Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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TEORIAS DO JORNALISMO: EXAME CRÍTICO DA LITERATURA LUSOBRASILEIRA
Cristiano Anunciação

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Resumo:Este texto busca examinar criticamente livros de teorias do jornalismo, com base no trabalho de Luiz C. Martino (2006). Faremos uma espécie de cartografia dessas obras para saber (1) quais as teorias do jornalismo e (2) quais os critérios de seleção desse conjunto.

Palavras-chave: Teorias do jornalismo; Exame crítico; Literatura luso-brasileira.

Este texto tem o objetivo de examinar criticamente os livros de teorias do jornalismo. Nossa análise abrange o material que Luiz C. Martino (2006, 2007) classifica, nas teorias da comunicação, como “teorografo”, neologismo derivado das palavras “teoria” e “grafia”. Esse tipo de bibliografia não necessariamente produz teoria. Trata-se, na verdade, de autores/obras que fazem uma compilação (ou sistematização) de teorias relacionadas a um determinado campo de estudos. Neste intento, empregaremos o conceito e o recurso metódico48 de Martino, pois verificamos nos estudos em teorias do jornalismo os mesmos equívocos na reflexão sobre as teorias da comunicação. Como o debate em torno das teorias do jornalismo é mais recente, essa relação com as tradicionais teorias da comunicação aparece-nos como um caminho mais conveniente. Tal adesão ocorre também por entendermos o jornalismo como um fenômeno comunicacional. Logo, teorias do jornalismo são teorias da comunicação. A concepção de “teorografia” ajuda-nos a responder dois questionamentos básicos: (1) Quais são as teorias reconhecidas como teorias do jornalismo pelos “teorografos”?; e (2) Quais os critérios de seleção dessas teorias? A segunda questão depende da primeira, já que não se pode selecionar aquilo que não se conhece, que não se sabe sua origem, nomenclatura etc. A opção por este tipo de livro deu-se por essa categoria representar o capital teórico do campo, ou seja, “o material mais prontamente acessível” (MARTINO, 2006, p. 6), sendo bastante utilizado no ensino e na pesquisa em jornalismo no Brasil. É importante dizer que a noção de capital teórico relaciona-se com uma parte das obras (domínio específico), estando, portanto, em oposição ao patrimônio teórico, que representa o conjunto total que compõe a matéria. Apresentamos abaixo as obras “teorográficas” que serão examinadas e uma breve contextualização delas:

(1) Teorias da notícia e do jornalismo, de Jorge Pedro Sousa:

Lançado em 2002 no Brasil, numa co-edição da Argos (Chapecó/SC) com a Letras Contemporâneas (Florianópolis/SC), trata-se da primeira obra nesses moldes (teorográfico) publicado no país. É o segundo livro do autor mais citado no Google Acadêmico, com 371 menções.49 Foi publicado primeiramente em Portugal, em 2000, sob o título As notícias e os seus efeitos: as teorias do jornalismo e dos efeitos sociais dos media jornalísticos.50 Fica atrás de Elementos de teoria e pesquisa da comunicação e da mídia, de 2003, que tem 402 registros.

(2) Teorias do jornalismo –

Porque as notícias são como são (Volume I), de Nelson Traquina: Este foi o segundo livro publicado no Brasil, em 2004, com a chancela teorias do jornalismo. A obra é resultado de uma parceria da Editora Insular (Florianópolis/SC) com o curso de especialização em Jornalismo e Mídia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que o encomendou especificamente para o autor e aparece em dois volumes (o volume II será analisado no próximo tópico). Eduardo Meditsch51 (p. 16), que assina a apresentação deste primeiro volume, diz que a edição foi feita com recursos do II curso de Especialização em Estudos de Jornalismo da UFSC Até sua publicação, o único livro editado por Traquina no Brasil havia sido O estudo do jornalismo no século XX (Unisinos, 2001). Em 1993, publicou em Portugal a coletânea Jornalismo: questões, teorias e “estórias”, com textos de autores como David Manning White, Gaye Tuchman e Michael Schudson.52 Teve outros livros publicados lá, como O poder do jornalismo (Minerva, 2000) e O que é jornalismo (Quimera, 2002). Como o pesquisador não está cadastrado no Google Acadêmico, ao contrário do seu compatriota Jorge Pedro Sousa, suas duas obras aparecem sob a busca genérica de Teorias do jornalismo. Ou seja, os registros estão relacionados tanto ao volume I quanto ao volume II, cuja análise será apresentada mais adiante. Ao todo, são 1.511 menções.53

(3) Teorias do jornalismo – A tribo jornalística: uma comunidade interpretativa transnacional (Volume II), de Nelson Traquina: A obra é uma continuidade do primeiro volume (separado em dois tomos “por razões operacionais”, como afirma Eduardo Meditsch, na apresentação do volume I, p. 15) e foi editada no Brasil em 2005. Ao contrário do primeiro livro, este aparece especificamente registrado no Google Acadêmico, com 417 citações.54

(4) Teoria do jornalismo, de Felipe Pena:

Este é o primeiro título lançado por um autor genuinamente brasileiro. Sua primeira edição é de 2005. Aliás, das quatro obras analisadas, esta é a única em que a matéria está grafada no singular: teoria do jornalismo. Também é a única obra que não tem ligação (direta, pelo menos) com o curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Não dispõe de cadastro em seu nome no Google Acadêmico, mas o livro mostra-se em 794 referências.55

Referências:

MARTINO, Luiz Claudio. Uma questão prévia: existem teorias da comunicação? In: MARTINO, Luiz Claudio (Org.). Teorias da comunicação: muitas ou poucas? Cotia: Ateliê Editorial, p. 13-42, 2007.

______. Teorias da comunicação: o estado da arte no universo de língua espanhola. XXIX Intercom. Anais… Brasília, 2006.

PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2006.

SOUSA, Jorge Pedro. Teorias da notícia e do jornalismo. Chapecó: Argos, 2002.

TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo: a tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional. 2ª ed. Florianópolis: Insular, 2008.

______. Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são. 2ª ed. Florianópolis: Insular, 2005.