Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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NOVOS JUÍZOS CRÍTICOS SOBRE A ARQUITETURA E O ESPAÇO URBANO BARROCOS NO BRASIL COLONIAL
RODRIGO ESPINHA BAETA

Última alteração: 2020-08-19

Resumo


As motivações que impulsionaram as manifestações do espirito barroco – e mais especificamente a produção da arquitetura, do urbanismo e da cenografia urbana nos séculos XVII e XVIII (tema desse simpósio) – estavam vinculadas à construção de estratégias de persuasão empreendidas pela Igreja e pelos governos autoritários. Por meio do artifício da imaginação e da fantasia, logo da dramatização e da teatralização das expressões visibilísticas, os artistas, comprometidos com as monumentais estruturas de poder, viriam a construir um sedutor discurso de alto teor retórico que revelaria, simbolicamente, o caráter e a dimensão sobrenaturais da Igreja e dos Estados absolutistas, dirigindo as massas a um comportamento adequado de apoio e subordinação aos governos.

Para isso, em cada lugar onde a cultura de massa oferecida pela arte barroca viria a ser acolhida, foram aplicadas inovadoras soluções compositivas atreladas à revisão das inúmeras e distintas tradições artísticas locais, sempre em nome de sua eficiente comunicabilidade – em prol de sua fácil absorção pelos súditos e fiéis a quem as imagens deveriam estar dirigidas.

Este simpósio traz para a discussão alguns juízos críticos sobre o Barroco em diversificadas expressões da arquitetura e do espaço urbano no contexto luso-brasileiro nos séculos XVII e XVIII, ou através de sua persistência na primeira metade do século XIX – reflexões de professores de cinco universidades brasileiras envolvidos com o Grupo de Pesquisa XXXXXXXXXXX (oculto para avaliação cega).

Abre-se o simpósio com a contribuição do Professor XXXXXXXXXXX (oculto para avaliação cega), intitulada O grande teatro do mundo, proposição que introduz alguns dos princípios teóricos essenciais da arte barroca ao se referir às suas expressões no campo do teatro – em sua relação com a produção da arquitetura e do espaço urbano no período. Partindo dos primeiros versos do auto sacramental escrito pelo dramaturgo espanhol Pedro Calderón de la Barca (1600-1681), El gran teatro del mundo (publicado pela primeira vez em 1655) – uma das mais influentes obras elaboradas no Siglo de Oro espanhol (fase em que a literatura, e particularmente o teatro, conduziram o florescimento da Espanha no campo das artes) –, o professor desvela a relação íntima que as manifestações barrocas guardavam com a prática da encenação.

De fato, não seria possível precisar o papel que o teatro e a festa detiveram no contexto da arte seiscentista e setecentista. Contudo, para muito além das encenações propriamente ditas, a ideia de teatro no Barroco contaminaria todo o universo cultural: superaria enormemente o que era perpetrado no palco e nas grandes comemorações, confirmando a assertiva de Calderón de la Barca que versava sobre a correlação do mundo com o teatro. Ao privilegiar, como diria XXXXXXXXXXX (oculto para avaliação cega), a predominância visual, a produção de efeitos sensoriais, a cultura barroca acabaria corroborando o afastamento da arte em relação aos dados da ciência e à própria natureza em prol da instauração da dimensão infinita da imaginação como temática fundamental – a abertura da experiência do real para o alcance ilimitado da ficção. Se a realidade se aproximava da fantasia, ela era precisamente teatro, “o grande teatro do mundo”.

No tratamento da arquitetura e do espaço urbano a apurada técnica barroca se prestaria a convencer que a ilusão se aproximava abertamente do real, e que deveria tomar seu lugar na escalada sensível da visão. Não que a imaginação fosse entendida efetivamente como a realidade; mas devido ao fato da realidade se apresentar fenomenicamente, aos sentidos dos espectadores, como ilusão, como alucinação, como teatro. O ambiente barroco desenvolvia-se, desta forma, como uma grande encenação dramática, onde todos eram espectadores de uma experiência acolhedora. Por isso, parte da arquitetura e do ambiente urbano concebido nos séculos XVII e XVIII apresentava-se como um grande teatro, onde o povo assistia comovido o desenlace e a encenação.

