Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

Tamanho da fonte: 
História e historiadores. Ensaios de historiografia da arquitetura brasileira
Franscisco Sales Trajano Filho, Ana Paula Koury, José Tavares Correia de Lira, Carlos A. Ferreira Martins, João Clark de A. Sodré, Clévio Rabelo

Última alteração: 2020-08-19

Resumo


O conjunto de trabalhos aqui apresentados responde a um processo de interlocução entre pesquisadores de diferentes instituições que vêm atualizando um processo já em andamento nas últimas décadas de revisão da historiografia da arquitetura moderna brasileira, seja revisitando criticamente a historiografia canônica, seja redimensionando o significado de arquitetos ou intelectuais, seja ainda buscando novos procedimentos metodológicos e/ou a redefinição de temas ou objetos de pesquisa capazes de enriquecer o campo da historiografia brasileira.

De orientações e filiações historiográficas múltiplas, o elemento que estabelece as bases para essa interlocução é o reconhecimento da relevância das relações entre a arquitetura e suas representações historiográficas, compreendendo que as narrativas são sempre estruturadas a partir das preocupações do presente e que, por consequência, constituem um movimento de permanente atualização e reescritura.

Ao mesmo tempo, compartilham o entendimento de que as narrativas são parte constitutiva e ativa da cultura arquitetônica, incidindo, portanto, sobre o fazer arquitetônico ainda que não necessariamente no sentido de uma história - ou histórias – operativa.

Inseridos nesse conjunto mais amplo de investigadores e temas, os trabalhos aqui apresentados têm como fio condutor a reflexão sobre autores ou narrativas que se voltam para a compreensão dos liames, complexos e multifacetados, entre tradição e modernidade, entre passado e presente, entre identidades e universalidades.

Teses para a (n)ação: Manoel de Araújo Porto Alegre e a arquitetura de um país informe, analisa as “teses para debate” apresentadas em 1855 por Porto-Alegre (1806-1879) a seus colegas da Academia Imperial de Belas Artes e consideradas aqui como reflexões organizadas sem hierarquia aparente e de foco incerto, embora pertinentes em suas indagações ao campo artística e cultural do Segundo Império.  Busca compreender como a justaposição algo insólita de temas e objetos permite entrever a precedência de alguns temas articulados à configuração das matrizes em que fincar a busca por uma arquitetura para o Brasil, lançando assim questões que ressoariam   largamente no campo da arquitetura brasileira e sua historiografia.

O Iberismo como primitivismo: a abordagem de José Mariano Filho se debruça sobre as formulações do conhecido ideólogo do movimento neocolonial brasileiro a partir do reconhecimento do primitivismo como base para a ruptura estética em direção à emancipação cultural que permitiu a afirmação do ‘moderno”, compreendido como “novo” em relação ao “tradicional”.  A hipótese do trabalho é que Mariano Filho abordou o iberismo como um primitivismo, isto é, como uma regressão cultural em relação ao ecletismo que resultou na busca da essencialidade na qual se afirmou depois o modernismo brasileiro.

Arquitetura, cidade e história em Gilberto Freyreparte da lembrança de que Aldo Rossi, na introdução a seu Arquitetura da Cidade(1966) evoca a obra de Gilberto Freire como um “tipo de estudo que pode trazer uma contribuição fundamental ao estudo mesmo das utopias urbanas e da construção da cidade” para destacar que, para além revelar imprevistas afinidades eletivas, acentua a necessidade de considerar com mais atenção as posições do antropólogo nesse debate. Resgatando também o prefácio de Fernand Braudel à tradução italiana de Casa Grande e Senzala, busca desvendar como é possível desvendar na obra de Freire dos anos 30 um raro precedente do jogo entre sincronia e diacronia e do interesse pelo mundo material como fontes históricas que se tornaram correntes nos anos 60 com a segunda geração da escola dos Annales.

Lúcio Costa e a História, na históriapropõe um recenseamento das principais formulações historiográficas e analíticas mais recentes da obra teórica do arquiteto usualmente considerado como o principal formulador e ideólogo do que viria a ser consagrado como a formulação doutrinária canônica da arquitetura moderna brasileira, na perspectiva de desvendar as múltiplas e complexas relações entre essa formulação e suas aproximações à história, seja como elaborador de uma matriz explicativa que se consolidou como trama narrativa dominante da arquitetura moderna brasileira  seja em sua atuação como historiador da arquitetura do passado e formulador dos princípios de preservação patrimonial.

Henrique Mindlin e a construção do Modern Architecture in Brazil pretende analisar essa obra a partir de três enfoques. O primeiro é a sua construção no tempo associado ao papel desempenhado pelo arquiteto formado em São Paulo e radicado no Rio de Janeiro. O segundo é a narrativa acerca do desenvolvimento da arquitetura moderna brasileira e sua organização formal, valendo-se do dos textos de sua autoria e da interlocução com o prefácio de Siegfried Giedion. Por último o trabalho se debruça sobre a recepção do livro que havia sido inicialmente concebido como um suplemento a Brazil Builds(1943) mas que se mostrou mais plural na condição de informar ao público internacional o panorama nacional entre o projeto do MESP e o concurso de Brasília.

O Pêndulo de Paulo Santos tem três objetivos. O primeiro é compreender o caráter e as nuances de seu método historiográfico que ora se aproxima da vertente canônica da arquitetura moderna brasileira, com seus sabidos vínculos a Le Corbusier, Lúcio Costa e a arquitetura-cidade-colonial e ora busca um lugar de exceção propondo uma leitura da arquitetura brasileira aberta a múltiplas filiações.  O segundo é expor o historiador para além do Quatro Séculos de Arquitetura, em um leque de múltiplas atividades, da docência à participação em órgãos institucionais e à condição de empresário de grande porte na área de projeto e construção. Por fim pretende-se, como sugere o título, dissolver a ideia de um rumo linear e coerente em seu pensamento como historiador.


Palavras-chave


Historiografia; Arquitetura Brasileira; Historiadores;

Um cadastro no sistema é obrigatório para visualizar os documentos. Clique aqui para criar um cadastro.