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Entre a música e o crime? Uma análise sobre discursos midiáticos e o ensino de música em para crianças e jovens em projetos sociais
Laize Soares Guazina

Última alteração: 2012-08-15

Resumo


Na atualidade, as práticas musicais têm sido associadas à construção de novas possibilidades de vida e ao enfrentamento das violências e vulnerabilidades sociais, principalmente nos centros urbanos. Essas possibilidades costumam ser definidas pela ideia de que ‘a música’ (normalmente pensada no singular e associada a certos valores sócio-culturais) pode realizar uma ‘transformação social’ ‘positiva’ nos contextos e na vida das pessoas. Em 2011 finalizamos uma tese de doutorado em Música que buscou analisar parte desse cenário por meio da etnomusicologia (Araújo, 2008; Turino, 1993; Small, 1999), em articulação com contribuições da terceira fase da obra de Foucault (2006; 2008) - na chamada ‘fase ética’ - e de outros autores, e que propôs problematizar as práticas musicais frente às consequências do neoliberalismo. A pesquisa investigou as relações entre as práticas musicais, especialmente realizadas por meio do ensino de música, promovidas por projetos sociais de ONGs e direcionadas a crianças e jovens moradores de áreas desassistidas pelo Estado na cidade do Rio de Janeiro, a construção de seus contextos de vida e suas subjetividades, a noção de ‘transformação social’ e a aproximação de elementos da política de segurança pública, notadamente no Programa Nacional de Segurança com Cidadania - Pronasci. Com base na pesquisa citada, neste artigo propomos a análise das vinculações entre a produção de discursos midiáticos naturalizados e naturalizantes sobre as práticas musicais no cenário do ensino de música em projetos sociais e sobre as populações atendidas por eles, expondo algumas reportagens coletadas ao longo da pesquisa. Tais discursos mostram-se associados à afirmação das práticas musicais como ‘eminentemente positivas’ no campo social e a discursos pouco problematizadores sobre suas relações com a guerra e a paz, desvinculando-os de sua gênese social e cultural (Yúdice, 2006; Ochoa, 2003, 2006). Fenômeno, esse, que tem sido analisado em suas imbricações diretas com os conflitos gerados pelo neoliberalismo em diferentes países, nos quais se inclui a policização da vida (Wacquant, 2004). Conjuntamente, não raras vezes, tais discursos tendem à afirmação de noções estigmatizadoras sobre as crianças e jovens mais pobres, ao tomarem o ensino de música como a ‘arma’ que evitaria o praticamente ‘esperado’ caminho para a futura vida criminosa desses sujeitos (Araújo, 2006; Hikiji, 2006; Kleber, 2007; Silva, 2005). Desse modo, produzem uma aproximação com a política de segurança pública que, por vezes, é calcada em lógicas belicosas, elitistas e distanciadas dos direitos sociais. Tais produções midiáticas acabam por deixar em segundo plano as perspectivas dos sujeitos atendidos e seus movimentos em direção a outros modos de viver, existir e construir cidadania, ainda que tenham papel importante na visibilidade e manutenção dos próprios projetos sociais, como pode ser compreendido pelo trabalho de pesquisa.


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