Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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É possível fissurar o espaço público?
Tarcisio Gontijo Cunha, Denise Morado Nascimento

Última alteração: 2020-08-15

Resumo


O presente artigo relata a experiência de uma disciplina desenvolvida e ministrada no curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), como parte das atividades de doutorado de um dos autores, e está estruturado em três partes.

Na primeira parte são trazidos os conceitos principais que estão sendo trabalhados na pesquisa de doutorado, a qual parte do pressuposto de Bauman (2012) de que estamos em um período de interregno. Por um lado, nota-se o avanço do processo de neoliberalização (DARDOT; LAVAL, 2016) da vida política, econômica e social, no qual as ações de choque e cooptação são formas de garantir a coesão social do sistema. Por outro lado, ações de ruptura com a lógica neoliberal têm proliferado por meio de iniciativas e práticas que, se capazes de se configurarem em um novo-fazer, podem se converter em fissuras (HOLLOWAY, 2013) ao sistema. A pesquisa também mostra que a dicotomia entre o processo de neoliberalização e as fissuras pode ser encontrada no espaço público, pela proliferação de dispositivos de segurança e proteção (como concertinas, cercas elétricas, fincos, pedras, entre outros) e pelo discurso de aversão ao “estranho”, mas também pelos indícios dados pelos usuários desse espaço ao realizarem adaptações para garantir seu direito de uso ou, simplesmente, ao reivindicarem a sua existência. Essa dicotomia foi a discussão principal trabalhada pela disciplina.

Na segunda parte é relatada a estruturação da disciplina de graduação em quatro etapas (Instrumentação, Leitura do Lugar, Proposição e Aplicação), sustentada por conceitos complementares, como: regras e desvios (BECKER, 1980), pautando a relação sociológica do comportamento; simbolismo espacial (CHING, 2008), trazendo a relação formal com esse mesmo comportamento e; a lógica do processo diagramático de projeto (BOAVENTURA, 2017), onde essas relações, junto a outras categorias de análise, entram como atributos de pesquisa na estruturação das decisões projetuais.

Por fim, na última parte é trazida a articulação entre a pesquisa e a disciplina, por meio da exposição dos seguintes pontos: (i) aplicação dos conceitos de regras e desvios e simbolismo espacial no espaço público; (ii) compreensão da relação dos atributos socioespaciais na viabilização (ou inibição) das ações de permanência no espaço público; e, (iii) possibilidades e limitações para a realização de ações que possam se configurar como possíveis fissuras.


Palavras-chave


Espaço Público; Interregno; Fissuras Urbanas

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