Última alteração: 2021-01-06
Resumo
As cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Recife vivenciaram um intenso processo de urbanização a partir da primeira metade do século XIX. A população negra escravizada e livre fazia todo o tipo de trabalho manual e serviços como transporte de mercadorias, água e esgoto em vasilhas. Ela era a infraestrutura das cidades: sistema de distribuição de águas, sanitário, elétrico, transporte, abastecimento de alimentos e comunicações. A negritude ocupava, construía, moldava e dava sentido as ruas ao configurar as paisagens urbanas do início do Brasil Imperial. As vivências da negritude são discutidas no romance Um defeito de cor de Ana Maria Gonçalves. Nele, Kehinde sobrevivente de um navio negreiro que abarca em Salvador no início do século XIX, vive os conflitos, contradições e dilemas entre a cidade colonial e a modernização desejada pelo Império. Este artigo discute as (re)configurações das paisagens das ruas de Salvador pelo corpo negro de Kehinde e nas pintura de Jean-Baptiste Debret, integrante da Missão Artística Francesa (1817). Ora, são corpos invisibilizados apesar da sua presença constante nesta sociedade escravocrata, ora configuram paisagens que evidenciam a luta por reconhecimento social e cultural, problematizadas neste estudo como Paisagens Negras.