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“Nós contamos nossa história”: cidadania e protagonismo midiático de cegos na comunicação organizacional
Francislene Pereira de Paula, Marcello Pereira Machado

Última alteração: 2012-08-16

Resumo


Para o presente artigo, partimos do pressuposto de que a informação é um direito humano, que possibilita o exercício da cidadania e constitui a “porta de acesso a outros direitos” (GENTILLI, 1995, p. 158). Avançando nos conceitos, ressaltamos a relevância do direito à comunicação na sociedade contemporânea. Para além de suas causas específicas, diversos movimentos sociais defendem a democratização midiática, sobretudo no acesso aos meios de produção comunicacionais, permitindo a pluralidade de “vozes” na cena atual. Estudos e experiências de mídias comunitárias têm demonstrado o quanto é salutar que distintos atores sociais tenham acesso aos media como produtores de conteúdo, numa sociedade cada vez mais mediatizada. Nesse sentido, discutiremos possibilidades de protagonismo midiático de minorias sociais, em especial pessoas com deficiência visual, por meio do programa de rádio “Nós contamos nossa história”, gravado em Juiz de Fora-MG com assistidos da Associação dos Cegos, entidade civil sem fins econômicos onde atuamos como profissionais voluntários do Departamento de Comunicação e Marketing.

O programa foi gravado em dezembro de 2011 e teve, como âncoras e entrevistados, participantes de projetos desenvolvidos pela Associação. O objetivo foi promover o protagonismo midiático de cegos, que alcançaram visibilidade e “voz” para apresentar sua realidade e suas demandas e impressões e vivências. Com isso, histórias de vida, dificuldades enfrentadas e o processo de integração e inclusão sociais foram apresentados pelos próprios indivíduos.

Ter os principais beneficiários das ações da entidade falando das mesmas parece-nos uma forma sincera de trabalhar com a noção de empoderamento social — perspectiva em que as minorias sociais, mais que beneficiárias e receptoras de ações (governamentais ou civis), sejam entendidas como atores sociais, protagonistas de suas histórias e capazes de falar por si mesmos, sem a intermediação de pessoas externas à realidade vivida. A iniciativa consistiu, pois, numa experiência estética de subjetividades.

A promoção do direito à comunicação norteará a discussão do artigo, levando em consideração as especificidades do grupo envolvido no projeto, cuja identificação com o rádio é grande. Já tivemos relatos de cegos dizendo que, quando estão ouvindo rádio com a família, se sentem numa situação de igualdade, visto que o veículo não requer o uso da visão para ser compreendido. Por outro lado, comentaremos a importância de iniciativas inclusivas em variadas mídias, como a impressa e a televisiva.

Por fim, discutiremos o projeto como uma tentativa de difundir novas formas de lidar com a diversidade humana. Frequentemente, pessoas com deficiência são apresentadas, pelos meios de comunicação, ora como vítimas, coitadas, sempre dependentes, ora como “super-humanos”, heróis que, “apesar da deficiência”, realizam prodígios. Uma ação como a explicitada no artigo pode contribuir para a retirada dos extremos estigmatizantes nessas representações e para a realização de práticas participativas que conscientizem e mobilizem a sociedade no processo de inclusão das pessoas com deficiência.


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