Portal de Conferências da UnB, I Jornada Discente de Pesquisa em Comunicação - PPGCom FAC/UnB (2017)

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LUZES E SOMBRAS NO SERTÃO DO CINEMA BRASILEIRO
Ronald Souza de Jesus

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Mestre em Comunicação Social no Programa de Pós-Graduação da FAC/UnB. Orientador: Prof. Dr. Marcelo Feijó

Resumo: Esse texto sintetiza os métodos e os resultados de uma pesquisa realizada entre 2014 e 2015 sobre as luzes e as sombras no Sertão do cinema brasileiro, através da análise de 36 filmes de ficção realizados entre 1996 e 2013.

Palavras-chave: Cinema brasileiro, Cinematografia

Apresentação da proposta: Nesse trabalho, definimos, a partir de Ricardo Aronovich (2004), o fiat lux como a potência do homem na criação da luz e o Choque Lumínico como o potencial da luz sobre o humano. Através desses dois conceitos, passando por uma análise panorâmica sobre a iluminação do sertão em filmes pós-retomada, nossa leitura se voltou para três produtos que, em conjunto, reuniram características de luz presentes em todo o corpus: Guerra de Canudos (1997), A máquina (2006) e À beira do caminho (2012).

Objetivos: Analisar o comportamento das luzes e das sombras, e investigar a construção da fotografia em filmes de sertão.

Procedimentos metodológicos: Unindo crítica de processo, análise fílmica, entrevistas e guiando-nos pelos conceitos de Choque Lumínico (ação da luz sobre o indivíduo) e de fiat lux (ação do indivíduo sobre a luz), realizamos uma catalogação de imagens de todo o corpus que somou milhares de frames. Capturamos telas que registraram os gráficos disponíveis através de waveforms e vectorscopes, que nos informaram quantitativamente os dados da luminosidade, do contraste e da saturação das imagens. Desse modo, a pesquisa apresenta as luzes e as sombras no sertão do cinema de ficção sob as seguintes categorias de análise: luz, sombra, temperaturas de cor, luminosidade, suportes de captação e formatos – elementos responsáveis pela materialização dos roteiros e textos literários em narrativas visuais.

Referencial teórico: Nosso referencial conta com entrevistas e depoimentos de diretores de fotografia – obtidos através do método de crítica de processo (SALLES, 1998). São relatos de Adrian Teijido, Antônio Luiz Mendes, Carlos Ebert, Edgar Moura, Nonato Estrela, Ricardo Aronovich e Walter Carvalho. Sobre composição de imaginários, trazemos principalmente as noções de elaboração da direção de fotografia, acrescidas de reflexões propostas por Bachelard (1989) e por Vittorio Storaro (2004), sobre a influência da luz sobre o homem e vice-versa. Quanto aos processos de tradução, tratamos daqueles mediados pelos fotógrafos, de imaginários gestados em fontes diversas – roteiros originais, história oral, música, literatura – e transpostos para a imagem de cinema, considerando sempre a ideia proposta por Walter Carvalho (2007), de que há, ao menos, dois mil anos por trás de uma imagem, que não foi o autor quem a inventou, e que esse, por sua vez, precisa conhecer para compor.

Resultados: Dessa pesquisa resultou um quadro de filmes pós-retomada onde a luz atua como elemento narrativo e o sertão aparece como um personagem que acresce o drama da história. Trouxemos o conceito de choque lumínico e a apropriação do fiat lux, enquanto um domínio dos fotógrafos, e encontramos os waveforms e vectorscopes como instrumentos para análise de imagens, proporcionando a visualização de dados quantitativos e colaborando na análise do código visual concreto. Exemplificamos a análise de conteúdo e de processo, e trouxemos conteúdo inédito através de entrevistas com fotógrafos sobre o exercício da direção de fotografia no passado, no presente e no futuro. Nenhum dos filmes do corpus principal é em branco e preto, e todos foram fotografados em película. Em filmes lançados após 2013, fora do corpus, notamos que predomina a captação eletrônica, quando dispositivos digitais funcionam sem prejuízos em relação à película. Predomina uma luz mais “domada” do que em filmes, por exemplo, do Cinema Novo. Se na década de sessenta, sentenças como “seu filho morreu de fome e você não fez nada? ” (Os fuzis, 1964) não refletiriam coerência em uma luz confortável, hoje os dramas são mais sutis, de outras ordens psicológicas. Talvez essas imagens mais polidas sejam agora as adequadas para contar nossas histórias.

Referências:

ARONOVICH, Ricardo. Expor uma história. Rio de Janeiro: Gryphus; São Paulo: ABC, 2004.

BACHELARD, Gaston. A chama de uma vela. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand, 1989.

CARVALHO, Walter. Entrevista concedida à Cristina Leal. Rio de Janeiro: ComTexto, 2007.

JESUS, Ronald. Do Choque Lumínico ao Fiat Lux. Brasília: Universidade de Brasília. Dissertação de Mestrado em Comunicação, 2015.

MOURA, Edgar Peixoto de. 50 anos luz, câmera e ação. São Paulo: Ed. SENAC, 2010.

SALLES, Cecília. Gesto inacabado. São Paulo: FAPESP: Annablume, 1998.

STAM, Robert. A Literatura através do Cinema. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

STORARO, Vittorio. Writing with Light. Aperture, 2004.