Última alteração: 2020-08-15
Resumo
Na construção de referenciais identitários nacionais, alguns órgãos foram criados e mobilizados na consolidação do ideário de nação almejado pelas políticas públicas brasileiras da primeira metade do século vinte. Na busca pela compressão da efetiva ação de um destes órgãos no fortalecimento do imaginário arquitetônico, este artigo se debruça sobre a ação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) na cidade de São João del-Rei, Minas Gerais. Entendendo, pois, a prevalência do gosto pessoal dos arquitetos à frente do órgão de preservação sobre os aspectos arquitetônicos do centro histórico da cidade, esta pesquisa também visa entender os atravessamentos ideológicos na desvalorização da arquitetura eclética, alvo maior na transformação dos núcleos setecentistas após seu tombamento federal. Nas intervenções em São João del-Rei as platibandas eram as maiores inimigas dos agentes do IPHAN, e o beiral, endeusado, significava o ‘retorno ao estado original’ da edificação, ou a consolidação de uma feição idealizada pelos modernistas. Assim consolidou-se o estilo patrimônio: primeiro com modificações nas edificações ecléticas pré-existentes, em prol de dar-lhes o aspecto ‘colonioso’; depois adotando as características da arquitetura residencial setecentista como pré-requisito para novas obras e intervenções no núcleo tombado. A partir do levantamento e identificação das edificações analisadas nos arquivos do IPHAN, o cruzamento dos dados possibilitou traçar o panorama das modificações realizadas na criação da ‘cidade-cenário’ atualmente existente. Tais critérios, empregados até hoje, agora pelo Conselho Municipal de Patrimônio, além de configurar um perfil urbano excludente e sem pluralidade, ocasiona a perda do fazer arquitetônico contemporâneo (plástico, tecnológico e estrutural), nessa busca equivocada pela preservação.