Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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JUSTAPOSIÇÕES CONTRASTANTES EM MEIO A PROCEDIMENTOS ANALÓGICOS COM O PASSADO: UM OLHAR PANORÂMICO NAS INTERVENÇÕES DE LINA BO BARDI SOBRE O CONSTRUÍDO
Jordana Cristine Winter, Carlos Fernando Bahima

Última alteração: 2020-08-15

Resumo


Lina Bo Bardi, arquiteta italiana de origem e formação, dispensa maiores apresentações. O seu envolvimento com o restauro e a reciclagem de velhos edifícios tem reconhecida contribuição no contexto da arquitetura brasileira. Entretanto, a falta de estudos analíticos que sistematizem esse inegável legado talvez se explique pela relativa recente atenção dispensada ao construir no construído: uma ação modificadora que vem carregada de critérios que relacionam a arquitetura existente, com seus significados atribuídos ao longo da história, e nova intervenção, com suas interpretações sobre esse material histórico.

Esse artigo tem como objetivo identificar os principais procedimentos de projeto que embasaram as intervenções de Lina sobre o construído, considerando o recorte daqueles projetos que efetivamente se edificaram. A pesquisa identifica dois grupos dentro dessas operações: Solar do Unhão (1968), a Fábrica SESC (1974), a Ladeira da Misericórdia (1987), e a Casa do Benin (1987) pertencem ao tipo que obedece a um conjunto de edifícios - em que o todo edificado é elemento-chave da intervenção; Teatro Oficina (1982-93), Teatro Gregório de Mattos (1986-87), e Casa do Olodum (1988) compõem outro polo - em que a intervenção se restringe ao interior da caixa murada.

Um olhar panorâmico sobre essas operações de restauro e reciclagem evidencia uma postura interpretativa da arquiteta italiana, focando-se muito mais nos problemas de arquitetura, ou seja, no conhecimento da lógica formal e física do edifício. Através do procedimento analógico, Lina Bo Bardi ultrapassa a postura exclusivamente preservacionista das Cartas de Conservação em geral restrita ao contraste entre o existente e o novo. Nos edifícios restaurados, há justaposições contrastantes entre partes velhas e novas, como convém às preocupações de Camillo Boito e Gustavo Giovannoni, mas também ao modernismo que ela própria subscreve, quer pela noção avant-garde da colagem cubista, quer por encontros de feições quase surrealistas entre componentes construtivos. Nesse conjunto de obras urbanas com diversidade de programa e sítio, o olhar abrangente nas composições revela sempre dois elementos-chave: parede estrutural e estrutura independente; telhado de palha e telhado plano; paredes de pedra ou barro e paredes de concreto armado; o erudito e o primitivo; o evolucionário da recuperação e o radicalismo das novas inserções. Entretanto, esse jogo de dualidades não é antitético à operação analógica. Ao contrário, relações entre semelhanças e diversidades se reforçam e se complementam face à interpretação das características essenciais do edifício antigo.


Palavras-chave


restauro e reciclagem de antigos edifícios; Lina Bo Bardi; arquitetura moderna brasileira.

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