Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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VISIBILIDADES, IMAGINÁRIOS, ARQUITETURAS E CIDADES
Junia Cambraia Mortimer, Eduardo Augusto Costa

Última alteração: 2020-08-18

Resumo


A proposta de sessão livre que aqui se apresenta para o VI Encontro Nacional da ANPARQ está diretamente vinculada ao eixo “História, historiografia e crítica”. O tema “Visibilidades, arquivos e cidades” relaciona-se, de modo amplo, com a dinâmica cultural de ressignificação de experiências coletivas, práticas estéticas e imaginários políticos. Nesse contexto, a imagem, em sentido conceitual ampliado, emerge de arquivos já construídos ou em construção, como fonte documental que potencializa reflexões críticas sobre construções narrativas e a produção de conhecimento no campo da arquitetura e do urbanismo.

A presente proposta relaciona-se com a discussão iniciada no atravessamento Visibilidades, no Corpocidade 6, em Salvador, em 2016, e na Sessão Livre Visibilidades, realizada no XVII ENANPUR, em 2017. Nessas oportunidades buscamos discutir gestos urbanos utilizando imagens, não para empreender um estudo representacional dos gestos urbanos, mas a fim de construir o tema partindo da experiência do visível. Propomos explorar imagens, artefatos e estratégias visuais como instâncias de pensamento que fazem aparecer as coisas, conforme flexões ou qualidades heterogêneas; imagens que, ao "relampejar" sobre a malha da urbanidade na qual estamos necessariamente implicados, promovem, ao mesmo tempo, uma torção, um esgarçamento, uma instabilidade, um furo nessa malha.

Propomos agora pautar um campo ampliado de discussão em torno da imagem, no âmbito da arquitetura e do urbanismo. Propõe-se colocar em debate a construção de visibilidades / visualidades e imaginários, por meio da ampliação de fontes documentais, da exploração de arquivos fotográficos, da inserção de novos objetos de pesquisa, da reflexão crítica em torno de determinados conceitos seminais, considerando que a ressignificação de experiências, práticas e imaginários implica também uma ressignifcação de fontes, sobretudo iconográficas, tornando possível um movimento teórico, crítico e historiográfico que contribui para a construção intelectual do campo da arquitetura e do urbanismo.

No primeiro trabalho, “Documentário Arquitetônico”: fascículos fotográficos como fontes para história e crítica da arquitetura e do urbanismo, aborda-se uma série de fascículos ou livretos de fotografias realizada pelas Edições da Escola de Arquitetura da UFMG, entre 1961 e 1969. Explora-se esses documentos como fontes para a história da arquitetura e do urbanismo, evidenciando potencialidades e limites. Ao tomar esse documento visual como fonte historiográfica, busca-se uma complexificação da leitura histórica e crítica das tensões urbanas daquele momento em Belo Horizonte, mas também da própria constituição de um arquivo e do entendimento de arquitetura e urbanismo que se formulava por meio dele e daqueles ali envolvidos.

No segundo trabalho, O potencial discursivo da identidade visual em “Latin American Architecture Since 1945”, explora-se as maneiras com que a identidade visual do catálogo publicado pelo MoMA elabora uma narrativa, esta necessariamente relacionada à historicidade do evento. O trabalho se dedicará a compreender o que se buscou representar através da fotografia e como este esforço historiográfico constrói e consagra um imaginário particular de arquitetura moderna latino-americana, autorizado e legitimado em função da posição hierárquica ocupada pelos Estados Unidos (e pelo MoMA) no segundo pós-guerra, bem como pela própria materialidade do livro. Não pretende empurrar a visualidade em Latin American Architecture since 1945 para uma posição secundária. Trata-se, na verdade, de analisar as condições sob as quais este discurso foi costurado em termos de visualidade, de elevado interesse histórico e cognitivo.

No terceiro trabalho, A construção da cidade e a constituição do imaginário urbano: Belo Horizonte, chama-se atenção o fato de que junto à instituição da Comissão Construtora da Nova Capital foi fundado o Gabinete Fotográfico. Acompanhou a sua construção a constituição de um imaginário hegemônico e consensual de cidade dado a partir de suas visibilidades materializadas não apenas em seu espaço urbano, em largas avenidas, em imponentes edifícios, mas também em fotografias. Imagens e Imaginários que serviram para projetar um futuro àquele tempo, hoje servem para inventar o passado e sedimentar o presente apaziguado em uma perspectiva que insiste em dominar, demolir e construir avenidas cada vez mais largas, edifícios cada vez mais autoritários, modos de vida e imagens que correspondem a essa realidade.

No quatro trabalho, A interface mão/máquina em publicações e exposições de Lina Bo Bardi (1946-1969), debate-se a articulação entre mão e máquina desenvolvida pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi em revistas, jornais e exposições atravessa um projeto intelectual afirmado em diferentes circuitos de visualidade, num movimento entre reflexão teórica, atuação curatorial e propostas educacionais. Um conjunto documental composto por três impressos e quatro textos de exposições compõem a investigação sobre como a interface mão/máquina extrapola imagem e retórica, adquirindo sentidos para a práxis. Busca-se a caracterização de transformações na obra crítica e na ação institucional da arquiteta, através da seleção de episódios significativos dentre suas publicações e exposições, confrontadas com as redes sociais e condicionantes políticas que se apresentavam.

No quinto trabalho, As Bienais e Trienais de arquitetura: lugar de produção teórica na contemporaneidade. busca-se circunscrever o lugar das Bienais e Trienais na dinâmica contemporânea da arquitetura, qualificando o seu papel na conformação de uma cultura arquitetônica. Trata-se de problematizar e qualificar as Bienais e Trienais como estruturas discursivas, essencialmente visuais, que são inerentes à revisão historiográfica e às novas formulações teóricas organizadas nas últimas décadas. Deste modo, a visualidade se coloca, novamente, como elemento central à formulação dos sentidos equacionados na contemporaneidade.

No sexto trabalho, “A saturação das tensões”: Problemas de Crítica e Historiografia da Arquitetura levantados a partir do conceito benjaminiano de Imagem dialética, propõe-se alguns questionamentos Escrevemos histórias e construímos críticas, atualmente, a partir de quais experiências urbanas? A que subjetividades nos referimos, quando falamos de 'recepção', fruição, consumo de arquitetura? Se ficamos com Benjamin, que materialidade - a forma do texto, os relatos fílmicos, a escavação dos arquivos - dá sustentação às estratégias de pensamento de críticos e historiadores?  Empiricamente, este trabalho ensaia suas conclusões a partir de três filmes de natureza diversa, dois documentários [Notícias da Antiguidade ideológica: Marx, Eisenstein, O Capital - de Alexander Kluge (2008)], [Conte isso aquele que dissem que fomos derrotados, de Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cristiano Araújo, Pedro Maia de Brito (2018)], e uma ficção [Synonymes,  de Nadav Lapid (2019)]


Palavras-chave


visibilidades, imagens, arquiteturas

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