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HIBRIDIZAÇÕES CONTEMPORÂNEAS: UM DIAGRAMA DE ESTRUTURA EM TRÊS CASAS DE ANGELO BUCCI
Carlos Bahima, João Ricardo Masuero

Última alteração: 2020-08-15

Resumo


O artifício não é novo na arquitetura brasileira: estruturas de transição mudam o natural caminho vertical das cargas, em geral pelo reforço de vigas que transferem na direção horizontal o caminho direto do carregamento na vertical. Estas podem se localizar na laje de piso, como no projeto Pavilhão da Indústria (1951) de Oscar Niemeyer no Parque Ibirapuera, em que grandes balanços liberam um longo espaço coberto livre de apoios, ou na posição invertida na laje de teto, como no projeto de Lina Bo Bardi para o Museu em São Vicente (1951). No cenário internacional, a década de 1950 é repleta de edifícios baixos com essas inversões de vigas de aço, formando os mais variados exoesqueletos na laje de cobertura, como é o caso do Crown Hall, a faculdade de Arquitetura que Mies projeta em Chicago (1950-1956), e em solo europeu, o Mannhein Theater (1953). No Brasil, um tipo particular de estruturas de transição se notabiliza nesse período, através do artifício da suspensão de pavimentos inteiros, transferindo cargas de um piso a outro através de esbeltos tirantes para vigas localizadas na cobertura, historicamente ligadas aos encargos excepcionais dos museus de arte. Affonso Reidy é pioneiro, ao pendurar em pórticos de concreto armado um pavimento sobre o grande espaço de exposições no bloco principal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM-RJ (1953), com prosseguimento análogo de Lina Bo Bardi no Museu de Arte de São Paulo (MASP) em 1957-1968.

No contexto contemporâneo de primeiras décadas do século XXI, esse mecanismo de suspensão, outrora de feição extraordinária, pode ser verificado no ambiente corriqueiro da residência. Um olhar panorâmico na obra de Angelo Bucci, no âmbito do escritório SPBR, torna evidente como traço característico, a combinação de estratégias e processos de hibridização estrutural herdadas de outros arquitetos brasileiros com uma necessária atualização das estruturas de transição, iniciadas por Affonso Reidy e Lina Bo Bardi, no contexto da moradia. Três projetos configuram um verdadeiro diagrama estrutural de suspensão, composto por tirantes, vigas de transição e mínimos pontos de apoio, com hábeis variações na posição e números destes, mas conservando o mesmo desenho em duplo “H” na distribuição das vigas invertidas de teto.

Esse artigo se propõe a sistematizar esse diagrama de estrutura híbrido na obra de Angelo Bucci, através da análise das relações entre estrutura formal e comportamento estrutural de três projetos exemplares em relação a esse tipo de observação. A categorização se referencia ao tipo de estrutura característica da arquitetura moderna brasileira, ou seja, o esquema Dom-ino e nas possíveis mesclas tanto evolvendo seus elementos transformados - com as possíveis distorções geométricas dos componentes horizontais e verticais da grelha de apoios, como também as mutações sistêmicas que envolvem a parede estrutural e as estruturas de transição no corpo principal da elevação tripartida.

Ao contrário dos projetos híbridos entre ossatura (Lúcio Costa diz ossatura) independente e parede estrutural verificados na arquitetura de Mendes da Rocha e de Vilanova Artigas, o hibridismo de SPBR arquitetos mantém a noção de espaço estratificado por placas de piso-teto, ou ainda, de espaço perfurado por grelha de apoios (tirantes), com a adição de vigas invertidas de transição, à maneira de extrato superior da elevação tripartida da Arquitetura Moderna. O tom contemporâneo reside na mestiçagem com as estruturas de transição, ou em termos mais específicos, estruturas de suspensão, um artifício excepcional agora em programa corriqueiro.

Palavras-chave


estruturas de transição. Angelo Bucci. SPBR arquitetos. arquitetura brasileira contemporânea.

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