Portal de Conferências da UnB, VI Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo

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ARQUIVOS, PUBLICAÇÕES, CURADORIA: UMA NOVA AGENDA HISTORIOGRÁFICA
Eduardo Augusto Costa

Última alteração: 2020-08-18

Resumo


A revisão historiográfica da arquitetura brasileira empreendida nas últimas décadas ampliou os problemas, os atores e os temas enfrentados. Desdobrou em novas agendas de investigação, na organização de programas de pós-graduação, na criação de eventos científicos – como ENANPARQ, ARQUIMEMÓRIA e SHCU –, além de uma série de ações que reordenaram a produção historiográfica. Este movimento, se foi desdobramento de uma agenda internacional que buscou equacionar diferenças econômicas, sociais e raciais especialmente, foi também um desdobramento da agenda de redemocratização do Brasil. Revisitar os pressupostos teóricos e as narrativas oficiais, dando voz a excluídos e marginalizados foi um acerto de contas necessário para uma pretendida reorganização e pacificação social do país. Um imperativo às ciências humanas, que passou a mobilizar novos suportes documentais como mapas, fotografias, cartas e documentos pessoais. Mas a realidade brasileira tem tons distintos da internacional.

As dinâmicas econômicas e sociais na Europa, especialmente com a Revolução Cultural de 1968, mas também com a crise do petróleo em 1973, colocaram a cultura no centro da agenda política. O governo francês, por exemplo, inaugurou o Centro Pompidou em 1977, ainda hoje, um dos maiores aparatos culturais e políticos do ocidente. O imediato impacto de seu departamento de arquitetura fez surgir dezenas de museus dedicados à área, como o Canadian Centre for Architecture e o Netherlands Architecture Institute; assim como uma série de instituições dedicadas a pensar os arquivos e as coleções, como: a International Confederation of Architectural Museums; o DOCOMOMO; e a Section on Architectural Archives do International Council of Archives. Constituir arquivos e coleções de arquitetura, conservar e preservar seus documentos passou a ser agenda estrutural de governos, universidades e instituições culturais desejosos por uma posição relevante na dinâmica de produção de conhecimento da área.

A atividade curatorial, neste cenário, ganhou lugar de destaque. Desde que Veneza lançou sua Bienal de arquitetura, as estruturas expositiva vêm ocupando um dos lugares mais importantes para a difusão e a produção do conhecimento. Os eventos organizados em Veneza, Oslo, Chicago, Lisboa e Istambul não são apenas estruturas efêmeras ligadas ao circuito das artes. Ao contrário, são os lugares de formulação das agendas de produção do conhecimento que vêm sendo seguidas pelos programas de pesquisa e pós-graduação em universidades como Columbia, Princeton e Harvard. As bienais são lugares onde se agendam as reflexões da história da arquitetura. Beatriz Colomina, Felicity Scott e Mark Wigley bem representam esta relação, revelando uma vez mais que a formulação teórica dos historiadores, na contemporaneidade, encontra-se nesta interface com os domínios da visualidade.

As universidades de ponta na produção teórica da história da arquitetura, não por menos, constituíram programas de pós-graduação dedicados a práticas curatoriais, mídias e cultura visual. Deste modo, não apenas as fotografias e os mapas, mas também os tradicionais suportes documentais, como livros e desenhos, podem ser melhor problematizados e manejados, facilitando as formas de se operar com os novos suportes e suas linguagens. É neste cenário que emergem os livros e os catálogos de exposição, que fazem com que perdurem os debates organizados pelo sistema das bienais, como também os debates consolidados em simpósios ou ciclos organizados em programas de pós-graduação. O papel que antes foi ocupado pelas revistas, foi transferido para o domínio dos livros. Ter um bom catálogo de livros, bons editores e uma boa qualidade gráfica não são pormenores. Ao contrário, editoras e selos editoriais como a GSAPP Books, a Lars Müller e a Park Books são exemplos de que ter domínio dos impressos e ter seu trabalho publicado por tais editorias é também fator preponderante dentro desta dinâmica.

O cenário aqui apresentado busca sinalizar para um debate que vem ocupando a agenda de jovens professores, atuantes em programas de História da Arquitetura, da Cidade e do Design. Trata-se de um debate nascente, organizado através de seminários, encontros, grupos de trabalho e publicações.

É neste sentido que a Sessão Livre aqui proposta trata de, ao mesmo tempo, reconhecer a importância da revisão historiográfica posta em prática desde os anos 1990, mas também sinalizar para uma mudança na agenda contemporânea. Busca-se dar destaque a novos problemas e meios através dos quais vem se configurando o trabalho historiográfico, indicando caminhos para o desenvolvimento de pesquisas, laboratórios e políticas em programas de pós-graduação de história da arquitetura, da cidade e do design no Brasil. Deste modo, o primeiro trabalho faz uma breve compilação bibliográfica de obras que tratam destes temas e, assim, organiza um referencial de pesquisa para a nova agenda historiográfica. O segundo trabalho desenvolve uma reflexão sobre experiências contemporâneas que mobilizam estes três domínios, demonstrando como tal articulação se dá de forma prática. O terceiro trabalho também parte de uma experiência prática – Ocupação Rino Levi, no Itaú Cultural – para problematizar o trabalho curatorial na relação com o ofício do historiador da arquitetura. O quarto e o quinto trabalho partem de um livro específico para desenvolver uma reflexão sobre como tais publicações funcionaram como peças estruturantes de determinados discursos, cada um em seu contexto e época.

É sob este panorama equacionado entre o domínio dos arquivos, da curadoria e dos livros que os trabalhos aqui reunidos pretendem sinalizar para uma agenda emergente entre os historiadores brasileiros.


Palavras-chave


historiografia; arquitetura; cidade

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