Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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INTERPRETAÇÕES E INTERVENÇÕES EM ÁREAS DE VULNERABILIDADE SOCIAL
Ana Paula Koury, Cristina Campos

Última alteração: 2020-08-19

Resumo


Esta proposta pretende discutir a relação entre as interpretações e os instrumentos de intervenção em áreas de vulnerabilidade social na américa latina a partir de estudos de caso. O Brasil urbanizou-se de modo rápido e concentrado. Entre as décadas de sessenta e oitenta a migração das áreas rurais para as grandes cidades intensificou-se dando origem a um fenômeno de grandes proporções que ocorreu ao mesmo tempo e de modo semelhante principalmente no Peru e na Colômbia. Os estudos desse fenômeno marcam a construção de um campo teórico sobre a informalidade urbana na América Latina no qual destacam-se as interpretações pioneiras de Turner (1966), Kowarck et alt. (1975), Leeds & Leeds (1978), Castells (1979) Bonduki & Rolnik (1979). Essas interpretações são contemporâneas à um conjunto de experiências de projetos e intervenções nessas áreas como o Proyecto Experimental de Vivienda (PREVI-Peru, 1966), Bras de Pina (1969) e Colômbia. As intervenções procuravam responder aos desafios da urbanização intensiva que superava a capacidade de resposta do Estado, colocando em xeque a experiência modernista de habitação apoiada em políticas públicas de atendimento e produção de unidades em grande escala. Em geral combinaram sistemas construtivos leves e alternativos, usos mistos e espaços coletivos com o objetivo de dar suporte a uma forma social muito diversa daquela determinada pela divisão social do trabalho, do tempo e do espaço que caracterizam o estereótipo da era industrial no início do século XX. Respondendo ao capitalismo tardio e periférico através de um novo arranjo espacial, construto e social. Em 2001 a revista Espaço & Debates publicou um número especial sobre as periferias intitulado Periferias revisitadas, convidando ao debate o geógrafo Juergen Richard Langenbuch, e o historiador José de Souza Martins e o arquiteto Nabil Bonduki. O lugar da questão social no número publicado no primeiro ano do século XXI, demonstra o desgaste das categorias de análise que havia dado suporte às interpretações da marginalidade urbana na América Latina e de algum modo fundamentado as perspectivas de intervenção nas áreas de vulnerabilidade social. Qual foi o deslocamento da questão social na interpretação e intervenção em áreas de vulnerabilidade social na América Latina no final do século XX?

Os trabalhos reunidos nessa sessão abordam o deslocamento da questão social nas teorias e práticas do urbanismo. Os dois primeiros trabalhos abordam os temas em uma perspectiva histórica comparada no Brasil. O primeiro trabalho aborda o caso da Zona Portuária do Rio de Janeiro em dois períodos históricos distintos, a reforma de Pereira Passos (1903-1906), e o projeto conhecido como Porto Maravilha (2009-atual). A autora aponta que nos dois projetos de intervenção analisados, a questão social é enunciada como premissa do projeto, entretanto, afirma que “não é possível identificar esforços concretos do poder público para combater situações de vulnerabilidade social das pessoas que vivem nesses espaços”. O segundo trabalho aborda os deslocamentos do conceito de urbano presentes nos artigos da revista Espaço & Debates entre 1981 e 2005, período de circulação deste periódico. A análise parte da bibliometria dos títulos dos índices sistematizados da revista para criar uma amostra de artigos que permita identificar diferentes posições sobre o urbano para os autores.

Os dois trabalhos do bloco seguinte abordam a questão social da habitação e do urbanismo em casos paradigmáticos na América Latina, respectivamente a contribuição de Turner (1927-) e Terner (1939-1996) sobre o tema da habitação e autoconstrução, e o urbanismo social na Colômbia (2004-2011). Turner e Terner tiveram grande influência sobre as interpretações da informalidade no suprimento de habitação em contextos de pobreza urbana na América Latina. O trabalho apresenta a “visão da tecnologia da construção” presentes nos textos paradigmáticos dos autores escritos entre 1968 e 1976. Apresenta a correlação entre “autoconstrução e intervenção estatal vigentes na América Latina desde os anos cinquenta do século passado”, ainda em debate na contemporaneidade. O trabalho seguinte aborda o Projeto Urbano Integral na Comuna 13, Medellín, Colômbia apresentando as transformações sociais e urbanas geradas no contexto de violência e pobreza urbana que antecederam a intervenção. Trata-se de um modelo paradigmático do urbanismo social em debate no Brasil atualmente. Compreender o contexto e as condições em que ocorreu na Colômbia é uma contribuição relevante para adaptar o modelo ao caso brasileiro.

 

Os dois trabalhos que encerram a sessão apontam uma nova agenda de debates na América Latina à partir da ascensão e crise que caracteriza o aprofundamento do modelo neoliberal na América Latina. O primeiro trabalho questiona a atualidade do cooperativismo de moradia uruguaio para a interpretação e intervenção em áreas de vulnerabilidade social na atualidade. o modelo de cooperativismo difundido através da experiência uruguaia da Fucvam - “Federación Uruguaya de Dooperativas de Vivieda por Ayuda Mutua. O autor do trabalho questiona a validade desse modelo “anticapitalista” na transformação e intervenção em zonas de vulnerabilidade na contemporaneidade. O último trabalho aborda o tema da vulnerabilidade urbana a partir do legado do Geógrafo Milton Santos e procura ampliar os significado de vulnerabilidade urbana para o campo da percepção estabelecendo um diálogo com a saúde mental e os estudos que atualmente relacionam espaço, percepção e neurociência.


Palavras-chave


áreas de vulnerabilidade; informalidade urbana; América Latina

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