A atividade artística em curso desde os anos 1990 reflete uma tônica recorrente em obras contemporâneas: a correlação entre o espaço e a receptividade artística; na medida em que, em um campo ampliado e prático da arte, leituras da cidade são proporcionadas a partir de diferentes formas de relações sociais. Tais noções relacionais ficam evidentes em duas obras: Cidade Dormitório, do artista brasileiro Guga Ferraz, e Paracaidista Av. Revolución 1608 bis, do artista mexicano Héctor Zamora. Se em uma oito camas empilhadas de forma escultórica na parede externa da galeria A Gentil Carioca no Rio de Janeiro permitiam o encontro fortuito daqueles que cruzavam seu caminho e por conseguinte novas atribuições ao espaço público, em outra uma estrutura atrelada a fachada do Museo Carrillo Gil na cidade do México e que serviu de moradia para o artista por três meses, limitava o acesso do público através de horários marcados e refletia assim, mesmo que de forma indireta, apenas o encontro daqueles que se identificavam entre si. Neste sentido, a leitura crítica de tais obras permite a construção de uma problematização do espaço em que a arte está inserida, a fim de compreender como através de suas possibilidades comunicativas a arte contesta seu vínculo ao contexto e estrutura noções de receptividade artística.