconhecer uma linha que conecta o ciclo ideológico do desenvolvimentismo no Brasil procurando mostrar como as ideias e a atuação de intelectuais atravessaram distintos períodos políticos reprocessando programas ideológicos e rearticulando-os em uma perspectiva latino-americana.

A Bauhaus latino-americana: Revisão historiográfica recente analisa os eventos promovidos por ocasião da comemoração do centenário da Bauhaus e procura compreender de que forma são abordados os desdobramentos e conexões que se construíram a partir da escola com a América Latina. Procura-se reconstruir as redes de circulação de ideias e atores a partir de uma revisão das aproximações e contribuições que se desdobram a partir daí e nas quais a Bauhaus aparece como categoria historiográfica para o estudo da arquitetura e o design regionais.

Coordenação: 

MARTINS, Carlos Alberto Ferreira

professor titular; IAU USP São Carlos

cmartins@sc.usp.br


Palavras-chave


História da Arquitetura; América Latina; Metodologia

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