Última alteração: 2019-06-16
Resumo
Resumo
Pensar a comunicação em termos epistemológicos é desafiador. Almejando o status de ciência a comunicação ainda não conquistou um objeto de estudo comum a seus pesquisadores. Proposta: analisar a dispersão teórica pelo viés metodológico-conceitual.
Palavras-chave: Comunicação; Epistemologia; Objeto.
Resumo Expandido
Pensar a comunicação em termos epistemológicos tem sido um grande desafio para pesquisadores da área. Pensar as particularidades da comunicação no âmbito de sua epistemologia tem sido romper fortes paradigmas para aqueles que almejam contribuir com a consolidação de um campo. Como é possível uma área que almeja o status de ciência ainda não ter uma definição sobre o seu objeto de estudo? Qual a complexidade de se identificar o objeto da comunicação?
Estas questões se tornam emblemáticas quando, devido às novas tecnologias que implode conceitos tradicionais da comunicação, uma vez que a disciplina é movida pelo império da velocidade e da constante renovação tecnológica. Não raro, encontramos quase sempre os estudos da comunicação analisando sob a perspectiva instrumental. Quiroga (2013) ao referir-se a Katz, considerou que segundo este, as pesquisas em comunicação se resumem aos efeitos. Da mesma forma, Craig (1999), ao analisar as teorias da comunicação observa a falta de consenso, entre pesquisadores que não se posicionam, permanecendo em uma rivalidade ou linearidade, supostamente neutra e imparcial, que teria por consequência a constituição de um saber propriamente comunicacional. Se for verdade que "o campo da comunicação se encontra em formação", e que a afirmação não é apenas um álibi fácil para ausência de rigor e dispersão conceitual é preciso refletir sobre o que é necessário para avançarmos na constituição deste saber. Muito desta dispersão, a nosso ver ocorre, quando deixamos de perseguir o que seriam os objetivos do campo, ou até mesmo seus próprios objetos de investigação, dispersando-se a cada diferente momento a uma corrente teórica, sendo então “conduzidos” pelo momento presente, onde os objetos são constantemente alterados e as pesquisas quase nunca alcançam estágios de “conclusão”. Dentro desta perspectiva de dispersão teórica. Sodré aponta para o fato que “exceto no interior de pequenos grupos, os teóricos da comunicação aparentemente nem concordam nem discordam sobre muita coisa” (CRAIG apud SODRÉ, 1999, p.119).
O que Sodré evidencia, é que os estudos de comunicação estão dispersos entre o mercado e a própria legitimação do campo, impedindo assim que uma episteme se configure. Martino (2014), distintamente, verifica que há entraves que dificultam a constituição do saber propriamente comunicacional:
Embora seja temerário reduzir a complexidade da obra de um autor a rótulos derivados de espaços de disciplinarização dos saberes, pode-se, apenas a título de referência, observar a pluralidade de origem dos discursos apropriados na discussão epistemológica da Comunicação. Há, assim, autores vinculados à Filosofia (Habermas, Adorno, Foucault, Deleuze, Latour, Peirce, Baudrillard, Debord), à Sociologia (Adorno, Bourdieu, Bauman, Goffman, Giddens, Luhmann), à Semiótica (Peirce, Lotman, Santaella, Greimas), à Psicologia e Psicanálise (Bateson, Magno), aos Estudos Culturais (Hall, Thompson, Williams) e à Teoria da Mídia (Flusser, McLuhan). Alguns questionamentos podem ser levantados a partir desse indicador. Na medida em que uma parcela considerável das referências utilizadas para a interlocução epistemológica da Comunicação é oriunda de outras áreas, em que medida se está trabalhando com um objeto propriamente comunicacional? (MARTINO, 2014, p.164)
Para a constituição do campo, assumimos que é importante manter a diversidade, mas devendo-se trabalhar contra a dispersão, de maneira que a redução desta não corresponda à redução da diversidade. Desta forma, tanto as dificuldades de pesquisas cunhadas por financiamentos mercadológicos, quanto à dispersão de autores e consequentemente de pesquisas (objetos) colocam a comunicação em processo de dependência, limitações e ausência de autonomia. Em suma, a multiplicidade de pesquisas e objetos dificulta a efetivação da comunicação enquanto conhecimento.
Bibliografia
BACHELARD, G. Epistemologia. Lisboa: Edições 70, 2001.
BOURDIEU, P. Esboços de autoanálise. São Paulo: Ed. Schwarz, 2004, 140 p.
BRAGA, J. L. Constituição do campo da comunicação. In: FAUSTO NETO, A; CRAIG, R. T. Communication Theory as a Field. Communication Theory; 9(2): 119-161. 1999.
JAPIASSU, H. Introdução ao pensamento epistemológico. 2. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.
LUZ, M. Natural, racional, social: razão médica e racionalidade científica moderna. Rio de Janeiro: Campus, 1988.
MARTINO, L. C. Interdisciplinaridade e objeto de estudo da comunicação. Petrópolis: Vozes, 2001.
MARCONDES FILHO, Ciro. Cenários do novo mundo. São Paulo, ed. NTC, 1997. QUIROGA, T. Pensando a episteme comunicacional. 2 ed. Campina Grande: EDUEPB, 2013. SODRÉ, Muniz. Comunicação: um campo em apuros teóricos. Revista Matrizes, Ano 5 – nº 2 jan./jun. 2012 - São Paulo - Brasil –p. 11-27.