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CRÍTICO: KLEBER MENDONÇ FILHO E AS MÚLTIPLAS RELAÇÕES CRÍTICA-REALIZAÇÃO
Nayara Helon Chubaci Güércio, Victor Lemes Cruzeiro

Última alteração: 2019-06-16

Resumo


Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília. Linha: Imagem, Som e Escrita. Orientadora: Profa. Dra. Tânia Siqueira Montoro.
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade de Brasília. Linha: Imagem, Som e Escrita. Orientador: Prof. Dr. Gustavo de Castro e Silva.

Resumo: A partir da metodologia de análise fílmica de conteúdo, proposta por Manuela Penafria (2009) este trabalho busca responder se Kléber Mendonça Filho, enquanto crítico e realizador, atualiza ou propõe uma nova forma de criticar a crítica audiovisual.

Palavras-chave: Crítica cinematográfica. Cinema. Realização. Curadoria. Kleber Mendonça Filho.

APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA:

O documentário Crítico (2008), de Kleber Mendonça Filho, é composto por setenta depoimentos de críticos especializados e realizadores de várias épocas que, em um desfile de blocos temáticos, busca não reiniciar uma discussão acerca do que é a crítica cinematográfica contemporânea, mas como se dariam as múltiplas relações com essa crítica. Longe de propor uma batalha de oposições dialéticas entre as falas (OLIVEIRA, 2008), o realizador deixa que falem livremente, cada uma em seu espaço, sem a interferência direta do cineasta. Sua voz falada não protagoniza as imagens em movimento, contudo, ela está presente nas ideias e reflexões que, à guisa de intertítulos, atravessam os blocos temáticos com imagens de arquivo e citações. Kléber, o realizador, faz-se presente. Todavia, como se dá essa presença quando o próprio cineasta que fala sobre crítica é, antes de tudo, também um crítico?

OBJETIVOS:

Este trabalho busca responder se Kleber Mendonça Filho, ao colocar-se atrás da câmera — mesmo que de forma silenciosa — atualiza ou propõe uma nova forma de criticar a crítica. Estas duas hipóteses orbitam em torno de duas fortes considerações internas e externas ao documentário. Em primeiro lugar, Kléber posiciona-se simultaneamente como realizador, crítico e curador (já que também foi responsável pela edição das entrevistas). Em segundo, Kleber faz parte de um ambiente hiperinflacionado de crítica, no qual a crítica especializada se diluiu em um mar de diletantismo, em blogs, fóruns e feeds, e no qual convencionou-se a chamar de crítica “qualquer coisa escrita sobre cinema”, como provoca o cineasta Luiz Carlos Lacerda.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:

Sob o aporte metodológico de um dos procedimentos de análise fílmica propostos por Manuela Penafria (2009), a análise de conteúdo, este trabalho investiga o documentário Crítico, de Kleber Mendonça Filho, bem como a própria figura do crítico-realizador, numa tentativa de enxergar um horizonte propício à crítica em um país onde pouco se vê, se lê e se discute cinema sem o “velho” respaldo dos “achismos”. Segundo a autora (2009, p. 6), a análise de conteúdo considera o filme como um relato e leva em consideração apenas o tema da obra: “A aplicação deste tipo de análise implica, em primeiro lugar, identificar-se o tema do filme. […] Em seguida, faz-se um resumo da história e a decomposição do filme tendo em conta o que o filme diz a respeito do tema” (idem).

REFERENCIAL TEÓRICO:

A crítica deve ser compreendida como anterior à realização, assim como a leitura é anterior à escrita (FLUSSER, 2010). Ela deve ser encarada como caminho para a realização, mais ainda em um ambiente sem espaço – comercial e mesmo acadêmico – para a análise especializada. Para a discussão do que vem a ser e como se desenvolve uma crítica cinematográfica, foram utilizados os textos “Crítica de Cinema: História e influência sobre o leitor” de Regina Gomes (2006) e "Como se Comenta un Texto Fílmico" de Ramón Carmona (1996). Para a análise de conteúdo, foi utilizado o texto "Análise de filmes – conceitos e metodologia(s)” de Manuela Penafria (2009).

RESULTADOS ESPERADOS:

A dúvida sobre a proposta do documentário resolve-se, então, na reflexão sobre a figura do crítico, que deve se posicionar também como realizador. Pontua-se esta afirmação com a carreira do próprio cineasta, mas também com a lembrança de grandes movimentos cinematográficos cujos realizadores emergiram da crítica, como a Nouvelle Vague francesa e o Cinema Novo brasileiro. De maneira metalinguistica, Kleber, o crítico-realizador, desenha um cenário em que a crítica, em meio a picos e vales, está em constante mutação. Podemos concluir que sua voz de crítico ecoa entre as imagens do documentário, ratificando, assim a frase de Oscar Wilde, resgatada por Mendonça Filho no início da obra: “toda crítica é uma autobiografia”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

AUMONT, Jacques; Marie, Michel. A análise do filme. 2. ed. Lisboa: Edições Texto & Grafia, 2004.

CARMONA, Ramón. Como se Comenta un Texto Fílmico. Cátedra, 1996. FLUSSER, Vilém. A Escrita – Há futuro para a escrita?. São Paulo: Annablume, 2010. GOMES, Regina. Crítica de Cinema: História e influência sobre o leitor. Revista Crítica Cultural. Santa Catarina, PR, vol. 1, n. 2, 2006.

MORIN, Edgar. "A alma do cinema". In: XAVIER, Ismail. (org). A experiência do cinema. Rio de Janeiro: Graal, 2003.

OLIVEIRA, Rodrigo de. CRÍTICO, de Kleber Mendonça Filho. 2008. Acesso em 20 mar. 2017.

PENAFRIA, Manuela. Análise de filmes – conceitos e metodologia(s). Trabalho apresentado no VI Congresso SOPCOM. Lisboa, 2009.

REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS:

CRÍTICO. Filme. Direção: Kleber Mendonça Filho. Produção: CinemaScópio. 2008. 1DVD (80 min).