Até mesmo os engenheiros militares, tão atuantes na produção da arquitetura no Brasil colonial, ao assumirem o ofício da concepção e edificação da arquitetura religiosa, frequentemente buscariam provocar um sentido de dramatização e inovação ao perseguirem volumetrias mais complexas do que as encontradas nas tradicionais igrejas ortogonais de nave e capela-mor: introduziram, no contexto brasileiro setecentista, as capelas de plantas poligonais que influenciariam diretamente as consagradas igrejas curvilíneas mineiras. Essa discussão, que revela a busca por um partido mais eloquente e cenográfico para a arquitetura religiosa, é apresentada pelos Professores XXXXXXXXXXX (oculto para avaliação cega), em A contribuição dos engenheiros militares na barroquização da planimetria da arquitetura religiosa no Brasil e Portugal entre 1730 a 1750.

Dando continuidade ao simpósio, o Professor XXXXXXXXXXX (oculto para avaliação cega), abre uma discussão que ampara os três trabalhos subsequentes e que versa sobre a expressão do espaço urbano no período barroco: A sala de estar é do santo: Praças eclesiásticas no Brasil Barroco, espaços de apresentação e representação. O professor afirma que, com raras exceções, a conformação das praças coloniais era definida pela presença das igrejas e que, seguindo a lógica da teatralização de tudo o que se expunha ao olhar, estes espaços viriam a ter uma dupla função: “[...] eram ao mesmo tempo espaços de apresentação de uma vila e de representação de sua sociedade”.

Em sequência, o texto A cidade de Icó. Barroco nos sertões do Ceará, escrito pelo Professor XXXXXXXXXXX (oculto para avaliação cega), apresenta uma análise do ambiente urbano barroco da cidade de Icó coerente aos juízos críticos introdutórios levantados pelos Professores Rodrigo Bastos e Mateus Rosada. Imersa no longínquo sertão cearense, a cidade apresentava quatro igrejas que se destacavam frente ao singelo casario por sua qualidade arquitetônica superior, bem como por estarem implantadas em condição especial, dirigindo a trama visibilística que se capturava no cenário urbano – confirmando que a busca por expressões da teatralidade barroca nos núcleos coloniais ainda persistia no século XIX brasileiro.

Mesmo em Salvador, capital da colônia até o ano de 1763, a espetacularização do espaço urbano seria mais determinada pelos ambientes eclesiásticos do que por aqueles representativos do poder da metrópole. Para provar esta premissa (consonante com a do Professor Mateus Rosada), a configuração cenográfica do mais expressivo ambiente barroco da cidade é analisada pelo Professor XXXXXXXXXXX (oculto para avaliação cega) em: O Conjunto Terreiro de Jesus - Pátio de São Francisco como protagonista da experiência urbana barroca na cidade de Salvador. O enredo dramático expresso no cerne das duas praças contiguas se desenvolveria através do confronto entre a igreja dos jesuítas e a dos franciscanos e da sua interface com os outros três templos que viriam a compartilhar o espaço com os dois adros interpenetrantes.

Finalmente, o Professor do XXXXXXXXXXX (oculto para avaliação cega), revela como, no ocaso do Brasil colônia, o plano urbanístico da atual cidade de Niterói seria concebido trazendo princípios que norteariam as estratégias típicas do desenho urbano que buscava ordenar as cidades a partir de finais do século XVI. Em sua contribuição para o simpósio intitulada O plano da Vila Real da Praia Grande na cultura do Barroco Luso-Brasileiro, o professor relata como o projeto da vila deflagrava claros indícios de continuidade de seu desenho em relação à cultura urbanística barroca, bem como frente às suas derivações setecentistas iluministas.

 


Palavras-chave


Barroco; Arquitetura; Espaço Urbano

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